domingo, 20 de março de 2022

Falta pegar os financiadores das milícias digitais

 

(Foto: Reprodução | ABr)

Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

O Telegram está fora do ar, mas os grandes financiadores da produção e disseminação de mensagens com mentiras, difamações e conspirações continuam soltos e à vontade. A estrutura das milícias digitais está viva e impune.

Alexandre de Moraes faz bom serviço ao encurralar e amordaçar Allan dos Santos, ao acabar no Brasil com uma das plataformas em que essa turma se movimenta e ao avisar que vai seguir em frente.

Corta um pedaço das pernas dos que se movem em pântanos, desorienta os milicianos operadores de redes de fake news, mas ainda falta chegar a quem sustenta o sistema.

Os operadores estão dentro do Planalto e seus grupos são conhecidos pela Polícia Federal. Mas e os mantenedores, os benemerentes endinheirados da extrema direita, os que custeiam as ações das milícias com fartos subsídios e com milhões de robôs nacionais e estrangeiros?

O superinquérito presidido por Moraes sobre a fábrica de fake news e sobre os grupos dos atos pelo golpe, que são estruturas complementares, terá de chegar aos que viabilizam tais movimentações.

Nem o mais ingênuo dos tios do zap acredita que ele e os sobrinhos sustentam o esquema de disseminação de mensagens do fascismo. O tio sabe que ele é o cara da ponta, que propaga o que é produzido.

O tio não produz ‘conteúdo’, não financia, não define estratégias nem a linha a ser seguida pelos alquimistas das fake news. Os tios com a camiseta da Seleção são robôs operários lá em Rancho Queimado, Araraquara ou Barbacena.

A Polícia Federal já entregou ao Supremo pistas de como o esquema funciona a partir do Palácio do Planalto. Sabem muito da operação, mas o que sabem dos suportes financeiros que fazem a coisa funcionar?

Ficou incompleta, com os mais variados argumentos e desculpas, a investigação que deveria ter levado à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.  

   O TSE entendeu que Bolsonaro foi de fato beneficiado por disparos de mensagens em massa em 2018, como parte de um esquema fraudulento, mas teriam faltado provas que dessem a dimensão da gravidade dos fatos.

Não conseguiram provar que gente com muito dinheiro comprou pacotes de disparo de mensagens com mentiras, difamações, notícias falsas, cobras, lagartos e mamadeiras com piroca.  

Disseram até, no julgamento no TSE, que a prova caberia ao acusador, a coligação O Povo Feliz de Novo (PT/PCdoB/PROS).

Não cassaram a chapa porque não havia lastro político, clima e destemor para a cassação. Passaram um pito: na próxima, ninguém escapa. Moraes até advertiu: quem recorrer a fake news será preso.

Moraes deu seu voto contra a cassação da chapa, afirmou que o TSE saberá no futuro como recolher provas e fez essas ressalvas que valem muito hoje:

“Não vamos admitir que essas milícias digitais tentem novamente desestabilizar as eleições, as instituições democráticas a partir de financiamentos espúrios não declarados, a partir de interesses econômicos também não declarados e que estão também sendo investigados”.

Financiamentos espúrios e interesses econômicos não declarados. Os financiamentos espúrios só podem ser feitos por financiadores. E financiadores de crimes têm dinheiro de origem espúria, aqui ou do exterior. Muito dinheiro.

Há sinais de que é nesses, nos financiadores, que as investigações não chegam, mesmo que muito já tenha se falado deles. Pegar Allan dos Santos, para contê-lo, e alertar o resto das milícias é atitude decisiva.

Mas é preciso chegar a quem sustenta Allan dos Santos e os integrantes das facções das fake news. 

O TSE sabe onde os financiadores estão e sabe, segundo Moraes, que há como chegar às provas. Se não chegarem aos financiadores espúrios, só os pés-de-chinelo serão encarcerados.

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

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