Pesquisadores dos EUA mostram que organizar a ordem do consumo dos alimentos é uma boa estratégia para ajudar a equilibrar os níveis de glicose no sangue
Por Thais Szegö, da Agência Einstein - Um estudo feito
nos Estados Unidos mostra que, na hora da refeição, é importante organizar a
ordem do consumo dos macronutrientes, responsáveis em fornecer energia ao
organismo, como carboidratos, proteínas e gorduras. Segundo os pesquisadores,
essa é uma boa estratégia para ajudar a equilibrar os níveis de glicose no
sangue. Uma forma de começar as refeições é comer primeiro as proteínas e/ou os
vegetais, pois assim gera-se um pico de glicose menor do que quem começa a
comer primeiro os carboidratos.
De acordo com estimativa da Sociedade Brasileira de
Diabetes, mais de 35 milhões de brasileiros convivem com o pré-diabetes, o
estágio que precede a doença em si. Além disso, essa é a única etapa em que é
possível reverter o quadro, evitando que ele evolua para diabetes, o que
acontece com aproximadamente 25% dessas pessoas no período de três a cinco
anos. As recomendações para tratar o problema são focadas nas mudanças de
hábitos, com a prática de atividades físicas e a redução do consumo de
alimentos ricos em sal, gorduras, açúcar e carboidratos, em especial os que
levam farinha branca, optando sempre pelos integrais.
Agora o estudo feito por pesquisadores da Universidade de
Columbia, da Weill Cornell Graduate School of Medical Sciences e da
Universidade Rockefeller, todas em Nova York, EUA, mostra que ordenar
corretamente o consumo dos alimentos também surte efeito na saúde. No trabalho,
os voluntários foram divididos em três grupos: os que comeram primeiro os
carboidratos e partiram para as proteínas e os vegetais, os que iniciavam pelas
proteínas e vegetais e no final comeram os carboidratos e um
terceiro grupo, que primeiro ingeriu os vegetais, seguidos pelas proteínas e
pelos carboidratos.
O próximo passo foi analisar, várias vezes em um período
de até três horas após o consumo, as taxas de glicose e insulina no sangue dos
participantes. O experimento foi repetido durante três dias alternados e em
todos eles os voluntários estavam em jejum de 12 horas. Os participantes, com
pré-diabetes e taxas de glicemia em jejum similares durante o período das
análises, foram escolhidos para fazer parte de cada um dos grupos em cada
rodada de maneira aleatória.
Os resultados apontaram que os que começaram a se alimentar
pelas proteínas ou pelos vegetais tiveram seu pico de glicose entre 30 e 40%
menor, em comparação com os que ingeriram primeiro os carboidratos. Além disso,
o grupo que iniciou pelos vegetais foi o que menos precisou do uso de insulina
para metabolizar a glicose obtida através da comida. Os pesquisadores acreditam
que isso se deu porque a gordura das proteínas e as fibras dos vegetais
retardaram a velocidade da absorção da glicose dos alimentos.
“A digestão começa pela boca, mas o único nutriente que
tem esse processo iniciado nessa parte do corpo é o carboidrato, que depois
passa para o estômago e, em seguida, para o intestino, o que faz com que ele
esteja disponível para a absorção mais rápido do que as proteínas e gorduras,
que começam a ser digeridas quando estão no trato gastrointestinal”, explica
Valéria Machado, nutricionista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Se a pessoa ingere uma fonte de proteína ou gordura antes, o
carboidrato que chega logo em seguida não terá o caminho livre para ser
absorvido prontamente, retardando sua entrada no sangue”, acrescenta a
nutricionista Anna Gomes, educadora em diabetes pela Sociedade Brasileira de
Diabetes e International Diabetes Federation. Ela explica ainda que as fibras
solúveis provenientes dos vegetais são capazes de formar um gel no trato
gastrointestinal que também deixa a absorção dos carboidratos mais lenta.
Esse efeito é muito importante no caso dos pré-diabéticos,
já que eles têm dificuldade para processar a glicose. “Isso acontece porque o
seu organismo pode não ser capaz de produzir a quantidade de insulina
suficiente ou essa insulina pode não ser tão eficiente”, diz Adriana
Martins Fernandes, endocrinologista do Programa de Diabetes do Hospital
Israelita Albert Einstein.
“A insulina é o hormônio que permite a
entrada do açúcar nas células, onde ele será usado como uma fonte de energia.
Nesse cenário, a glicose não é adequadamente metabolizada, resultando em picos
glicêmicos no sangue”, complementa a endocrinologista. Se não for combatido
adequadamente, em longo prazo esse quadro tende a desencadear o diabetes, além
de problemas como Acidente Vascular Cerebral (AVC), doenças cardiovasculares,
males renais, retinopatia (a enfermidade que afeta os pequenos vasos da retina)
e neuropatia (quadro que compromete os nervos, prejudicando a comunicação entre
o cérebro e os membros).
Fonte: Brasil 247 com Agência Einstein
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