quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Cade abre investigação contra institutos de pesquisa por erros no primeiro turno das eleições

 Houve determinação para uma investigação paralela especificamente contra Ipec, Ipespe e Datafolha

(Foto: ABr)


SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Conselho Administrativo de  Defesa Econômica (Cade) determinou nesta quinta-feira que a  Superintendência-Geral da autarquia investigue os institutos de pesquisa  por suposta ação coordenada no primeiro turno das eleições, diante da  diferença entre o cenário das pesquisas e o resultado efetivo do pleito.

A  investigação foi determinada por Alexandre Cordeiro Macedo através de  ofício ao superintendente-geral do Cade, Alexandre Barreto e Souza. Além disso, houve determinação para uma investigação paralela especificamente contra Ipec, Ipespe e Datafolha.

Grande parte dos  institutos de pesquisas apontavam uma vantagem maior do ex-presidente  Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o presidente Jair Bolsonaro (PL),  que tenta releição, do que a vista nas eleições. Alguns, inclusive, mostravam possibilidade de vitória do petista sem necessidade de um  segundo turno.

Desde as eleições em primeiro turno, com vantagem  de Lula de cerca de 5 pontos percentuais, Bolsonaro criticou os  institutos e os acusou de interferirem na democracia. Além disso,  aliados do presidente decidiram fazer uma ofensiva no Congresso e no  Tribunal Superior Eleitoral contra as empresas, enquanto uma  investigação da Policia Federal chegou a ser anunciada pelo ministro da  Justiça, Anderson Torres.

Ipec e Datafolha não comentaram  imediatamente. Representantes do Ipespe não foram encontrados para comentários. O Cade disse que não comenta casos em andamento. 

No  ofício, Macedo cita notícias de jornais que apontam divergências, para  além das margens de erro, nas pontuações em relação a alguns dos  candidatos, tendo mencionado especificamente a corrida presidencial.

"A  discrepância das pesquisas e do resultado é tão grande que verificam-se  indícios de que os erros não sejam casuísticos e sim intencionais por  meio de uma ação orquestrada dos institutos de pesquisa na forma de  cartel para manipular em conjunto o mercado e, em última instância, as  eleições", escreveu ele no ofício. 

O documento destaca que a  divergência ocorreu no percentual de votos para Lula e, "em maior  intensidade", nas intenções de votos a Bolsonaro.

Macedo trouxe  cálculos de probabilidade para sustentar a abertura de investigação,  apontando que "quando há uma grande quantidade de pesquisas que falham  simultaneamente e no mesmo sentido, é pouco provável que este tipo de  erro seja fruto de mero acaso (como a existência da coleta de um valor  extremo amostral)".

No meio da tarde, o ofício foi retirado do  sistema de consulta pública do Cade, mas a assessoria de imprensa do  órgão disse que a abertura de inquérito não foi cancelada. "O documento  foi retirado para ajuste de cores e estará disponível em breve."

IPESPE, DATAFOLHA E IPEC

Além  do inquérito contra os institutos de pesquisa em geral, Macedo  determinou uma investigação em específico contra Ipespe, Ipec e  Datafolha.

"Para piorar, o fato mais estranho e o que  verdadeiramente chama a atenção da autoridade antitruste é que não  bastasse os improváveis resultados errôneos apresentados  individualmente, não bastasse também os erros coletivos na mesma  direção, três institutos de pesquisa, Ipec, Datafolha e Ipespe,  apresentaram resultados idênticos quanto à diferença entre os  candidatos, 14 pontos percentuais", escreveu. 

Institutos de  pesquisa já vinham afirmando antes da votação que os levantamentos não  poderiam ser encarados como prognósticos, mas fotografias do momento.  Também apontavam diferenças metodológicas e a ausência de dados oficiais  atualizados sobre a população, necessários para o desenho da amostragem  de entrevistas.

Outro fator levantado por especialistas da área  diz respeito a possível boicote de entrevistados, principalmente da  parte de eleitores do presidente. A abstenção também foi apontada como  variável que pode ter influenciado e resultado na discrepância entre  pesquisas e o resultado oficial.

No ofício, Macedo ainda disse que  os fatos supostamente ilícitos, se comprovados, configuram crime contra  a ordem econômica, "devendo o Ministério Público Federal tomar  conhecimento deste despacho e da investigação a ser aberta para que,  caso entenda conveniente, adotar as medidas cabíveis para a persecução  penal".

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