"Nós, palestinos, morremos todos os dias e ninguém se importa. Ninguém se importa com os crimes de Israel. Estamos condenados", desabafa Yahya Basheer
Em um relato exclusivo feito ao 247 e enviado a Nathalia Urban, o escritor palestino Yahya Basheer conta o que a população da Faixa de Gaza tem sofrido desde o início dos ataques de Israel a seu território em outubro de 2023. Segundo ele, a situação piorou no final do ano passado, quando Israel passou a mirar também a região Sul da Faixa de Gaza. “Desde o fim da trégua no início de dezembro passado, o exército israelense iniciou uma operação militar no sul da Faixa de Gaza, especificamente na província de Khan Yunis e na província de Deir al-Balah. Como vivo em Deir al-Balah, a minha casa e as casas de muitos vizinhos foram sistematicamente bombardeadas como parte de uma política de expulsão e deslocamento imposta pelos sionistas aos moradores das suas áreas de residência. Naquela época, o exército israelense forçou as pessoas a emigrar sob tiros de canhão e bombardeios de aviões".
Ele afirma que Israel bombardeia residências de civis sem qualquer necessidade ou justificativa, e nem escolas são poupadas. Infraestruturas civis essenciais também foram destruídas. "Isto levou ao deslocamento de pessoas para as escolas da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente], na esperança de protegê-las dos bombardeios. Apesar disso, Israel também bombardeou as escolas da UNRWA. Minha casa e as casas de meus vizinhos foram bombardeadas por nenhum outro motivo além do desejo de Israel de nos expulsar e nos punir coletivamente por sermos palestinos. Além disso, aeronaves do exército israelense bombardearam poços de água e painéis solares nas casas, além de bombardearem cabos de comunicação e torres de transmissão sem fio com o objetivo de cortar a rede de comunicações e dispersar as pessoas! Isto levou à interrupção da comunicação entre os cidadãos feridos e as equipes de defesa civil, médica e de primeiros socorros, o que resultou na morte de centenas de cidadãos que morreram nas ruas devido aos seus ferimentos".
"Durante todo o período anterior, do mês de dezembro até agora, no final de janeiro, vivemos uma situação de vida muito, mas muito difícil mesmo. A água potável dificilmente está disponível e mesmo assim não é completamente boa para se beber, igualmente ruim é a água que usamos para as necessidades diárias, como tomar banho, lavar roupa e assim por diante. Até comida, legumes e mantimentos... Israel bombardeou mercados e lojas de suprimentos da UNRWA, ou mesmo aquelas pertencentes a civis foram destruídas!! O que levou ao colapso da situação e, infelizmente, perdemos muitas coisas básicas que ajudam uma pessoa a viver. Não há legumes, não há arroz, não há farinha de trigo, não há absorventes para mulheres ou fraldas para crianças e não há nem papel higiênico...", diz Basheer. "No que diz respeito à eletricidade, há 4 meses que não há electricidade em Gaza, e agora as pessoas dependem de pequenos painéis solares para carregar os seus telefones e iluminar as tendas ou casas onde estão abrigadas".
O escritor afirma que há quatro meses não tem uma fonte de renda e sofre para conseguir suprimentos básicos: "pessoalmente, já faz quatro meses que não tenho uma fonte de renda e não consigo descrever a extensão do que estou sofrendo em termos de custo de comida e bebida ou do que é necessário para sobreviver. Infelizmente, não há nada que eu possa fazer, ou possa trabalhar para conseguir dinheiro, e esse é o caso de centenas de milhares de pessoas. Você pode me perguntar como consegui conexão à Internet. Esta é uma história complicada devido à interrupção das comunicações e dos serviços de Internet, com muita dificuldade consegui acessar à Internet através dos dados telefônicos".
Sobre a ajuda humanitária enviada a conta gotas aos palestinos, ele conta que "eles nos trazem algumas roupas, algumas luvas médicas e muita comida enlatada que nem os animais comeriam!".
Basheer também demonstra indignação com a falta de sensibilidade da comunidade internacional em relação à situação do povo palestino. "Não sei como será a vida mais tarde, mas a única coisa em que acredito é que [nós palestinos] morremos todos os dias e ninguém se importa. Ninguém se importa com os crimes de Israel, com a matança de civis e com os bombardeamentos de casas, ruas e todos os aspectos da vida. Ninguém consegue descrever o quão barata a vida de uma pessoa pode ser. E estamos no ano de 2024! Por que é que o mundo não se preocupa conosco como se importou com a guerra russa e ucraniana, e por que é que o mundo se apressou a abraçar os ucranianos e a hospedá-los nos países do primeiro mundo sem condições e restrições, enquanto estamos sitiados numa grande prisão? Estamos condenados a sermos mortos e a passar fome, e infelizmente até a ajuda que dizem estar entrando em Gaza, não vem...isto é ridículo! Estou mentalmente e fisicamente cansado, além do que consigo descrever".
Fonte: Brasil 247
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