quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Em mensagens a Freire Gomes, Cid falou em pressão do agronegócio para que Bolsonaro desse um golpe

 Em áudios enviados ao então comandante do Exército, mauro Cid relata que setores do agronegócio financiavam atos golpistas e defendiam "medidas mais pesadas"

Jair Bolsonaro e Mauro Cid (Foto: ABr | Agência Senado )

 As conversas do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, reveladas no âmbito da Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8) com o objetivo de apurar a intentona golpista do dia 8 de janeiro do ano passado, apontam que setores do agronegócio pressionaram o então mandatário a adotar “medidas mais pesadas”, sugerindo o uso das Forças Armadas em um golpe de Estado.

 "O presidente vem sendo pressionado aí por vários atores a tomar uma medida mais radical né mas ele ainda 'tá' naquela linha do que foi discutido que foi conversado com os comandantes e com o ministro da defesa", diz Mauro Cid em uma mensagem de áudio enviada ao general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, no dia 9 de dezembro de 2022. 

No áudio, Cid destaca ao militar que "ele (Bolsonaro) entende as consequências do que pode acontecer e hoje ele mexeu naquele decreto, né? Ele reduziu bastante, fez algo muito mais direto. O objetivo é curto e limitado, né? E acho que a ideia de falar com General Theophilo é conversar como ele tá muito preso no Alvorada, então, é uma maneira de ele desabafar e falar um pouco o que ele tá pensando". A fala faz referência ao general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, que foi comandante de Operações Terrestres entre o final de março de 2022 até o final de novembro de 2023. 

Em um outro áudio encaminhado ao general, Cid destaca que a pressão sobre Bolsonaro estaria partindo de parlamentares ligados ao agronegócio. “A pressão que ele recebe é de todo mundo. Ele está...é cara do agro, são alguns deputados, né?", diz Cid. 

Em mais um trecho do despacho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que autorizou a operação desta quinta-feira, é destacado um outro diálogo entre Mauro Cid e Freire Gomes em que ele cita o financiamento das manifestações em Brasília por empresários do "agro". “General! Os líderes, né? Os empresários do agro que estão financiando,  colocando carro de som em Brasília aqui tiveram os bens bloqueados e, e foram chamados para depor”, diz Cid de acordo com a transcrição da conversa. 

Na decisão que autorizou a operação, Moraes menciona que as mensagens enviadas por Cid sinalizam que “Jair Bolsonaro estava redigindo e ajustando o Decreto e já buscando o respaldo do general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira", demonstrando que “atos executórios para um golpe de Estado estavam em andamento".

Nota da Polícia Federal – A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (8/2) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder.

Estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas. Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.

O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.

O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.

O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal.

Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

Fonte: Brasil 247


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