Presidente Lula comparou o genocídio do povo palestino promovido por Israel ao Holocausto e despertou a ira do governo de Benjamin Netanyahu e seus apoiadores
"Essa é uma não crise", afirma o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Lopes sobre as hostilidades do governo de Israel contra o presidente Lula (PT), que comparou o genocídio do povo palestino cometido pelas forças israelenses ao Holocausto. Desde então, Lula foi declarado 'persona non grata' no país, teve que chamar o embaixador brasileiro em Tel Aviv de volta a Brasília e passou a ser atacado nas redes sociais pelos perfis de membros do governo Benjamin Netanyahu.
Segundo disse Lopes ao The Intercept Brasil, "Essa é uma não crise. Embora se tenha essa impressão quando se liga a televisão no Brasil e você é bombardeado por vários aspectos – pouca factualidade, mas muita análise moral e histórica. Mas esse não é um tema internacional de qualquer relevância e o que está acontecendo com essa chamada dos diplomatas, isso é o beabá da diplomacia. Acontece o tempo todo em todos os lugares".
Para o professor, a histeria da imprensa corporativa com o ocorrido tem duas razões: a intenção deliberada de atacar o governo e o lobby judeu no Brasil. "A grande imprensa brasileira, a imprensa liberal e hegemônica, acaba tendo uma postura hoje muito de oposição política muito entrincheirada e que utiliza essa política exterior, temas internacionais para questionar o governo e contestar as orientações desse governo. Acho que essa é uma razão importante".
"A outra razão importante é que estamos falando de um grupo de interesse, a comunidade judaica organizada no Brasil, os judeus no Brasil são cerca de 150 mil, mas que conseguem se organizar e fazer pressão, tem um lobby muito bem organizado por meio de organizações ostensivamente voltadas para busca dos interesses de Israel. Estou falando de Instituto Brasil Israel, Conib, StandWithUs. Existe uma organização da busca por interesses desses grupos por pressão que ajuda a explicar porque foi feito tanto barulho. São atores poderosos com boas alavancas de poder que conseguiram pautar e imprimir um viés muito claro nessa discussão", explicou.
Para ele, as críticas de Lula podem até não mudar a tragédia humanitária na Faixa de Gaza, mas colocam o mandatário brasileiro como líder do sul global. "Não vejo a fala de Lula como algo que irá mudar o jogo. Mas o Lula conseguirá se projetar a partir desse momento como talvez a principal liderança do sul global. Ao lado de Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, o Lula é quem tem as melhores condições de vocalizar as pautas desse grande consórcio de países, uns 130 ou 140 países no mundo, a que se convencionou chamar de sul global. Estou falando de América Latina e Caribe, África, Ásia, Oceania e Pacífico Sul. Esses países encontram numa personalidade como o Lula uma representação forte. E a fala dele, da forma estridente como foi, chegou a muitos lugares, isso é inegável. O que vem na sequência é uma incógnita, mas não tenho dúvida de que o Lula levou em conta esse alcance da sua voz, e essa possibilidade de se tornar um guardião dos interesses do sul do planeta quando construiu de forma retórica a comparação do que acontece agora em Gaza com o Holocausto na Segunda Guerra Mundial".
Fonte: Brasil 247 com The Intercept Brasil
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