terça-feira, 10 de maio de 2022

Mais de 500 remédios estão em falta no Paraná e não há prazo para fim da crise

 

(Foto: Imagem Ilustrativa/Marcello Casal Jr/ABr)

As farmácias do Paraná registram a falta de medicamentos, principalmente em Curitiba e nas grandes cidades do Estado, como Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu. Estão faltando medicamentos para o tratamento de diversas doenças, mas, devido à alta demanda, os remédios para síndromes respiratórias em crianças são os que mais “desapareceram” das prateleiras nos últimos dias.

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sindifarma), Edenir Zandoná Jr, estão em falta no Paraná 500 remédios. Entre eles estão os antibióticos mais receitados pelos pediatras, como Amoxilina, Clavulin BD suspensão 400 gramas, Cefalexina, medicamentos para inalação, como Clenil A e Pulmicort 0.25 e 0.5, e até mesmo antitérmicos, como Dipirona, além de colírios, antiinflamatórios e analgésicos.

“Essa falta de medicamentos já acontece desde fevereiro, mas com o aumento dos casos de síndromes respiratórias em crianças e da demanda de remédios, a crise se agravou”, afirmou Zandoná. E, de acordo com ele, não há prazo para a normalização do abastecimento.


A indústria farmacêutica brasileira tem encontrado dificuldade de importar insumos da China e da Índia, os maiores produtores do setor. O lockdown na China devido aos novos casos de Covid e a guerra entre a Rússia e Ucrânia têm dificultado a produção e a logística de distribuição dos insumos, porque vários portos estão fechados.

“E mesmo que estes insumos cheguem, a demora para liberação da carga nos portos brasileiros é de 40 dias. Também há o tempo das indústrias para testar a qualidade destes insumos. Então, a crise deve se prolongar”, afirmou o presidente do Sindifarma.

O farmacêutico José Garcia, responsável técnico pela Usifarma Abranches, que atua 30 anos no mercado, disse que nunca viu uma crise de medicamentos tão grande como essa. “Passamos por vários planos financeiros, como Funaro, em 1986, onde faltava muita coisa por causa do congelamento, mas nada como agora. Estamos vivendo uma crise sanitária, com falta de antibióticos, xaropes expectorantes, mucolíticos, antialérgicos e medicações para inalação. Uma crise de viroses muito grande, onde as unidades de saúde infantis estão lotadas. A demanda cresceu imensamente e a indústria farmacêutica não tem insumos para a produção, por causa do fechamento de portos na China e na Rússia”, disse Garcia.

Segundo ele, os médicos estão prescrevendo várias opções de remédios para facilitar a busca do paciente. “Quando entra medicação na distribuidora, acaba em minutos. Foi o caso da Acebrofilina, que estava em falta. Chegaram na distribuidora 200 unidades que acabaram em menos de um minuto. A gente não está conseguindo repor mercadoria”, contou o farmacêutico.

A reportagem do Bem Paraná procurou ontem em 12 farmácias de Curitiba os medicamentos Clavulin BD suspensão 400 gramas, Cefalexina, Clenil A e Pulmicort 0.25 e 0.5. Encontrou Clenil A em apenas uma farmácia nas Mercês, e Pulmicort em uma farmácia no Abranches. Os outros medicamentos não foram encontrados.

No SUS — A Prefeitura de Curitiba informou, em nota encaminhada à redação do Bem Paraná, que não há registro de falta de medicamentos para aqueles atendidos na rede SUS, em Curitiba. “Os seguintes medicamentos estão disponíveis da rede municipal: amoxicilina, celafexina e dipirona. Os demais medicamentos citados pela reportagem não são padronizados, o que significa dizer que não fazem parte da lista de medicamentos fornecidos pelo SUS Curitibano ou são apresentados de outra forma. Por exemplo, Clavulin é amoxicilina + clavulanato. Este medicamento faz parte do SUS Curitibano em dosagem diferente da citada pela reportagem. Não há registro de falta dele também na rede municipal”, disse a Prefeitura, em nota.

A reportagem do Bem Paraná entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde, mas até o fechamento da reportagem não obteve resposta sobra e falta de medicamentos no Paraná.

Médicos precisam de ‘criatividade’ para burlar problema

A falta de medicamentos tem influenciado, inclusive, na alta demanda nos pronto-atendimentos e consultórios, já que, muitas vezes, os pacientes precisam retornar ao atendimento porque não encontraram a medicação prescrita. Os médicos, aliás, precisam usar a criatividade para conseguir receitar remédios diante da escassez.

“Temos que usar medicamentos que antes não usávamos, repensarmos todo o protocolo, principalmente quando é necessário prescrever antibiótico”, afirmou o vice- diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe e presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria,  médico infectopediátrico Victor Horácio de Souza Costa Jr, em entrevista ao Bem Paraná. Já que a normalização da produção dos remédios depende o fim do conflito na Ucrânia e do fim do lockdown na China, não há previsão certa sobre o fim desta crise.“Não temos com prever o limite, até quando teremos remédios. Nesta época do ano, com a alta das doenças respiratórias e a Covid ainda em circulação, a situação fica bem complicada”.

Uma médica otorrino pediatra, que não quis se identificar, informou que tem receitado para as crianças maiores antibióticos para adultos e em outras vezes tem apelado para receitas que precisam passar por farmácias de manipulação, o que encarece o produto.

“Com a falta de alguns remédios para inalação, às vezes temos que mudar a receita para um que vai demorar mais para fazer efeito naquele determinado caso, o que não é ideal”. Ela disse que está muito preocupada, porque o pico de doenças respiratórias em crianças ainda está por vir e a crise de medicamentos só piora: “Está ficando bem complicado”.

A recomendação do presidente do Sindifarma é que os médicos procurem prescrever remédios que tenham no mercado e que os pacientes retornem e peçam novas receitas. “Os médicos sabem quais remédios podem substituir os que estão em falta”.

Cuidados

Vacinação e máscara ajudam no combate de todas as doenças

O médico Victor Horário de Souza Jr lembrou que os pais podem ajudar e muito neste momento vacinando os seus filhos: “Neste tempo de pandemia, muitos pais deixaram de levar os filhos aos consultórios e largaram a carteira de vacinação. Agora, com Covid e com as doenças respiratórias em alta, a vacinação contra todas as doenças é essencial. É o que os pais podem fazer pelos se filhos e pelo sistema de saúde”.

Ele ressaltou que é preciso manter todos os cuidados para não contrair doenças, mesmo com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. “ Houve flexibilização da máscara, mas ela ainda é a melhor proteção não só contra Covid-19, mas várias outras doenças respiratórias”, disse o médico.

Fonte: Bem Paraná

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