"Se a política entra na polícia, a polícia deixa de cumprir o seu dever", disse o senador eleito Flávio Dino, cotado para assumir o Ministério da Justiça no governo Lula
247 - O ex-governador e senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), que tem o nome cotado para assumir o Ministério da Justiça no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sinalizou ser favorável à manutenção da segurança pública sob o controle da pasta. Na entrevista, ele também criticou a politização das forças de segurança e destacou que será preciso “separar o joio do trigo”.
“Não se pode falar em política pública de segurança desvinculando do sistema de Justiça”, disse Dino à Carta Capital. “Só iremos conseguir essa efetividade da política pública se conseguirmos essa integração orgânica entre Justiça e segurança pública. Essa integração pode se dar em um ministério ou em dois ministérios, é uma decisão do presidente Lula. Mas jamais pode haver separação entre Justiça e segurança pública, porque isso não funciona”, ressaltou.
Questionado diretamente sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante as eleições, o pessebista ressaltou que é preciso contar com polícias “alinhadas com a lei”, além de ser necessário “distinguir ideologização e cultura da ilegalidade”. O diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, é investigado pela Polícia Federal devido à sua atuação no segundo turno das eleições e pela inação frente aos bloqueios de rodovias promovidos por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).
“Esse desvio não pode perseverar. Nenhuma corporação armada do Estado pode usar o monopólio do uso legítimo da força para objetivos pessoais, partidários ou ideológicos. Então, todos esses casos devem ser apurados – inclusive, é um dever do Ministério Público apurar as denúncias, para que haja essa condução de todas as corporações à noção de legalidade”, disse o senador eleito.
“Vamos separar o joio do trigo. Não importa a posição ideológica, se o cidadão gosta ou não do PT. Ele tem de cumprir as regras e agir de acordo com a hierarquia e a disciplina. Isso será feito, é o certo, diferente do que foi feito agora [sob Bolsonaro], com uma partidarização da polícia. Se a política entra na polícia, a polícia deixa de cumprir o seu dever”, completou.
Dino afirmou, ainda, que o protagonismo dos militares na política“precisa cessar” e que a nota dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, divulgada na sexta-feira (11), representa “o último capítulo de um triste livro. Um livro que se abre com as marchas milicianas – aquelas dominicais, de que militares inclusive participavam -, passa pela participação de muitos militares no desastrado combate à pandemia e chega até esta nota. Considero que a nota é o epílogo de um livro triste da vida brasileira”.
“Agora, inverte-se o jogo”, prosseguiu. “O exercício do governo [Lula] vai dissipar certas conflituosidades, porque a carreira vai se renovando e a ação prática vai mostrar que quem respeitou as Forças Armadas no Brasil fomos nós, a esquerda. Os nossos governos respeitam as Forças Armadas de verdade. O Bolsonaro fez de tudo para desmoralizar as Forças Armadas, o tempo inteiro. O risco de golpe de Estado, hoje, é próximo a zero – sempre convém manter uma vigilância, mas é próximo a zero”, afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário