Vídeos de canais bolsonaristas foram os mais recomendados no YouTube no ano passado durante o período eleitoral. As informações foram obtidas após levantamento realizado pelo Instituto Vero, em parceria com a Fundação Mozilla e a Universidade de Exeter, na Inglaterra.
Mais de 30 mil vídeos de conteúdo político disponibilizados no YouTube entre os dias 10 de outubro e 30 de novembro foram analisados. Os pesquisadores identificaram cinco grupos de canais centrais que mais se conectavam entre si e que mais recebiam recomendações. Os principais temas mencionados foram: Ameaças à Democracia, Candidatos/Eleições, Políticas Públicas, Religião e Outros.
A pesquisa foi realizada com a participação de 65 voluntários anônimos. Foi utilizada uma extensão criada pela universidade com a Mozilla, em que os participantes marcavam os vídeos que viam no YouTube e que consideravam políticos. Neste processo, mais de 1.200 vídeos foram apontados como políticos. A ferramenta também detectava quais vídeos eram recomendados a partir desses assinalados pelos voluntários.
O canal oficial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros relacionados ao bolsonarismo, como a Jovem Pan News, Sikera Junior e Te Atualizei, foram reunidos no grupo B. Vídeos desse grupo foram os que, em média, mais receberam recomendações (37%).
O grupo B foi o que concentrou a maior parte dos vídeos (25%) com assuntos relacionados ao tema ameaça à democracia, como fraudes nas urnas e acusações de corrupção.
“Mesmo que você estivesse vendo um vídeo pró-Lula, ainda assim, existia uma boa chance de a plataforma te recomendar um vídeo bolsonarista. A cada três recomendações do YouTube [de conteúdo político], um deles iria para vídeos de canais bolsonaristas”, disse o coordenador do projeto e professor de Ciência da Computação na Universidade de Exeter, Chico Camargo.
Já no caso do grupo que concentrou o canal oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de mídias tradicionais com certo viés de esquerda, como Greg News, Poder 360 e Carta Capital, recebia em torno de 10% das recomendações entre todos os avaliados. Este grupo ficou denominado como grupo A.
A pesquisa ainda destacou que essa diferenciação se deu mesmo com um número de vídeos pró (2.752) e anti-Bolsonaro (2.911) equilibrado. “A maior parte das recomendações de todos os grupos aponta diretamente para o Grupo B [de Bolsonaro]”, disse a pesquisa.
Além dos canais que são conectados pelo sistema de recomendações do YouTube, há uma segunda rede que funciona a partir do boca a boca, afirmou o estudo.
Especialistas do levantamento afirmaram que essa segunda rede funciona a partir de uma coordenação de discurso e narrativa entre múltiplos atores. Embora os pesquisadores tenham observado esse tipo de ação mais do lado bolsonarista, eles ponderam que seriam necessários estudos mais aprofundados sobre o tema.
Segundo os pesquisadores, ficou clara a importância e influência do YouTube nas eleições: “A plataforma é o novo horário eleitoral. Até mesmo canais que inicialmente consideramos entretenimento, como podcasts, viraram um lugar de campanha, de palanque”.
Fonte: DCM
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