Para o professor de Economia da Unifesp, o BC se vê obrigado a reduzir a taxa de juros e encontrar outros meios para conter a inflação: "a Selic vai ter de cair na marra"
247 - Criticado desde quando passou a falar contra a abusiva taxa de juros mantida pelo Banco Central - de 13,75% ao ano -, o presidente Lula (PT) tinha razão e agora o mercado também reconhece a necessidade de mexer na Selic, escreve o professor de Economia da Unifesp e doutor em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP André Roncaglia em artigo publicado pela Folha de S. Paulo na noite desta quinta-feira (9).
No início, diz ele, o mercado entendia que o maior risco à economia brasileira "era exclusivamente fiscal" e "isso permitia entrincheirar a postura de cobrar do governo indicações de responsabilidade fiscal".
No entanto, percebeu-se o risco real: uma crise de crédito no país, segundo o professor. "Gestores de ativos e consultorias começaram a expressar preocupação com a meta irrealista de inflação em 2023 e 2024 e com o nível da taxa de juros definida pelo BC (Banco Central). O motivo da mudança: a possibilidade de ocorrência de um credit crunch (dito em inglês, para não reconhecer que Lula tinha razão)".
A fraude contábil da Americanas também impactou o cenário macroeconômico, aumentando a aversão a risco dos bancos e deixando-os mais criteriosos para empréstimos.
"O encarecimento agudo do crédito agrava a fragilidade financeira da economia. As empresas precisam gastar cada vez mais recursos para honrar suas despesas financeiras. Nessa situação, o estopim que converte a fragilidade em crise pode ser um choque adverso —por exemplo, uma desvalorização abrupta da taxa de câmbio causada por eventos externos. Como uma crise financeira assusta muito mais do que inflação acima da meta, o BC se vê obrigado a reduzir a taxa de juros e acionar outros instrumentos para conter pressões inflacionárias. Traduzindo: a Selic vai ter de cair na marra", afirma Roncaglia, que diz mais à frente: "o governo tem na mão a capacidade de arbitrar o tamanho da queda da taxa de juros, ganhando espaço fiscal sem gerar temores nos desconfiados, pelo menos até a discussão do Orçamento de 2024, em agosto. O jogo virou. É hora de aproveitar a oportunidade".
Fonte: Brasil 247 com Folha de S. Paulo
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