quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Policial diz ter alterado cena em Paraisópolis. Analistas citam fraude processual

 Um tenente da PM disse ter recolhido objetos do local onde aconteceu o tiroteio que interrompeu um evento da campanha de Tarcísio de Freitas em São Paulo

Viatura da PM, favela Paraisópolis e Tarcísio de Freitas (Foto: ABR)

247 - Um policial militar que participou do tiroteio em Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, afirmou ter adulterado a cena do crime por temer que outras pessoas retirassem objetos do local. Os tiros aconteceram no dia 17 deste mês durante uma agenda de campanha do candidato ao governo do estado de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Um suspeito morreu na ação. A equipe do candidato mandou um cinegrafista da Jovem Pan apagar as imagens do tiroteio.

De acordo com informações publicadas nesta quarta-feira (26) pelo portal Uol, um tenente da PM disse à Polícia Civil ter recolhido cartuchos, estojos, carregador de pistola, coldre, um celular e um relógio do local. "Seria para que não fossem perdidos ou subtraídos por populares", afirmou ele, conforme o boletim de ocorrência registrado do caso.

Por volta das 10h45 do dia 17 de outubro, os PMs registraram suspeitos em uma moto filmando a viatura descaracterizada usada por eles. Os criminosos retornaram com outros homens armados, dando início ao confronto, de acordo com o depoimento dos policiais militares.

Fraude processual

Perito criminal aposentado da Polícia Civil do Distrito Federal, Cássio Thyone Almeida de Rosa disse ver fraude processual na ação do PM. "Essa alegação [de retirada de estojos e cartuchos para evitar subtração por parte de moradores] é uma forma de justificar adulteração da cena do crime. Mas, se há esse risco, o policial primeiro precisa justificar por que os seus procedimentos de preservação do local não foram realizados", argumenta o analista, que integra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Professor na área de Segurança Pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rafael Alcadipani afirmou que a ação "pode configurar fraude processual porque é adulteração de cena de crime". "Com a retirada dos estojos, o trabalho da perícia fica prejudicado. A prática correta é isolar o local de um homicídio até a chegada dos peritos".

"O estojo pode indicar o local e o ângulo dos tiros. A alteração da cena do crime dificulta a investigação. Espero que a Polícia Civil tenha a liberdade para apurar a veracidade dos fatos", disse.

Outro lado

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) ouviu testemunhas e pediu exames periciais no local, no veículo e nas armas de fogo dos policiais militares envolvidos no confronto.

"Foram requisitadas as imagens das câmeras corporais de policiais militares que estavam na ocorrência, dos comércios da região, e também as imagens de profissionais de órgãos de imprensa que estavam cobrindo o evento (...). As investigações prosseguem dentro do prazo legal e com o acompanhamento do Ministério Público Estadual".

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