Segundo relatórios do Serviço Nacional de
Informações (SNI), o movimento negro buscava semear o antagonismo racial,
manchar a imagem do país no exterior e ameaçava a ordem social
Durante o período de
regime militar que assolou o Brasil por mais de duas décadas, o Serviço
Nacional de Informações (SNI), que operou como um aparato poderoso de
espionagem, monitorava de perto os movimentos sociais, políticos e culturais do
país. Recentemente, documentos analisados pela Folha de S.
Paulo revelaram que entre os alvos dessa vigilância estavam os
movimentos negros organizados. O ativismo negro, que ressurgia com força
naquele período, representava uma ameaça à ideologia racial propagada pelo
regime. Enquanto os militares vendiam a imagem do Brasil como um país
harmonioso, onde todos conviviam pacificamente em uma democracia racial, o
ativismo negro era encarado como um desafio a essa narrativa oficial.
Os documentos do SNI demonstram que os militares viam o
movimento negro como discriminatório e potencialmente perigoso para a ordem
social estabelecida. Sob o pretexto de combater a "luta racial", os
agentes da repressão monitoravam de perto ativistas e intelectuais negros, como
a renomada historiadora Beatriz Nascimento.
Além disso, havia uma preocupação constante de que o ativismo
negro brasileiro estivesse sendo influenciado por movimentos semelhantes nos
Estados Unidos e por organizações de inspiração comunista. "Vários são os
dados mostrando que elementos de formação marxista estão, por intermédio da
exploração do problema, incitando a luta de classes e fazendo apologia do
regime socialista", diz um dos documentos produzidos pelo SNI.
Os relatórios do SNI sugeriam uma conexão entre o
movimento negro brasileiro e uma suposta campanha difamatória contra o país,
promovida por ativistas dos Estados Unidos. O relacionamento entre os ativistas
brasileiros e os movimentos de independência na África também era objeto de
vigilância por parte dos militares, especialmente em um contexto de luta contra
o apartheid na África do Sul.
As reportagens na imprensa que abordavam
questões raciais pareciam incomodar profundamente os agentes do SNI, que viam
nelas uma potencial ameaça à estabilidade social, "estimulando o
surgimento de uma dicotomia racial no Brasil". O monitoramento da mídia,
incluindo programas de televisão como o Fantástico, da TV Globo, era parte
integrante das operações de inteligência do regime.
Fonte: Brasil 247 com informações da
Folha de S. Paulo
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