Maria de Jesus conversou com o Brasil de Fato CE sobre as conquistas e desafios das escolas do campo
Brasil de Fato - A educação sempre foi uma das áreas prioritárias de atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que desde a sua origem desenvolveu processos educativos e incluiu como prioridade a luta pela universalização do direito à escola pública de qualidade social, da infância à universidade.
As escolas do campo são exemplos dessa luta. Mas você conhece as escolas do campo? Sabe qual a importância desses espaços? Para responder essas e outras perguntas o Brasil de Fato CE conversou com Maria de Jesus, dirigente estadual do MST Ceará, pelo setor de educação. Confira a entrevista a seguir.
Brasil de Fato CE: Gostaria começar pedindo para você falar do conceito do que é a educação do campo e o que a diferencia da educação convencional.
Maria de Jesus: O MST desde o início é formado por famílias, então, desde o nosso primeiro grande acampamento na Encruzilhada Natalino houve uma participação das famílias junto à direção do acampamento para organizar a educação. Lá tinha mais de 600 crianças e essas crianças impulsionaram o início desse trabalho do MST com a educação. Como foi que o movimento organizou a educação? Ele olhou para as experiências da classe trabalhadora. Como foi organizado a educação na Comuna de Paris? Como foi organizada em Cuba? Como foi organizada aqui nos nossos países da América Latina, com a pedagogia do oprimido, de Paulo Freire? A educação popular? Então, a partir daí, o nosso movimento iniciou e nas primeiras escolas nós trabalhamos com os temas geradores, só que em 1997 MST realiza o seu Primeiro Encontro Nacional das Educadoras e Educadores da Reforma Agrária.
E qual era o objetivo deste encontro? Era poder visibilizar, tanto para dentro do MST como para a sociedade a nossa luta pelo direito à educação nos assentamentos e acampamentos e deste encontro, como nós tivemos o apoio da CNBB, do Unicef, da Unesco, houve uma problematização que o MST não deveria limitar esse trabalho só com os assentamentos e acampamentos, que nós também deveríamos buscar uma aliança com outras organizações que também lutavam pelo direito à educação e daí surgiu articulação por uma educação do campo.
É importante dizer que a educação do campo se contrapõe à educação rural, porque, historicamente, vinha sendo ofertado a educação rural. O que é que é a educação rural que ainda em muitos municípios ela prevalece? É aquela educação, vamos dizer, resíduo da educação da cidade, que não considera o território, não considera a história de luta das comunidades, que não considera o conteúdo socialmente útil, e aí vem a nossa luta por um projeto educativo específico. Um projeto com base na formação humana, mas na formação humana que valoriza a história da luta de classes no território, desde o passado ao presente, que valoriza a cultura, que valoriza o trabalho camponês, a agroecologia, que valoriza a organização coletiva, a luta social.
Então a educação do campo é um projeto educativo da classe trabalhadora. Esse projeto é herdeiro da educação forjada nos processos revolucionários da classe trabalhadora no mundo, e ele é um projeto que está em construção, não é um projeto que está concluído, e a nossa é luta é para que ele tenha esse reconhecimento.
É importante dizer que a desigualdade educacional no país, em relação ao campo brasileiro é um clamor, porque, nós ainda temos 23% da população no campo que não sabe ler e escrever, nós temos o problema do fechamento de escola. No Brasil já são mais de 50 mil escolas fechadas no campo. Isso é uma forma de negação do nosso direito à educação. Então a luta por uma educação do campo é uma luta de resistência, é uma luta por um direito à educação pública de qualidade e é uma luta também pelo reconhecimento de uma escola referenciada.
Leia a reportagem completa no Brasil de Fato.
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