quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

"O conflito na Palestina vai muito além do Oriente Médio", diz Lula

 "A decisão sobre a existência de um Estado palestino foi tomada há 75 anos. Não há mais desculpas para impedir o ingresso da Palestina na ONU", defendeu o presidente

Lula e Faixa de Gaza destruída após ataques israelenses (Foto: Ricardo Stuckert/PR | Forças de Defesa de Israel/Divulgação via REUTERS)

O presidente Lula (PT) discursou nesta quinta-feira (15) na sessão do Conselho de Representantes da Liga dos Estados Árabes no Egito e condenou mais uma vez o genocídio do povo palestino promovido por Israel.

Ele voltou a cobrar um cessar-fogo na Faixa de Gaza e criticou a paralisia da Organização das Nações Unidas (ONU) diante do massacre. O presidente afirmou que "o conflito na Palestina vai muito além do Oriente Médio" e defendeu o reconhecimento do Estado palestino e seu ingresso na ONU como membro pleno. 

Leia: é uma satisfação estar de volta à sede da Liga dos Estados Árabes depois de 20 anos. Temos grande orgulho dos laços históricos e culturais que nos unem ao mundo árabe. Reconhecemos e valorizamos a inestimável contribuição ao nosso país e ao progresso da humanidade. O Brasil foi o primeiro país latino-americano a receber o status de observador nesta organização. O compromisso da Liga Árabe com a promoção da estabilidade e do desenvolvimento faz desta organização uma voz a ser ouvida atentamente nas grandes questões do nosso tempo.

As visitas que hoje faço ao Egito e à Liga Árabe se somam às que fiz a Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Catar. Refletem nosso desejo de retomar o diálogo e a cooperação. É imenso o potencial em setores como comércio, investimentos, meio ambiente, ciência e tecnologia, cultura e cooperação para o desenvolvimento. A força da relação entre o Brasil e os países da Liga também se mostra no nosso dinamismo comercial. O aumento do comércio, de 5,4 bilhões de dólares em 2003 para 30 bilhões de dólares em 2023, é motivo de contentamento e otimismo. 

Retorno ao Cairo no contexto da terrível catástrofe humanitária na Faixa de Gaza. O ataque do Hamas de 7 de outubro contra civis israelenses é indefensável e mereceu veemente condenação do Brasil. A reação desproporcional e indiscriminada de Israel é inadmissível e constitui um dos mais trágicos episódios desse longo conflito. As perdas humanas e materiais são irreparáveis. Não podemos banalizar a morte de milhares de civis como mero dano colateral. Em Gaza, há quase 30 mil vítimas fatais, na maioria crianças, idosos e mulheres. 80% da população foi forçada a deixar suas casas. A situação na Cisjordânia, que já era crítica, também está se tornando insustentável. No momento em que o povo palestino mais precisa de apoio, os países ricos decidem cortar a ajuda humanitária à Agência da ONU para os Refugiados da Palestina (UNRWA). As recentes denúncias contra funcionários da agência precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la. Refugiados palestinos na Jordânia, na Síria e no Líbano também ficarão desamparados. É preciso pôr fim a essa desumanidade e covardia. O governo federal fará novo aporte de recursos para a UNRWA. Exortamos todos os países a manter e reforçar suas contribuições. A tarefa mais urgente é estabelecer um cessar-fogo definitivo que permita a prestação de ajuda humanitária sustentável e desimpedida e a imediata e incondicional liberação dos reféns. A persistência do conflito na Palestina vai muito além do Oriente Médio. Propusemos e defendemos resoluções no Conselho de Segurança, cuja Presidência exercemos em outubro. Apoiamos o processo instaurado na Corte Internacional de Justiça pela África do Sul sobre a aplicação da Convenção para a Repressão e Punição do Crime de Genocídio. É urgente parar com a matança. A posição do Brasil é clara. Não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital.  A decisão sobre a existência de um Estado palestino independente foi tomada há 75 anos pelas Nações Unidas. Não há mais desculpas para impedir o ingresso da Palestina na ONU como membro pleno. A retomada das negociações de paz é uma causa universal. E é a nossa causa. Renovo meus votos de paz e prosperidade a todos.

Fonte: Brasil 247

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