segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Documentos revelam que exercícios militares na Argentina de Macri previam invasão da Venezuela

 Chamadas de "Puma", as manobras foram realizadas durante gestão Macri, na Argentina, entre abril e julho de 2019, ano da maior tensão dos EUA contra Caracas

"Maurício Macri (Foto: Reuters)

Sputnik - Chamadas de "Puma", as manobras foram realizadas durante gestão Macri, na Argentina, entre abril e julho de 2019, ano da maior tensão de Washington contra Caracas.

Um conjunto de documentos vazados na Argentina revelou o compromisso do governo de Mauricio Macri (2015 - 2019) em participar de uma possível invasão da Venezuela, patrocinada pelos Estados Unidos, que buscaria a derrubada do presidente Nicolás Maduro.

No domingo (13), a informação sobre este possível ataque foi publicada pelo portal argentino El Cohete a la Luna, após receber os documentos de alguns chefes militares.

Segundo a mídia, o Exército Argentino realizou exercícios militares, que foram chamados de "Puma" e que incluíram a invasão da Venezuela, entre abril e julho de 2019.

2019, um ano difícil

Em 23 de janeiro daquele ano, Juan Guaidó se autoproclamou "presidente encarregado" da Venezuela e foi reconhecido por Washington e alguns governos da região, inclusive o de Macri. Em fevereiro, a tentativa de entrada de "ajuda humanitária" da Colômbia culminou na queima de um caminhão, ação que recaiu sobre a gestão Maduro e que depois ficou provada a autoria de seus opositores.

Já em abril, ocorreu a chamada "Operación Libertad" (Operação Liberdade), uma tentativa de golpe de Estado liderada por Guaidó junto com a oposição Leopoldo López, que deixou sua prisão domiciliar naquele dia, ação celebrada pelo chefe de Estado argentino.

APOIAMOS A DEMOCRACIA NA VENEZUELA MAIS DO QUE NUNCA Celebramos a libertação de Leopoldo López e acompanhamos a luta do povo venezuelano para recuperar sua liberdade. Reconhecemos o presidente em comando Guaidó, a Assembleia Nacional e ignoramos a autoridade do ditador Maduro

Esperamos que este seja o momento decisivo para restaurar a democracia. Que a longa angústia que levou os venezuelanos ao sofrimento e ao medo chegue ao fim e inicie um período de liberdade, sanidade e crescimento. Não será fácil, como nós argentinos bem sabemos

Revelações do 'Puma'

De acordo com El Cohete a la Luna, os exercícios Puma do Exército Argentino foram realizados em sete sessões e incluíram coordenação com unidades da Marinha e da Aeronáutica. Comandando essas práticas estava o general Juan Martín Paleo, que era então comandante da força de desdobramento rápido e desde março de 2020 é chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.

Nesses exercícios, a América do Sul recebe o nome de "Patagônia del Sur" (Patagônia do Sul), a Venezuela é "Vulcano" e suas autoridades opostas eram "NM" e "JG", ou seja, as iniciais de Nicolás Maduro e Juan Guaidó, respectivamente.

Em 2019, durante o governo de Mauricio Macri, o Exército Argentino realizou o exercício Puma, que contemplava a invasão da Venezuela

Havia 3 corredores: um marítimo, outro na fronteira colombiana em Cúcuta e outro na fronteira brasileira em Roraima

A Colômbia, na fronteira oeste da Venezuela, foi batizada de "Ceres"; a Guiana e o Suriname, a sudoeste do território venezuelano, de "Tellus"; o Brasil de "Febo"; Peru e Equador de "Fauno"; Chile de "Juno"; Argentina de "Ares"; e Uruguai, "Baco". A descrição que Paleo faz de Vulcano, para justificar os exercícios militares e a possível invasão, é que naquele país há "o caso da maior comoção interna da região".

"O Governo tem recorrido à sua política externa com a clara intenção de buscar o apoio de atores extra-regionais para se manter no poder. Esse comportamento de ignorar reclamações internas e das principais organizações internacionais causou forte rejeição e teve como consequência a aplicação de diferentes sanções", acrescenta.

Paleo menciona uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), nº 1918/19, sobre uma "força de estabilização multinacional provisória" na Venezuela, que foi chamada de MINUSVU.

Nesse sentido, disse que "o presidente de Ares", ou seja, Macri, com autorização do Congresso Nacional, "decidiu atender ao pedido da ONU [decreto nº 2005/19 - Tropas para participar da MINUSVU] para a integração de uma força multinacional provisória com outros países da Patagônia Sul [Febo e Juno]".

A missão da força comandada por Paleo seria dar segurança à operação na Venezuela, garantindo os corredores de ajuda humanitária. A Argentina seria responsável pelo que seria feito na fronteira com Ceres, ou seja, a Colômbia.

Alegação confusa

De acordo com El Cohete a la Luna, quando as autoridades de Defesa que foram instaladas após o fim do governo Macri, Paleo foi questionado sobre os exercícios militares Puma, e informou que tentaram planejar a segurança da reunião do G-20 em Buenos Aires.

No entanto, essa versão não se sustenta, pois o G-20 se reuniu em 30 de novembro e 1º de dezembro de 2018 na capital argentina, e o Puma foi realizado entre abril e julho de 2019.

Mais tarde, sua versão mudou, alegando que era uma ordem do então Chefe do Estado Maior, general Bari Sosa, para planejar a assistência humanitária à Venezuela.

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