Manter a caderneta em dia é uma forma de se proteger e evitar que novos surtos de doenças ocorram; especialistas alertam que a vacinação é um pacto de saúde coletivo
Por Alex Lima*, da Agência Einstein - O início do ano costuma ser o período preferido das pessoas para colocar as consultas e os exames em dia. Os médicos alertam que, além de visitas recorrentes aos especialistas, é preciso um cuidado extra com a família: checar se as cadernetas de vacinação de todos também estão atualizadas.
A pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Mônica Levi, explica que é importante seguir o calendário vacinal, organizado por faixas etárias – desde o recém-nascido até o idoso. Ela diz que respeitar esse planejamento é importante para garantir a própria saúde e a coletiva. “A ideia não é que se vacine para conter surtos, mas ter uma população vacinada para que os surtos não ocorram”, afirma.
Ela ressalta a importância de falarmos sobre a vacinação por causa da baixa cobertura, cada vez mais evidente no Brasil nos últimos anos. O ano de 2015, por exemplo, foi o último a alcançar a taxa de 95% de cobertura vacinal – a meta necessária de pessoas vacinadas para considerar a doença sob controle. Com o baixo índice de imunização, segundo a pediatra, a população fica mais vulnerável às doenças e infecções. A presidente da SBIM orienta checar com frequência a carteira de vacina. “É essencial em todas as idades que haja o controle dos imunizantes aplicados. Um adolescente, por exemplo, pode ter ficado sem tomar alguma vacina na infância ou não ter completado o esquema vacinal com todas as doses. Por isso, é importante fazer a atualização o quanto antes”, diz Levi.
O aumento de casos de dengue e a falta de vacina preocupam
Luís Fernando Aranha Camargo, infectologista e professor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, alerta que é preciso uma atenção especial para as doenças “ocasionais”, como a Covid-19, a gripe e, agora, a dengue.
“É uma epidemia que já se iniciou e terá aumento de casos este ano, mesmo com a vacina a ser disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS). Sendo assim, é essencial que a população se previna, se mantenha atenta a esse novo imunizante (da dengue) e às demais vacinas prescritas no calendário vacinal”, orienta Camargo. No entanto, os especialistas explicam que nem sempre é possível prever as doenças sazonais ou as que oscilem durante o ano. “Em 2019, por exemplo, houve um surto de febre amarela circulando no Sul e no Sudeste do Brasil, principalmente em Minas Gerais. No ano de 2022, tivemos elevados números da doença causada pelo vírus monkeypox”, destaca o infectologista.
Já a presidente da SBIM salienta que, mesmo que a oscilação de doenças infecciosas seja comum, o quadro de baixa cobertura vacinal pode afetar diretamente o grupo de risco: crianças não vacinadas ou com o esquema vacinal incompleto, idosos e pacientes imunodeprimidos. “A gripe para uma pessoa idosa é sempre um risco maior do que para uma pessoa jovem e saudável. Por esse motivo, precisamos enxergar a vacinação como um compromisso social, além do próprio benefício individual”, ressalta Levi.
Os especialistas ouvidos pela Agência Einstein relatam a dificuldade da população em enxergar os perigos de uma doença quando ela não é iminente. O infectologista Camargo traz como exemplo a imunização da vacina bivalente da Covid-19, que começou a ser aplicada em 2023, mas tem apresentado baixos índices – menos de 20% do público-alvo tomou a vacina. Mônica Levi afirma que a baixa aceitação da vacina se dá pelo fato de a gravidade da doença não ser mais tão perceptível como antes. Ainda assim, explica a médica, a Covid-19 é considerada potencialmente grave e pode evoluir para uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A Covid-19 foi responsável por 5.310 casos de SRAG e 135 mortes entre crianças menores de 5 anos no Brasil em 2023, de acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, que reúne dados até novembro.
Segundo a presidente da SBIM, a falta de percepção dos riscos de doenças por parte da população e a desinformação a respeito das vacinas são os maiores desafios para aumentar as taxas de cobertura vacinal. Em contrapartida, ela cita estratégias de “microplanejamento” do Plano Nacional de Imunizações (PNI) que vêm revertendo os baixos índices de vacinação, ao entrar em contato com gestores, população e influenciadores de diferentes regiões do Brasil para procurar a melhor estratégia a ser adotada no local para incentivar a vacinação.
Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou também um aumento na cobertura vacinal de oito vacinas no calendário infantil em 2023, quando comparado ao ano anterior. A taxa da Hepatite A, por exemplo, foi de 73%, em 2022, para 79,5%, em 2023.
A vacinação não deve ser seletiva
A pediatra e presidente da SBIM ressalta que todos os imunizantes previstos no calendário nacional de vacinação têm o mesmo grau de importância e são indicados após estudos, evidências científicas profundas, discussões com especialistas e experiências de planos de imunização de outros países. “Talvez uma doença possua um grau de letalidade maior, ou outra seja mais frequente durante determinado período, mas isso não significa que a vacina de uma doença deva ser considerada mais ou menos importante que outra.” Ela ressalta que a manutenção da carteira de vacina também é um fator importante para quem planeja viajar. “Alguns países exigem dos turistas algumas vacinações específicas e para evitar infecções que estejam em alta em outros lugares do mundo, como no caso de surto de sarampo no continente europeu”, exemplifica a especialista.
* Sob a supervisão de Carolina Dantas
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