O apresentador da Globo, que é judeu, ignorou que o antissemitismo teve origem num movimento organizado no final do século XIX e está associado ao racismo e anticomunismo
O apresentador Luciano Huck tentou dar aula de história em uma postagem sobre ataque a uma comerciante judia em Arraial D'Ajuda, Bahia, e provocou reação negativa na rede. A mulher chama a comerciante de "sionista assassina", mas o título da reportagem da Folha de S. Paulo que Huck usa para fazer a postagem diz "judia assassina". Huck diz que o holocausto começou assim na Europa, e foi desmentido, inclusive por um respeitado grupo de judeus, a Articulação Judaica de Esquerda.
"Na Europa do século 20 começou assim e 6 milhões de judeus foram assassinados. Algo assim no Brasil em pleno século 21 é INACEITÁVEL (escreveu em maiúsculas mesmo, o que na linguagem da internet significa grito). Espero que a justiça aja com rigor. À comerciante agredida, registro meu apoio em qualquer frente, inclusive para minimizar os prejuízos", escreveu o apresentador da Globo.
"Nesta postagem, o apresentador Luciano Huck reproduziu uma versão mirabolante para ascensão do antissemitismo na Europa, sugerindo que havia relação com sionismo e\ou Israel, em vez de racismo e anticomunismo", reagiu a Articulação Judaica de Esquerda, para em seguida explicar como o antissemitismo ganhou força na Alemanha.
"Wilhelm Marr fundou em 1879 aquela que é considerada a primeira Liga Antissemita da Alemanha, logo após seu livro 'A Vitória do Judaísmo sobre o Germanismo', um dos maiores sucessos literários do seu tempo. A obra tratou de uma 'disputa histórica entre a raça alemã e os judeus'", acrescentou o coletivo judaico.
A explicação prosseguiu: "Este livro de Marr, que teve 12 edições apenas no primeiro ano de lançamento, inovou ao apresentar uma teoria que colocava os judeus em conflito não com os cristãos, como havia sido mais comum, mas com os povos germânicos, e desde a antiguidade (1800 anos de conflito)".
"Neste conflito, disse Marr, os judeus saíram vitoriosos, pois, haviam conseguido impor ideias progressistas, como o povo universal, a democracia parlamentar e aberta a todos, a partir da qual se organizaram para tornar 'não-alemães' juízes, governantes, ocupar funções importantes", afirmou ainda.
"A Liga Antissemita de Marr declarou que seu objetivo era reunir todos os homens não-judeus para 'Salvar a pátria alemã da completa judaização e tornar a permanência nela suportável para os descendentes dos habitantes originais'", disse também.
A explicação é longa e bem fundamentada: "Este objetivo deveria ser alcançado 'reprimindo os semitas na sua força numérica' por 'meios estritamente legais'. A expulsão dos judeus de todos os cargos públicos pretendia garantir 'aos filhos dos povos germânicos o pleno direito aos cargos importantes e à dignidade'".
De acordo com o grupo, esse movimento avançou para associar judeus ao comunismo, o que foi determinante para a consolidação do poder de Hitler na Alemanha.
O perfil "Pensar história" na rede X também reagiu à postagem de Huck, que é de família judaica e tem posição política associada à direita no espectro político.
"Não, não começou assim. O antissemitismo era um fenômeno bem mais antigo na Europa. O que ocorreu é que a burguesia europeia, os empresários, os ricaços, resolveram apoiar a extrema-direita para impedir o avanço da esquerda e conter o poder do movimento operário. E aí passaram a financiar e dar apoio irrestrito ao Partido Nazista, mesmo tendo ciência do que eles eram e do que eles pensavam sobre os judeus. A burguesia apoiando extrema-direita, ignorando ou relativizando a ameaça que ela representa, por ter ojeriza à esquerda, é um padrão que se repete", escreveu, acima da imagem de um texto sobre vídeo de Huck em 2018, em que ele diz que o extremista de direita Jair Bolsonaro, se eleito, teria a chance de "ressignificar a política".
Fonte: Brasil 247
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