domingo, 4 de fevereiro de 2024

Com proximidade dos 60 anos do golpe de 64, documentos sobre a repressão militar continuam com digitalização paralisada

 Arquivo Nacional enfrenta dificuldades para completar escaneamento de cerca de 13 milhões de páginas arquivadas em estados


Com a proximidade do aniversário de 60 anos do golpe de 1964, o Arquivo Nacional ainda enfrenta dificuldades para a digitalização de documentos antigos sobre a repressão militar. Depois de 13 milhões de páginas federais escaneadas, com destaque para os papéis do SNI, resta um volume semelhante dos Dops nos estados a ser incluído no acervo. E tudo continua parado.


Informações difundidas pela coluna de Lauro Jardim, no Globo, dão conta de que são fichas de perseguidos e presos políticos, bem como relatórios de investigações, que aguardam uma destinação virtual em cada unidade da federação. As “relíquias” mostram como agentes da ditadura estavam infiltrados pelo país: no Espírito Santo, por exemplo, um registro revela o que um “espião” tinha a dizer sobre uma missa com “padres progressistas”.


A maior parte do conteúdo está em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco. Mas, além dos itens pernambucanos, somente Paraná, Goiás e Maranhão já aparecem adequadamente na base de dados, que é disponibilizada on-line. Enquanto não chega à web, o “espólio do Dops” está sob o risco de fungos, umidade e incêndios.


A digitalização está a cargo do Memórias Reveladas, centro criado em 2009 por Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil (presa e torturada pelo regime na década de 1970).

Mas restam na iniciativa apenas três dos nove servidores que já estiveram designados para a tarefa. A responsável por liderar o grupo está de licença médica há seis meses, sem previsão de retorno ao trabalho.


A substituição da chefia já foi solicitada por arquivistas à cúpula do Arquivo Nacional, que está sob o guarda-chuva do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços em Públicos. Enquanto a troca não acontece, não é incomum a sala dedicada ao Memórias Reveladas no prédio do órgão, no Centro do Rio, estar ocupada por apenas um servidor.


Além da digitalização, também está interrompido um prêmio bianual dedicado pelo centro a pesquisadores da ditadura. A última edição aconteceu em 2017.


O malcuidado acervo brasileiro é, mesmo que analogicamente, o maior do tipo na América Latina referente à segunda metade do século XX. O Paraguai, comparativamente, tem cerca de 1 milhão de páginas sobre os 35 anos em que ficou refém do ditador Alfredo Stroessner. Na Argentina, somam no máximo 2 milhões os papéis sobre os 25 anos sequestrados pelo autoritarismo.


Fonte: Agenda do Poder

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