sábado, 13 de agosto de 2022

Painel que toma parede inteira de edifício em Porto Alegre calunia a esquerda e exalta a violência




 O Rio Grande do Sul, um dos estados mais reacionários do Brasil, tornou-se motivo de uma nova polêmica política, causada por extremistas que pagaram a uma agência de propaganda para colocar num edifício um cartaz gigante de ataques a ideias progressistas e exaltação da violência de índole fascista.

A notícia é da Folha.

Uma faixa de mais de dez metros de altura dividida ao meio foi instalada na madrugada da última quinta, dia 11 de agosto, em um dos pontos de maior visibilidade da saída de Porto Alegre (RS).

Um lado amarelo, com a bandeira do Brasil no topo, outro lado vermelho, com a foice e o martelo cruzados, ícones do comunismo, o painel gigante opõe em cada metade “vida” versus “aborto”, “bandido preso” versus “bandido solto”, “valores cristãos” versus “ideologia de gênero”, “liberdade” versus “censura”.

Ainda do lado amarelo, “agro”, “menos impostos”, “polícia” e “ordem e progresso”. Do lado vermelho, “MST”, “mais impostos”, “PCC” e “narcotráfico”. No topo, a frase: “Você decide”.  


O grupo de WhatsApp dos moradores do edifício Caraíba, no viaduto da Conceição, cuja empena cega ampara a propaganda de desinformação e alarmismo, amanheceu em polvorosa.

“Houve muita discussão e até briga no grupo do condomínio”, conta o estudante de medicina João Vitor Sperança, 21, que mora no local. “A grande maioria dos moradores ficou indignada, tem muita mentira. Queremos que seja retirado e alguns já denunciaram o caso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).”

“Tem morador com medo de ser agredido por associação do conteúdo a quem mora no edifício”, conta Sperança, que explica que o condomínio vendeu o espaço para uma agência de publicidade. “Está o maior rolo aqui.”

A empresa LIFEpoa, responsável pelo comércio do espaço, informou por meio de nota divulgada em seu perfil numa rede social que veicula campanhas “desde que estejam de acordo com as normas do mercado publicitário e com a legislação vigente”.

A nota informa ainda que o conteúdo é de responsabilidade dos anunciantes e que “conviver com simpatia ou rejeição a estas [campanhas] faz parte da liberdade que deve prevalecer na sociedade”. O texto sugere que o conteúdo do painel é uma questão de opinião e conclui: “E que Deus abençoe a todos”.

“Há uma série de associações tortas e comparações falsas de coisas que sabemos não terem nada a ver”, avalia o estudante de Cuiabá que se mudou para a cidade para frequentar a faculdade de medicina de Porto Alegre (UFCSPA).

Para ele, mesmo sem assinatura ou logo, a propaganda tem afinidade com o bolsonarismo, “que sequestrou a bandeira nacional como símbolo” e que “trata a esquerda como comunista, associando ela a todos tipo de fantasma, como o aborto e o MST”.

“Isso só mostra ​que, infelizmente, a gente ainda não evoluiu no Brasil em certos debates”, diz ele, que afirma não ser comunista e que pretende votar em Lula nas eleições deste ano.

Na tarde de sexta-feira, a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), postou a imagem acompanhada da frase “Todas as mentiras das redes ganham as ruas de Porto Alegre. Isso é criminoso. Quem pagou?”.

Leonardo Zigon Hoffmann, sócio da LIFE, disse à Folha que a versão original do anúncio tinha a um “Já ir”, associado à coluna amarela, e um “Já era”, à coluna vermelha. O bordão “Jair ou Já era” foi usado por Eduardo Bolsonaro (PL) anteriormente, e faz referência ao primeiro nome do seu pai, atual presidente e candidato à reeleição. Por enxergar alusão direta ao candidato Jair Bolsonaro (PL), a peça foi alterada pelo cliente para então ser aprovada pelo jurídico da LIFE.

Hoffmann diz não estar autorizado a revelar o nome de quem pagou pela peça ou o valor pago. O preço padrão para um anúncio do mesmo porte exibido por um mês gira em torno de R$ 89 mil.  

No caso de ordem judicial para a retirada, o tempo de exibição é encurtado sem que haja ressarcimento ao cliente.  

O vereador Matheus Gomes (PSOL) declarou ter entrado com representação do seu gabinete contra a peça junto ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e o Ministério Público, além da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, responsável pelo regramento da instalação de publicidade na capital gaúcha.

A Lei do Mobiliário Urbano impede que se divulguem peças com “preconceitos de origem, etnia, raça, sexo, cor, idade, religiosidade, orientação sexual, identidade de gênero e quaisquer outras formas de discriminação”. A legislação também veta calúnias a pessoas, órgãos e entidades.

“O painel tem exposições caluniosas. É uma contrapropaganda e isso está fora do padrão”, avalia Gomes. “Do ponto de vista político, temos uma série de elementos que propagam o ódio e incitam a violência contra setores da sociedade, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o maior produtor de arroz orgânico do país, associado a organizações criminosas.”​

Fonte: Agenda do Poder

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