“Esse país não está certo”, disse Lula em discurso no Natal dos Catadores. “Fico triste com milhões de crianças que não podem ter um presente na vida”
247 - Mantendo uma tradição que iniciou em 2003, quando assumiu a presidência da República, o ex-presidente Lula (PT) participou desta quarta-feira, 22, do Natal dos Catadores. Ao lado de Marta Suplicy, Fernando Haddad, Eduardo Suplicy, Gleisi Hoffmann, Marco Aurélio de Carvalho, Padre Júlio Lancelotti, entre outros, Lula denunciou a fome no país.
“Esse país não está certo”, disse. “Não temos que ser revolucionários, mas temos que ser cristãos, democratas, humanistas, seres humanos para a gente poder olhar na cara das pessoas e falar: ‘você também tem direito de comer’”, declarou o ex-presidente.
“Que diabo de mundo é esse que produz alimento suficiente e tem 200 milhões passando fome?”, questionou o petista, que lembrou que, apesar de ter carne suficiente no Brasil, o povo não consegue comer carne, fica na fila do osso ou esperando caminhão capotar para comer carne.
Lula lembrou que os direitos fundamentais estão previstos na Constituição Brasileira, na Bíblia e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Precisamos humanizar o povo brasileiro, tirar o ódio que está implantado nesse país como se fosse um tumor maligno. Extirpá-lo e colocar nesse país alguém para cuidar do povo, das crianças, da educação, dos velhinhos, que trate as pessoas com respeito”, declarou. “Só tem sentido eleger alguém para essa pessoa cuidar dos interesses da maioria do povo, trabalhador e classe média baixa”, reforçou.
“Onde está a lógica desse mundo desumano? Por que tem criança nesse Natal que não pode tomar um copo de leite de manhã e de noite, comer um danone ou alguma coisa que todo dia tem propaganda na televisão. As crianças pobres ficam olhando, sonhando e acordam com pesadelo, porque tem gente que come 10 por dia”, ressaltou.
“O Natal é uma data que não me deixa confortável. Nunca me senti bem. É uma coisa alegre pra quem tem dinheiro [...] mas fico triste com milhões de crianças que não podem ter um presente na vida”, argumentou.
Crise social
O ex-presidente Lula ainda lembrou da crise social que vive o Brasil. “Estamos vivendo a situação mais grave. Crise da pandemia, crise moral, crise ética, crise de tudo. Crise de um psicopata que está governando esse país, que não tem sentimento, que não chora pelas 620 mil mortes, que nunca visitou um hospital, nunca foi conversar com um parente de uma pessoa que foi vítima da Covid-19. E fica brincando, falando que as pessoas não têm que obedecer e não tem que tomar vacina”, denunciou Lula.
“Nunca vi uma crise como essa. Não é apenas uma crise econômica, de desemprego, de falta de comida, é de falta de respeito, de carinho, de solidariedade, de afeto, de amor, de transmissão de ódio”, afirmou, destacando que Jair Bolsonaro é mentiroso. “Povo brasileiro vai dar um golpe nele e vai tirar ele da presidência da República”, destacou.
‘Brasil não é um privilégio dos banqueiros’
O petista ainda afirmou que “vamos provar que é possível os filhos dos pobres frequentarem universidades, como já provamos; provar que é possível as crianças comerem três vezes por dia; que é preciso acabar com a violência contra a mulher, que não pode ser mal-tratada nem no emprego e nem em casa”.
“Esse mundo a gente pode construir, não um privilégio dos banqueiros para ganhar dinheiro [...] gente ganhando dinheiro sem produzir um parafuso, um copo [...] e que desaparecem quando tem crise, e quem aparece é o Estado”, disse. “O Estado não pode abrir mão de ser o indutor do crescimento econômico, da distribuição de renda e da melhoria da qualidade da educação”, ressaltou Lula, que afirmou novamente querer “colocar o rico no imposto de renda e o pobre no orçamento”.
Reconstrução do Brasil
Lula também lembrou que quer voltar a ser presidente para “provar que é possível esse país recuperar soberania, tomar conta da sua fronteira, de seu espaço aéreo, das suas florestas, da sua água, melhorar a vida povo, melhorar a refeição do povo, garantir emprego, melhorar o salário mínimo e garantir, outra vez, que todo mundo nesse país vai tomar café, almoçar e jantar todo santo dia”.
Ele ainda denunciou o golpe de Estado que derrubou Dilma Rousseff em 2016, o prendeu em 2018 e destruiu a economia nacional através da Lava Jato. “Esse país precisa ser reconstruído [...] e não pode inventar que a Dilma quebrou o país”, destacou, lembrando que a Ponte para o Futuro — programa do golpista Michel Temer — “virou a ponte da desgraça, da fome, da pandemia, do desespero, das pessoas dormindo na rua”.
“Essa desgraça da Lava Jato, que foi feita para me tirar das eleições de 2018, acabou com empregos, com a indústria de óleo e gás, de engenharia e com a esperança do país”
Os chefes da Lava Jato, o ex-juiz parcial Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, acreditaram que podiam “ser donos do país” e “passaram a desrespeitar qualquer, invadir a casa, querer invadir o Congresso Nacional”, disse. “Político era tudo ladrão, e eles viraram políticos, mas não vamos dar uma surra neles”, afirmou.
Para reconstruir o País, Lula afirmou que, apesar de não ser anti-americano, ele quer que o Brasil seja respeitado e, para isso, precisa "conversar com a China, porque não quero ser refém da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a China”.