Os discos rígidos que guardavam as informações foram destruídos com uma furadeira. Acredita-se que os dados contidos na planilha tenham sido manipulados
A Justiça Federal no Paraná autorizou o Ministério Público Federal a eliminar os arquivos contendo os dados de servidores clandestinos que continham informações sobre os pagamentos de propinas feitos pela Odebrecht. A determinação era que a exclusão fosse realizada de forma a tornar os dados irrecuperáveis.
Segundo documentos sigilosos obtidos por Jamil Chade, do UOL, a destruição ocorreu entre os dias 19 e 20 de maio de 2022, por meio de perfurações nos sete discos rígidos de 8 TB. O processo foi realizado utilizando uma furadeira de bancada, e uma broca de aço atravessou os equipamentos.
Os arquivos dos sistemas Drousys e Mywebday eram peças-chave das acusações feitas pelo Ministério Público Federal contra vários políticos, além de serem fundamentais em diversos processos. Para ocultar o modo como realizavam os pagamentos de propina ao redor do mundo, a Odebrecht criou um departamento dedicado a essa finalidade, onde estabeleceram um sistema paralelo de informática.
O servidor desse sistema ficava na Suíça, fora do alcance de possíveis operações policiais brasileiras. Os dados continham listas de propinas e doações eleitorais irregulares pagas pela empresa a diversos políticos.
O acesso a esse servidor fez parte do acordo de leniência do Grupo Odebrecht, homologado em 2017. A empresa disponibilizou uma cópia dos sistemas que armazenavam a contabilidade paralela à Procuradoria-Geral da República. No final daquele ano, também foi autorizada a realização de uma cópia dos sistemas pela Polícia Federal, que ficou com a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Em 2018, foi autorizada a extração de outra cópia dos sistemas, idêntica à da Polícia Federal, que foi disponibilizada ao MPF.
No entanto, os dados se tornaram objeto de intenso debate. Em 2019, os procuradores brasileiros obtiveram informações sigilosas da contabilidade paralela da empreiteira quase um ano antes de terem acesso oficial aos dados por meio dos acordos de delação premiada dos executivos da construtora.
Entre a vasta quantidade de informações sigilosas obtidas ilegalmente pela Lava Jato, o acesso integral ao sistema Drousys foi o ponto central. Esse acesso foi uma das exigências da Lava Jato para fechar acordos de delação com os 78 executivos da empreiteira, incluindo Emílio e Marcelo Odebrecht.
Antes da pandemia de Covid-19, a defesa do atual presidente Lula (PT) foi autorizada pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), a produzir um laudo complementar ao parecer técnico da PF que analisou as provas contidas nos extratos do servidor. Segundo os advogados de defesa, os peritos da PF afirmaram que os arquivos foram obtidos na Odebrecht, e não diretamente dos servidores localizados na Suíça.
O perito da PF Roberto Brunori Júnior afirmou ao perito contratado pela defesa de Lula que a Odebrecht recebeu os arquivos da autoridade suíça "e mexeu nisso" durante um longo período.
Em 2020, a defesa do presidente entregou à 13ª Vara Federal de Curitiba sua posição, alegando que os arquivos foram manipulados e que a cadeia de custódia dos arquivos da Odebrecht foi violada. Eles argumentavam que havia o risco de os servidores originalmente localizados na Suíça terem sido manipulados.
Anteriormente, em 2017, durante seu depoimento à CPMI da JBS, o advogado Rodrigo Tacla Duran também questionou os arquivos. Tacla apresentou uma perícia que indicava que os extratos utilizados pelo MP foram obtidos naquele ano. No entanto, o sistema já havia sido lacrado pelos suíços em 2016.
Pelo Twitter nesta quinta-feira (18), Tacla Duran reagiu à notícia sobre a exclusão dos dados da Odebrecht: "o que a força-tarefa de Curitiba quer esconder?", questionou.
Fonte: Brasil 247 com UOL
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