quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Haddad expôs o PT e os sinais de desaceleração econômica estão só no começo, diz Samuel Braun

 Professor filiado ao PT disse ainda que Haddad "colheu e se fartou da safra que não plantou"

Fernando Haddad (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O professor de políticas públicas Samuel Braun, ligado ao Partido dos Trabalhadores, criticou duramente a entrevista concedida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao jornal O Globo, em que ele critica o Partido dos Trabalhadores por não reconhecer seus méritos nos números da economia. Segundo ele, Haddad expôs o PT e aposta numa política econômica que já aponta sinais de desaceleração econômica. Confira:


Por Samuel Braun, em seu perfil no X – Não é razoável que o ministro da Fazenda, que já foi candidato a presidente pelo partido, vá a um programa da Globo dizer que o PT está dizendo que “tá tudo errado, tem que mudar tudo” no governo Lula.

Não é razoável porque isso jamais foi dito, por qualquer dirigente, parlamentar ou militante. O que Haddad fez foi se valer da Globo pra atacar a nota da Conferência Eleitoral do PT.

Quem não conhece funcionamento de partido, via de regra tem os diretórios municipais, os estaduais, e suas respectivas executivas, e o diretório nacional, sim a executiva nacional. Acima dessas instâncias, uma ainda mais democrática porque participativas, as Convenções e Conferências. Esta última participam geralmente todos os cargos citados, mais membros de setoriais temáticos (mulheres, cultura, lgbt, juventude, sindical, etc).

Pois foi nessa instância, que representa a pluralidade e a abrangência nacional do maior partido de esquerda nacional, que a referida nota foi feita. A maior expressão da democracia interna, calcada sobretudo em fatos concretos.

Ante tal manifestação, o papel de quem pretende ser liderança de destaque do partido, é acolher a orientação e abrir diálogo construtivo. Rever suas escolhas e entender até que ponto todos estão errados, abaixo, do lado e acima, enquanto se acredita estar solitariamente certo. Um gesto de grandeza ao menos para com Lula, que o banca mesmo publicamente discordando.

O post de Lindbergh pincela as razões técnicas que levam a esmagadora maioria dos economistas da esquerda apontarem o erro da política escolhida por Haddad. A nota, o post e todas as manifestações críticas explicitam as causas do sucesso do ano de 2023. Até mesmo o FMI, e economistas com prêmio Nobel e tradição ortodoxa, endossam o diagnóstico. Não bastasse, a turba liberal, que destruiu a economia nos últimos anos com seu receituário, complementa a certeza ao ser os únicos que concordam com a escolha de política fiscal de Haddad.

Parece que o ministro está convencido que precisa atravessar a tormenta e sair do outro lado invicto, bradando ter sido o único que tinha razão. Como capitão da nau econômica, é uma escolha que arrasta a todos, e mesmo que fosse verdade que saísse inteiro neste rumo, vale sacrificar a tripulação pra provar ter razão? Isso não é liderança, é orgulho. O pior é que, ao arremeter o navio contra os icebergs, quando fizer água não será só seu orgulho a ser ferido, mas todos, a começar pelos níveis inferiores do convés.

O ministro colheu e se fartou da safra que não plantou. Orgulhosamente exibe a colheita recorde da PEC da Transição, enquanto joga fora as sementes de déficit de 130 bilhões, regadas a 9% de aumento de gastos, e terraplana o campo pra déficit e gastos zero. Não faz sentido. E a quem critica sua terraplanagem, diz: “cale-se, veja minha colheita”.

Não sou do grupo de Lindbergh no PT. Sou do grupo que Gleisi constrói, e que Haddad usufrui. Recentemente divergi do deputado numa eleição aqui no Rio. Ou seja, não estou fazendo disputa interna com Haddad. Ele é que está lutando contra a realidade e expondo o partido. E os sinais de desaceleração da economia estão só no início. Será esta sua atitude ao bater com os icebergs do rumo que escolheu? Ainda dá tempo de girar o leme e por força total na política econômica que o PT defende.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo


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