quinta-feira, 4 de maio de 2023

"Nesse país pode se falar de tudo, menos de juros", diz Lula na primeira reunião do Conselhão, em crítica ao BC

 Um dia após o Banco Central manter a alta taxa de juros em 13,75%, o presidente criticou Roberto Campos Neto: 'como se um homem soubesse mais que 215 milhões de pessoas'

Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta quinta-feira (4), a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. O país tem atualmente a maior taxa de juros real do planeta.

“Todo mundo tem que ter cuidado, ninguém fala de juros, como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas”, disse Lula em referência ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, durante a reunião que marcou a posse dos 246 novos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o “Conselhão”, no Palácio Itamaraty, em Brasília. 

“Eu brigava muito com a minha equipe econômica. Eu falava ‘olha, o povo mais pobre sofre as consequências dos juros, mas ele não reclama porque para ele o que interessa é se a prestação do que ele vai comprar cabe no bolso dele’. Não adianta comprar uma coisa de juro zero e ele não poder pagar a prestação. Eu não estou dizendo isso, Roberto Campos [Neto], porque concordo com você não", declarou.

O presidente ainda disse que "esse conselho [Conselhão] pode até discutir taxa de juros se quiser". "É muito engraçado o que se pensa nesse país. Todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros. A Fiesp precisa tomar muito cuidado para falar de juros, a Federação do Comércio muito cuidado, a indústria têxtil muito cuidado”. 

O "Conselhão", formado por integrantes de movimentos sociais, mercado financeiro, agronegócio e fintechs, dentre outros, visa auxiliar o governo na formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento econômico e social de forma sustentável, além de analisar e articular propostas com os mais diversos setores da sociedade civil. 

As críticas de Lula e de integrantes do governo ao atual patamar da taxa de juros se devem ao encarecimento do custo do crédito, que dificulta o consumo. Quando os juros sobem, as pessoas têm menos dinheiro para consumir e, por consequência, os preços param de aumentar. Mas, no contexto atual, a demanda brasileira não está alta por conta do desemprego e da informalidade, dois índices que aumentaram nos governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). 

Como a demanda está baixa, não faz sentido ter o controle de preços como justificativa para a alta da Selic. As críticas vão no sentido de que o povo precisa de crédito e emprego formal para o crescimento econômico. 

No primeiro trimestre, a taxa de informalidade ficou em 39% dos ocupados – 38,1 milhões de pessoas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fonte: Brasil 247

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