'O Brics pode se tornar uma mera plataforma de países emergentes dentro de uma ONU reformulada ou pode criar um novo mundo, isolando o Ocidente e a ONU', avalia
Jornalista, consultor geopolítico e pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, Lucas Leiroz afirma que a expansão do Brics - bloco político e econômico formado por África do Sul, Brasil, Rússia, Índia, China, Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã - fará bem ao grupo: "sem dúvidas, em meio ao atual contexto de transição geopolítica e multipolarização da ordem global, os Brics têm um potencial real de atuar como instituição chave no processo-decisório internacional, elevando significativamente o poder de decisão das nações emergentes e diminuindo a influência do chamado 'Norte Global'".
Em artigo publicado no Strategic Culture Foundation neste sábado (2), Leiroz argumenta que, a depender do comportamento da Organização das Nações Unidas (ONU) daqui em diante e da expansão do Brics, o bloco poderá se tornar o representante mundial do chamado 'Sul global' frente à ONU "sequestrada" pelo imperialismo. "Parece cada vez mais claro que a ONU está 'sequestrada' pelo Ocidente, com seu poder de decisão diminuído pela pressão constante das potências ocidentais. Uma evidência disso é o fato de a ONU estar falhando em evitar conflitos. A organização foi criada precisamente com o intuito de evitar uma nova guerra mundial, o que claramente ela não está conseguindo fazer ao ficar inerte diante da agressão de uma coalizão internacional liderada pela Otan contra a Rússia. Um caminho possível para os Brics seria simplesmente estabelecer uma meta de superar a ONU no processo decisório internacional, se transformando em uma espécie de segunda organização global, representando principalmente as nações Emergentes, enquanto a ONU continuaria refém dos Estados liberais – possivelmente isolada, criando uma nova polarização internacional. Contudo, este não é o objetivo dos Brics agora. Os países membros do bloco não querem estabelecer uma ordem mundial dividida".
Segundo o especialista, os próximos passos da ONU e do Brics decidirão o futuro das duas instâncias internacionais. "dependerá da ONU dar o passo decisivo entre se livrar da pressão ocidental e cooperar com a realidade multipolar, ou simplesmente perder de uma vez por todas sua relevância diante da burocratização e formalização dos Brics como uma 'nova ONU', com sua própria estrutura interna, normas, órgãos específicos e poder coercitivo. O futuro da ONU depende dos Brics, assim como o futuro dos Brics depende das decisões que serão tomadas pela ONU. Os Brics podem se tornar uma mera plataforma de países emergentes dentro de uma ONU reformulada e multipolar; ou os Brics podem simplesmente criar um 'novo mundo', isolando o Ocidente e a ONU sequestrada. Resta saber como isso tudo de desenvolverá".
Fonte: Brasil 247
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