"É fundamental avançar rapidamente na criação de um Estado Palestino e reconhecê-lo como membro pleno da ONU", disse o presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que nesta quarta-feira (6) se reuniu com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, defendeu a necessidade de uma solução de dois Estados para a pôr fim ao genocídio do povo palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza. “O direito de defesa transformado em direito de vingança constitui, na prática, punição coletiva que mata indiscriminadamente mulheres e crianças”, disse Lula.
“É fundamental avançar rapidamente na criação de um Estado Palestino e reconhecê-lo como membro pleno da ONU, um Estado que seja economicamente viável e que possa conviver em paz com Israel”, destacou Lula após o encontro.
Ainda segundo ele, “a paralisia do Conselho de Segurança frente a guerra na Ucrânia e em Gaza é prova cabal da necessidade de reformas urgentes no sistema de governança global para torná-lo mais representativo, legítimo e eficaz”, ressaltou.
O presidente também disse que “há grande convergência no Sul Global em torno da necessidade de reforma das organizações internacionais. Há desejo unânime por um mundo de paz e prosperidade. A obra ‘Guernica’, do genial Pablo Picasso, sintetiza a indignação com o horror e a destruição causados por todas as guerras e conflitos e deve servir de inspiração para a comunidade internacional”.
Leia a íntegra do discurso de Lula.
“É motivo de grande alegria receber o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, e retribuir a calorosa acolhida que ele nos ofereceu na visita a Madri, em abril do ano passado.
Hoje, pudemos comprovar mais uma vez a grande afinidade entre os nossos governos.
Espanha e Brasil são duas grandes democracias que enfrentam o extremismo, a negação da política e o discurso de ódio, alimentados por notícias falsas.
Nossa experiência no enfrentamento da extrema direita, que atua coordenada internacionalmente, nos ensina que é preciso unir todos os democratas.
Não se pode transigir com o totalitarismo nem se deixar paralisar pela perplexidade e pela incerteza ante a essas ameaças.
A defesa da democracia está inevitavelmente ligada à luta contra todas as formas de exclusão.
Brasil e Espanha têm registrado episódios de racismo, de discriminação racial e de xenofobia, inclusive na área de esportes de grande público.
Só um projeto social inclusivo nos permitirá erigir sociedades prósperas, livres, democráticas e soberanas.
Na reunião de hoje decidimos seguir avançando nesse caminho com medidas muito concretas.
A Espanha é o segundo país de origem de investimento direto estrangeiro no Brasil, com empresas consolidadas e estoque de cerca de 60 bilhões de dólares.
Apresentei ao Presidente Sánchez e aos empresários que o acompanham as oportunidades que se abrem nas áreas de infraestrutura e sustentabilidade com o novo Programa de Aceleração do Crescimento e com o Programa de Neoindustrialização.
Nossos países avançam a passos largos na área de energias renováveis, um campo de cooperação que muito nos interessa.
O potencial do Brasil é ilimitado para a geração de eletricidade a partir de fontes limpas como biocombustíveis, eólicas, solar e hidrogênio verde.
No ano passado, a economia brasileira cresceu 2,9%, acima das projeções do FMI. Esse resultado traz confiança de que o Brasil é uma opção segura para os investidores.
Os atuais 12 bilhões de dólares de intercâmbio comercial são um exemplo disso. Vamos continuar buscando incrementar e diversificar nossas trocas.
Queremos tornar a indústria brasileira mais competitiva, com o apoio da inovação, da cooperação público-privada e do acesso a financiamentos com custos adequados.
Mas a competitividade que almejamos não pode resultar da redução da renda das famílias, da diminuição do emprego formal, da restrição às liberdades dos trabalhadores ou do desmonte das políticas sociais.
A experiência da Espanha foi uma inspiração para o projeto de lei que regula o trabalho por aplicativos de transporte, que vai beneficiar 1,5 milhão de trabalhadores do Brasil.
Expus ao presidente Sánchez a Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras, que o presidente Biden e eu lançamos no ano passado, à margem da Assembleia Geral da ONU.
Concordamos com a urgência de promover um debate abrangente em torno da governança da inteligência artificial, a fim de minimizar riscos e distribuir benefícios equitativamente a todos os países.
É igualmente importante buscar soluções comuns para o enfrentamento à desinformação que corrói o tecido social e atinge pilares centrais de nossas democracias.
Também temos grande convergência em matéria de enfrentamento à mudança do clima.
O Brasil voltou a ser protagonista nessa área e sediará em Belém a COP-30, em 2025, para que as pessoas conheçam a Amazônia e o nosso compromisso em cuidar bem da floresta e dos povos da floresta.
Reiterei ao presidente Sánchez a determinação do meu governo com desmatamento zero até 2030.
A mudança do clima tem intensificado os episódios de estiagem severa em todo o mundo. Por isso o Brasil se somou, hoje, à Aliança Internacional para a Resiliência à Seca, criada por Espanha e Senegal em 2022.
Reiterei a importância conferida pela presidência brasileira do G20 à redução de todas as formas de desigualdade – essa mazela que ainda aflige muitos milhões da nossa humanidade.
É nesse contexto que se insere a proposta de tributação internacional justa e progressiva que o Brasil defende no G20. Já passou da hora dos super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos.
Destaquei, ainda, o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e transmiti ao presidente Sánchez a preocupação do Brasil com o endividamento que sufoca os países em desenvolvimento.
Essa é a constatação que retiro da minha recente passagem pelas Cúpulas da União Africana, da CARICOM e da CELAC.
Há grande convergência no Sul Global em torno da necessidade de reforma das organizações internacionais.
Há desejo unânime por um mundo de paz e prosperidade.
A obra “Guernica”, do genial Pablo Picasso, sintetiza a indignação com o horror e a destruição causados por todas as guerras e conflitos e deve servir de inspiração para a comunidade internacional.
A paralisia do Conselho de Segurança frente a guerra na Ucrânia e em Gaza é prova cabal da necessidade de reformas urgentes no sistema de governança global para torná-lo mais representativo, legítimo e eficaz.
O direito de defesa transformado em direito de vingança constitui, na prática, punição coletiva que mata indiscriminadamente mulheres e crianças.
É fundamental avançar rapidamente na criação de um Estado Palestino e reconhecê-lo como membro pleno da ONU, um Estado que seja economicamente viável e que possa conviver em paz com Israel.
Brasil e Espanha possuem longa história de amizade e cooperação. O presidente Pedro Sánchez e eu estamos comprometidos em avançar nossa parceria estratégica tanto na vertente bilateral como na multilateral, sem nos omitir diante dos desafios de nosso tempo.
Muito obrigado”.
Fonte: Brasil 247
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