Professor de ciência política da UFMG e diretor da Quaest diz que o ambiente propicia "tentativas de rupturas" da democracia
247 - Professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor da Quaest, Felipe Nunes, em artigo publicado no jornal O Globo nesta segunda-feira (18), afirma que o Brasil vive sob uma "polarização afetiva".
O fenômeno, diz ele, é diferente da polarização política vista em anos anteriores no país. "Entre 1994 e 2002, por exemplo, as eleições brasileiras foram marcadas por polarização entre PT e PSDB. Os partidos estavam polarizados, mas a sociedade não. O eleitorado votou de forma coordenada e abrangente para eleger Fernando Henrique e Lula".
"Nas eleições de 2006 a 2014, vimos emergir a polarização social e a disputa político-partidária transbordou para a sociedade. Nesse cenário, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, nordestinos e sulistas, passaram a votar diferente. A unanimidade temática deu lugar as disputas em torno de políticas distributivas", completou.
O cenário mudou, segundo o professor, na campanha de 2018, ano em que Jair Bolsonaro (PL) foi eleito. "Chegamos a outro patamar de antagonismo político", diz ele.
A polarização afetiva, de acordo com Nunes, consiste no crescimento da "identificação pessoal com o grupo ao qual se pertence e o ódio em relação aos opositores. Em outras palavras, quando a polarização vira afetiva o adversário passa a ser seu inimigo, uma ameaça à própria existência do meu grupo, um mal a ser destruído".
"A consequência imediata da polarização afetiva é um eleitorado mais autoritário e violento", alerta o professor: "eleitores de Bolsonaro que apresentam ódio a Lula, ainda que sejam minoria, confiam menos na urna eletrônica e concordam mais com a ideia que de o presidente não deve aceitar eventual derrota".
"Em outras palavras, a polarização está associada não só à descrença nos procedimentos, mas também a uma maior disposição a tentativas de rupturas. Os resultados são preocupantes considerando que o período eleitoral nem começou, quando a retórica de campanhas como 'nós contra eles' se intensificará e, consequentemente, aumentará a polarização afetiva e a violência", conclui.
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