Ao longo do governo Bolsonaro, a Petrobrás distribuiu 6 vezes mais dividendos aos acionistas e reduziu investimentos a um terço da média dos quatro governos anteriores
Por Katherine Rivas, Infomoney - Após ter conquistado o posto de maior pagadora de dividendos do mundo no segundo trimestre de 2022, quando remunerou os seus acionistas com proventos de US$ 9,7 bilhões, a Petrobrás promoveu o maior corte de dividendos global entre abril e junho de 2023.
A petroleira pagou proventos de US$ 3,4 bilhões no segundo trimestre deste ano, um corte de US$ 6,3 bilhões na remuneração dos investidores, equivalente a uma queda anual de 64,87%.
Os dados são da 39ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson. O relatório analisa trimestralmente as 1.200 maiores empresas do mundo por capitalização de mercado, que representam 85% dos dividendos pagos globalmente. A gestora britânica tem cerca de US$ 322 bilhões em ativos sob gestão.
Repetindo o cenário visto no primeiro trimestre deste ano, novamente nenhuma companhia brasileira ocupou um espaço entre as 20 maiores pagadoras de dividendos do mundo, o que Petrobrás e Vale já haviam conseguido em edições anteriores.
Os dividendos das empresas brasileiras listadas no Índice apresentaram uma queda nominal de 44% no segundo trimestre, totalizando US$ 4,3 bilhões. No mesmo período de 2022, os proventos locais somaram US$ 7,7 bilhões.
Em termos subjacentes (desconsiderando os efeitos de dividendos extraordinários, da taxa de câmbio e de outros fatores técnicos), as empresas brasileiras apresentaram um tombo de 53% nas distribuições. Já os dividendos extraordinários das companhias locais apresentaram queda de 3,1% no segundo trimestre.
Além da Petrobrás, também integraram o ranking Banco do Brasil (US$ 274,5 milhões pagos aos acionistas), B3 (US$ 113,2 milhões), Eletrobras (US$ 89,2 milhões) e Bradesco (US$ 53,1 milhões). A Vale não figurou no ranking do segundo trimestre por não ter feito nenhum pagamento de proventos de abril a junho.
Os dividendos brasileiros foram novamente na contramão do mundo. A Janus Henderson destaca que os proventos globais cresceram 4,9%, alcançando um novo recorde de US$ 568,1 bilhões, impulsionados por bancos e fabricantes de veículos. A nível subjacente, a alta foi de 6,3%.
Europa lidera - A nível regional, a Europa teve destaque por conta da sazonalidade de pagamentos – que ocorrem em uma única vez ao ano, concentrados sempre no segundo trimestre. Desconsiderando o Reino Unido, a Europa representou 37% dos dividendos globais.
O pagamento de proventos europeus teve crescimento nominal de 9,7% e subjacente de 10% em relação ao mesmo período em 2022. A Europa teve o crescimento mais acelerado de todas as regiões e registrou um recorde na remuneração de acionistas de US$ 184,5 bilhões. No segundo trimestre de 2022, a região apresentou dividendos de US$ 168,3 bilhões.
Os dividendos bancários, que representaram um quarto dos dividendos europeus, foram o principal impulsionador deste crescimento. Na lista das dez maiores pagadoras de dividendos do mundo figura, por exemplo, o BNP Paribas, banco líder na União Europeia e com destaque internacional. Na Suécia, as instituições financeiras foram responsáveis por dois terços do crescimento anual dos proventos.
Além dos bancos, os fabricantes de veículos também contribuíram com o bom momento da Europa, e foram responsáveis por um oitavo da remuneração dos investidores na região.
Empresas alemãs como Mercedes-Benz e BMW também figuravam entre as dez maiores pagadoras de dividendos do mundo. A BMW se tornou a segunda maior pagadora da Alemanha após mais do que dobrar os seus dividendos pré-pandemia por conta de um forte crescimento dos lucros graças ao aumento dos preços dos veículos.
Ao todo, 86% das empresas europeias mantiveram ou aumentaram os dividendos.
A maior pagadora de dividendos do mundo também foi uma empresa europeia. A transnacional suíça Nestlé conquistou esta posição após pagar US$ 9,10 bilhões em proventos no 2º trimestre.
Bancos dominam - Além da Europa, os bancos também tiveram uma contribuição relevante no crescimento dos dividendos globais, representando metade da alta registrada no segundo trimestre. Segundo a Janus Henderson, o crescimento subjacente do setor foi de 19,7%, com recorde de US$ 85,3 bilhões.
“As taxas de juros mais elevadas estão impulsionando a lucratividade do setor, o qual também concluiu sua normalização pós-pandemia nos cronogramas de pagamentos”, destacou a gestora.
No Reino Unido, destaque para o HSBC, que restaurou seu pagamento trimestral de proventos pela primeira vez desde a pandemia e, segundo a Janus Henderson, tem potencial de se tornar um dos 15 maiores pagadores do mundo em 2023. No segundo trimestre, o HSBC ocupou a segunda posição no ranking.
Na contramão, mineradoras tiveram a maior contribuição negativa nos dividendos globais, por conta do preço mais baixo das commodities. O setor de petróleo também teve forte queda, puxado principalmente por produtores latino-americanos.
Globalmente, 88% das empresas aumentaram os dividendos ou os mantiveram estáveis no segundo trimestre.
Emergentes sentem impactos- A baixa nos dividendos da Petrobrás, somado a um corte nos proventos da petrolífera colombiana Ecopetrol – que reduziu as distribuições de US$ 4,7 bilhões no 2º trimestre de 2022 para US$ 1,43 bilhão neste ano – contribuíram com a queda dos dividendos globais e afetaram o desempenho dos mercados emergentes.
Na Colômbia, os dividendos caíram 63% nominalmente para US$ 1,7 bilhão, ante US$ 4,7 bilhões no 2º trimestre de 2022. A queda subjacente foi de 36,5%.
Puxados por essas quedas, os dividendos dos mercados emergentes recuaram 0,8% em base subjacente – já desconsiderando dividendos extraordinários e câmbio – chegando ao patamar de US$ 45,2 bilhões. Nominalmente, o avanço foi de 1,9%.
O que esperar? - Apesar dos dividendos globais terem apresentado crescimento no segundo trimestre, a Janus Henderson mantém uma postura cautelosa e decidiu não mudar as suas projeções para 2023. A gestora espera que os dividendos globais aumentem em 5,2% em termos nominais, chegando ao recorde de US$ 1,64 trilhão. O crescimento subjacente no ano seria de 5%.
Segundo Ben Lofthouse, head de renda variável global da Janus Henderson, o crescimento econômico no mundo está se moderando à medida que responde às taxas de juros mais altas. Contudo, ainda existe um combate ativo a inflação, principalmente em algumas regiões da Europa que pode ter efeito nos lucros das companhias.
“Entretanto, esperamos que o crescimento dos dividendos continue. A maioria das regiões e setores está distribuindo dividendos de acordo com nossas expectativas. É provável que o setor bancário continue a apresentar um crescimento sólido até o fim do ano e faça um pagamento recorde aos acionistas”, pontua Lofthouse, reforçando que os dividendos são menos voláteis que os lucros.
Fonte: Brasil 247 com Infomoney
Nenhum comentário:
Postar um comentário