O documento acrescentou que o Copom avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para lidar com o processo desinflacionário
BRASÍLIA
(Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira fazer uma nova
redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, e encurtou sua
indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando
que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião,
em maio.
O comunicado do Comitê de Política Monetária
(Copom) ainda apresentou uma visão mais dura, segundo analistas, no ponto em
que afirma que as medidas de inflação subjacente, que descartam itens com
preços mais voláteis, passaram a se situar recentemente acima da meta de
inflação.
"Em função da elevação da incerteza e da
consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política
monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que
anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na
próxima reunião", informou o Copom no comunicado.
O documento acrescentou que o Copom avalia que
essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista
necessária para lidar com o processo desinflacionário.
Desde agosto, quando o BC deu início a uma
sequência de cortes sucessivos de 0,5 ponto percentual na Selic, a autarquia
vinha indicando em seus comunicados que antevia reduções equivalentes “nas
próximas reuniões”, no plural, em se confirmando o cenário esperado. Agora, o
BC optou pelo singular.
Alguns economistas já vinham defendendo uma
flexibilização dessa orientação para dar mais liberdade à condução da política
monetária.
Apesar da mudança na indicação futura, o
comunicado enfatizou que o cenário-base da autarquia não se alterou
substancialmente, apesar de ter citado um aumento nas incertezas globais.
"O Comitê avalia que as conjunturas
doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da
política monetária", afirmou.
A decisão do BC desta quarta veio em linha com
as expectativas de mercado, conforme pesquisa da Reuters na qual todos os 47
economistas ouvidos apostavam em uma redução de 0,50 ponto na Selic.
O maior ponto de atenção do mercado estava
precisamente na indicação do BC sobre o chamado “forward guidance”, a indicação
sobre passos seguintes da política monetária.
Esta foi a sexta redução consecutiva na taxa
básica de juros depois que o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário em
agosto de 2023. Desde o início da flexibilização, o Copom cortou três pontos
percentuais na Selic.
Com a nova redução de 0,50 ponto, decidida por
unanimidade, o Banco Central leva a taxa básica de juros ao menor nível em dois
anos, com o patamar se igualando aos 10,75% vigentes em março de 2022.
INFLAÇÃO
SUBJACENTE ACIMA DA META
No comunicado, o Copom apresentou uma visão mais
negativa especificamente ao tratar das medidas de inflação subjacente, que
desconsideram itens mais voláteis. Depois da afirmar em janeiro que as medidas
de inflação subjacente se aproximavam da meta para a inflação, o BC disse agora
que elas “se situaram acima” da meta nas divulgações recentes.
Mesmo com a nova avaliação, o BC deixou
inalteradas suas projeções para o comportamento dos preços em relação à reunião
de janeiro. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência,
a estimativa para a inflação segue em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025.
O economista João Savignon, head de pesquisa
macroeconômica da Kínitro Capital, observou uma mensagem mais dura do BC em
relação ao cenário inflacionário, acrescentando que a mudança de tom foi mais
forte que a esperada.
Para o economista da ASA Investments Leonardo
Costa, ao reconhecer as inflações subjacentes rodando acima da meta e citar o
aumento de incertezas, o BC trouxe um comunicado “hawkish” (com tom duro).
“Seguimos com a aposta de continuidade do ciclo
com cortes de 0,50%, com taxa terminal de 8,5%. Vamos esperar a ata para fazer
eventuais alterações, mas o risco hoje está para uma terminal mais elevada que
a nossa projeção atual, disse.
A economista chefe da SulAmerica Investimentos,
Natalie Victal, avaliou que as menções à incerteza e à inflação subjecente
sinalizam uma transição do BC para uma maior dependência dos dados para tomar
suas decisões a partir de junho.
"Nos parece um BC cauteloso, dado o
comportamento recente da inflação, e que não quis continuar a se comprometer
para horizontes mais longos. Ou seja, hawk", afirmou.
Ainda com efeito incerto de medidas
arrecadatórias aprovadas no ano passado pelo Congresso e sem desfecho para o
impasse envolvendo a desoneração da folha de setores da economia, o BC
reafirmou a importância da “firme persecução” das metas fiscais estabelecidas
para ancorar expectativas e apoiar a condução da política monetária.
Mais cedo nesta quarta, o Federal Reserve
manteve a taxa de juros nos Estados Unidos inalterada, mas os formuladores de
política monetária indicaram que ainda esperam reduzi-la em 0,75 ponto
percentual até o final de 2024, apesar do progresso mais difícil do que o
esperado em direção à meta de inflação.
Fonte: Brasil 247
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