O texto argumenta que as democracias liberais em todo o mundo estão em uma posição defensiva e prega uma direita civilizada
No editorial intitulado "A reinvenção da direita brasileira", publicado nesta segunda-feira no jornal Estado de S. Paulo, destaca-se a necessidade de a direita civilizada aproveitar as oportunidades criadas pela inelegibilidade do presidente Jair Bolsonaro. O artigo ressalta que Bolsonaro, embora seja um antiesquerdista ferrenho, nunca foi verdadeiramente conservador ou liberal, mas sim um demagogo nostálgico da ditadura militar e hostil ao ecossistema democrático estabelecido pela Constituição de 1988.
O texto argumenta que as democracias liberais em todo o mundo estão em uma posição defensiva. Segundo o autor, enquanto países como Rússia e China buscam redefinir a ordem mundial de acordo com suas ambições autocráticas, despertando medo e seduzindo tanto esquerdas quanto direitas, há uma crise de identidade dentro dessas democracias. O liberalismo tem sido distorcido e associado a diferentes ideologias, o que tem levado à confusão e ao desgaste desse termo. Além disso, tem havido um crescimento do falso conservadorismo da extrema direita, que é hostil à globalização e às minorias.
O editorial menciona os quatro valores-chave identificados por Edmund Fawcett na identidade liberal: pluralidade da sociedade, progresso por meio de reformas, desconfiança da concentração de poder e defesa dos direitos pessoais, políticos e de propriedade. O desafio para a direita brasileira é fazer um exame de consciência, reconhecendo sua complacência em relação às desigualdades sociais, e reafirmar seus compromissos com a responsabilidade individual, a liberdade econômica e a distribuição do poder. É necessário construir uma sociedade inclusiva, justa e próspera com base nesses valores.
No Brasil, o desafio é ainda mais profundo, de acordo com o editorial, pois a direita precisa não apenas se reinventar, mas também se inventar. Durante o processo de redemocratização, o liberalismo no país se restringiu a figuras como Fernando Collor e Bolsonaro, que não representam verdadeiramente os valores liberais, ou a soluções de compromisso de uma "social-democracia esclarecida", como o governo de Fernando Henrique Cardoso. Há também um conservadorismo difuso na sociedade, muitas vezes associado ao movimento evangélico, e um conservadorismo amorfo na arena política, que muitas vezes serve apenas para preservar privilégios elitistas e paroquiais.
De acordo com o texto, a direita precisa depurar seus valores e concretizá-los por meio da construção de um movimento cívico articulado. Isso implica reverter a lógica do populismo e evitar a busca por um novo "salvador da pátria". Em vez disso, é necessário ouvir humildemente os eleitores de Lula e Bolsonaro, construir compromissos de baixo para cima e comunicá-los com paixão. Essa mobilização cívica inspirada nas grandes articulações políticas do passado pode ser o caminho para a reinvenção da direita brasileira.
O editorial conclui destacando que a falta de nomes não é o maior problema da direita pós-Bolsonaro, mas sim a falta de um projeto de país. Insistir na estratégia de desmoralização dos eleitores adversários seria um erro. A reinvenção da direita exige um engajamento sincero com a população e a construção de um projeto político consistente. Caso contrário, a direita continuará a agonizar nas mãos de seus adversários ou usurpadores.
Fonte: Brasil 247
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