Em registros do quartel-general do Exército, localizado em Brasília, membros das Forças Armadas documentaram o aumento dos protestos pró-Bolsonaro após as eleições de 2022, confrontos e a presença de um canivete e uma arma de choque nas mãos dos manifestantes golpistas nos acampamentos em frente ao QG.
Dois meses antes dos eventos golpistas de 8 de janeiro, os registros já indicavam que carros, barracas e estabelecimentos comerciais estavam causando “desordem” em frente à sede do comando da força terrestre. Os documentos também registraram questões menores, como um vaso sanitário utilizado por militares entupido e a ausência de portas nos boxes dos banheiros.
“Em decorrência da manifestação na Praça dos Cristais [em frente ao quartel], foram observadas diversas barracas, tendas, banheiros químicos e demais estruturas de apoio por toda a área adjacente. Observou-se, ainda, comércio de gêneros alimentícios e vestuários no local. Por fim, existiam diversos veículos estacionados por toda a área verde da região, gerando desordem”, afirma o documento sobre a passagem do dia 7 para 8 de novembro.
Os relatórios também apontaram o aumento da violência entre os manifestantes acampados.
Durante a madrugada de 31 de dezembro de 2022, militares precisaram pedir reforço para conter manifestantes que tentaram parar um veículo e estavam fazendo “provocações”.
A equipe chegou tarde ao local, quando os apoiadores de Bolsonaro já haviam retornado ao acampamento, segundo as anotações feitas pelos militares.
Na madrugada de 9 de janeiro, horas após os ataques golpistas, 13 pessoas entraram no parque desportivo do Comando Militar do Planalto. Elas foram abordadas por um soldado e revistadas por um pelotão de reforço, que encontrou uma “arma elétrica de baixa potência” e um canivete.
Em comunicado, o Exército afirmou que a área invadida é “erma e afastada” da sede da Força, embora esteja a cerca de 1 km de uma das entradas do QG. A força terrestre ainda afirma que o acesso ao local ocorreu por “desorientação dos envolvidos, não tendo sido identificada a caracterização de dolo de invadir e/ou permanecer no local de forma irregular”.
O Exército destacou ainda que “atuou conforme as normas operacionais de controle de distúrbios civis” no dia 8 de janeiro para retomada do Palácio do Planalto. “Todos os fatos daquele dia foram apurados em processos administrativos, inclusive os narrados na demanda, e permanece acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com as investigações em curso”.
As ações dos militares em 8 de janeiro foram alvo de questionamentos dentro do governo. Em 21 de janeiro, o presidente Lula (PT) alterou o comando do Exército em meio à crise de confiança gerada pelos ataques golpistas.
Uma das razões para a desconfiança do governo em relação aos militares foi a resistência para desmantelar o acampamento bolsonarista. Na noite de 8 de janeiro, o Exército montou uma linha de tanques e militares para bloquear a entrada de agentes da Polícia Militar, que haviam recebido ordens para encerrar a concentração golpista em frente ao QG.
Fonte: DCM
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