Se o cenário externo contribuir, "todos esses indicadores, de PIB, taxa de câmbio, Bolsa de Valores, tendem a romper máximas históricas", diz o doutor em Economia
Doutor em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP e professor da Unifesp, André Roncaglia elogiou, em entrevista a CartaCapital, o primeiro ano do ministro Fernando Haddad (PT) à frente da Fazenda, destacando como sua principal conquista a aprovação da reforma tributária. Ele ainda disse esperar "surpresas em termos de crescimento" em 2024.
"Haddad conseguiu surpreender o mercado positivamente. Eu converso bastante com as pessoas que trabalham na Faria Lima, e a visão dos gestores é de uma grata surpresa. Mas acho que essa surpresa é porque eles previam um cenário de penhasco fiscal, em que o governo sairia gastando de maneira descontrolada e a própria regra fiscal que o governo apresentaria ficaria muito abaixo das expectativas. E não foi o que aconteceu. Haddad, de certa maneira, consegue fazer uma negociação bastante intensa com esse front de aversão ao governo. Isso, evidentemente, vem com concessões. É isso o que ressente parte do Partido dos Trabalhadores, que vê na figura de Haddad, equivocadamente, alguém que não está jogando no campo do presidente Lula. Eu acho que é o contrário", declarou o especialista.
Roncaglia afirmou que Haddad "entendeu a lógica do mercado financeiro" ao fixar uma meta de déficit zero já em 2023, mesmo sendo uma meta "muito difícil de ser cumprida". "O mercado financeiro quer compromisso. Você não precisa necessariamente cumprir, tanto que o mercado financeiro não cobrou de Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central] que atingisse a meta de inflação nos últimos dois anos. Então, a questão é como no discurso o governo se mantém fazendo esforço, tentando controlar o déficit".
Para o economista, a maior conquista de Haddad em 2023 foi conseguir aprovar a reforma tributária junto ao Congresso Nacional. "Não nos esqueçamos de que os ministros que vieram antes dele tentaram fazer reforma tributária e não conseguiram, e isso só ocorre quando realmente investe energia, coloca realmente muita gente para trabalhar para que isso seja aprovado, porque a disputa é muito grande, ainda mais uma reforma que tem tantas dimensões. Nesse sentido, acho que Haddad consegue angariar credibilidade aqui dentro e lá fora, consegue garantir um cenário de estabilidade para o governo, que tem agora o desafio de ser mantido".
Para 2024, Roncaglia disse que o Brasil está muito bem posicionado em relação ao cenário internacional. "O cenário externo para o ano que vem está se desenhando muito positivo. É bem possível que seja essa a nossa salvação no ano que vem, com uma retomada da economia chinesa, acompanhada pela economia norte-americana e um cenário positivo para as nossas exportações, a despeito da estagnação europeia, já com contornos bem fortes". Ele previu possibilidade de recordes nos indicadores positivos no ano que vem e falou em "surpresas" em termos de crescimento. "Se o banco central americano de fato começar a reduzir a taxa de juros em março, como prevê, todos esses indicadores que a gente viu, de PIB, taxa de câmbio, Bolsa de Valores, tendem a romper máximas históricas e atingir novos picos. (...) Vou deixar cravado, não um número, mas certamente uma possibilidade grande de haver surpresas em termos de crescimento, em termos de indicadores econômicos no ano que vem, também. Como disse o presidente Lula, dá muito trabalho ter tanta sorte. Então, vamos ver se ele consegue, se nós conseguimos, como país, reeditar a sorte que aconteceu neste ano. Não será igual, acho que vai desacelerar, por conta da discussão da questão fiscal, que tende a gerar alguma contração no gasto público – isso eu acho absolutamente incontornável. Mas há outras forças que podem vir a amenizar o resultado final e gerar uma surpresa positiva".
Fonte: Brasil 247 com informações da Carta Capital
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