sexta-feira, 1 de março de 2024

Ministros das Finanças do G20 não chegam a comunicado conjunto e Brasil divulga resumo

 Apesar da falta do comunicado, o ministro Fernando Haddad afirmou que o resultado da trilha financeira foi consensual, "um sucesso", enfatizando que "todos saíram aplaudindo"

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fala durante encontro do G20 em São PauloMinistro da Fazenda, Fernando Haddad, fala durante encontro do G20 em São Paulo (Foto: REUTERS/Carla Carniel)

SÃO PAULO (Reuters) - Os líderes financeiros dos principais países do G20 não conseguiram chegar a um consenso em torno de um comunicado conjunto, em meio a profundas divisões sobre como abordar conflitos geopolíticos, e coube ao Brasil divulgar um resumo ao final das conversas nesta quinta-feira.

Os líderes financeiros dos principais países do G20 passaram o dia discutindo como descrever as guerras na Ucrânia e em Gaza em um comunicado conjunto, com a Rússia e a maioria das nações ocidentais em desacordo sobre a linguagem, disseram duas fontes do G20 à Reuters.

Os debates sobre os conflitos tomaram parte da atenção das delegações enquanto o Brasil tentava manter o foco das discussões em sua agenda prioritária na presidência do G20, que inclui a redução de desigualdades e a criação de um sistema de tributação internacional que cobre mais de super-ricos.

Em entrevista à imprensa após o fim da reunião, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que a falta de consenso na área geopolítica, que chegou a se concentrar em "uma palavra" do comunicado, tenha comprometido o debate financeiro. "Queríamos que temas de geopolítica fossem debatidos exclusivamente na trilha diplomática ... mas como não se chegou na reunião da semana passada no Rio de Janeiro a uma redação comum, isso acabou contaminando o estabelecimento do consenso na nossa", disse.

O ministro afirmou que o resultado da trilha financeira foi consensual, "um sucesso", enfatizando que "todos saíram aplaudindo o resultado". Segundo ele, o Brasil trabalhará para ampliar consensos nas próximas reuniões do grupo.

O G7, grupo dos países ocidentais mais industrializados mais o Japão, estava apoiando a ideia de se referir à guerra "contra" a Ucrânia, enquanto a Rússia queria descrevê-la como a guerra "na" Ucrânia, disseram as duas fontes, uma das quais é da delegação brasileira.

Os países do G7 também apoiavam a linguagem que descrevia a guerra em Gaza como uma "crise humanitária", sem menção a Israel, disseram as fontes.

O Japão disse a seus pares do G20 na quarta-feira que condena o ato de terrorismo do Hamas e que está profundamente preocupado com a crise humanitária em Gaza, disse aos repórteres o vice-ministro das Finanças para assuntos internacionais, Masato Kanda.

As autoridades brasileiras anfitriãs do evento tentaram concentrar as conversas na cooperação econômica para lidar com questões como mudança climática e pobreza, mas países como a Alemanha pressionaram por uma declaração conjunta que mencionasse as guerras na Ucrânia e em Gaza.

O ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, insistiu que não poderia haver negócios como de costume, pois havia uma guerra contra a Ucrânia, o "terror" do Hamas e uma situação humanitária em Gaza.

"Tudo isso não pode nos deixar indiferentes, tudo isso deve ser discutido aqui", disse ele aos repórteres.

APOIO À AGENDA SOBRE DESIGUALDADE - Embora essas tensões tenham pairado sobre a reunião em São Paulo, Achim Steiner, chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), considerou o início da presidência do Brasil este ano como um sucesso, uma vez que a única contenda do segundo dia de conversações sobre a vertente financeira foi "por causa de algumas palavras" numa declaração conjunta.

"O Brasil estabeleceu prioridades claras, por exemplo, com a sua proposta fiscal", disse Steiner à Reuters nesta quinta-feira.

Como parte dos esforços para combater a desigualdade, o Brasil propôs debates sobre um imposto global mínimo sobre a riqueza que garantiria o aumento das contribuições tributárias dos super-ricos. "Mesmo com taxas de imposto ligeiramente mais elevadas para os cerca de 2.500 bilionários de todo o mundo, poderiam ser geradas receitas adicionais muito consideráveis", afirmou.

A presidência brasileira do G20 também tem como objetivo elaborar uma declaração sobre tributação internacional até a reunião de julho do grupo, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta quinta-feira, reiterando um pedido de soluções para garantir o aumento das contribuições tributárias dos super-ricos.

Diagnosticado com Covid-19 no início desta semana, Haddad decidiu participar presencialmente do último dia de reuniões após realizar dois testes de Covid com resultado negativo. Na quarta-feira, primeiro dia do encontro, a participação do ministro havia sido virtual.

Ele já havia anunciado na quarta que o Brasil proporia debates sobre um imposto global mínimo sobre a riqueza, potencialmente adicionando outra dimensão à cooperação tributária internacional.

O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, manifestou o seu apoio na quarta-feira a um imposto mínimo global sobre os super-ricos do mundo.

O representante do Japão, Kanda, que está participando nas conversações do G20 em nome do ministro das Finanças do país, disse que o grupo apoiou amplamente a proposta do Brasil de destacar as medidas para combater a desigualdade como a agenda principal deste ano.

Fonte: Brasil 247 com Reuters

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