O Ministério Público do Paraná (MPPR) manifestou-se nesta terça-feira (3) em defesa da democracia e contrariamente a quaisquer questionamentos aos pilares do estado democrático de direito.
Em nota, a
instituição destaca que “Não há como deixar de se posicionar o Ministério
Público do Paraná na linha de sua incondicional defesa de nossas trincheiras
libertárias, arduamente conquistadas por tantas gerações de combatentes do bom
combate. Preservar a democracia, repudiando quaisquer abalos provocados por
ondas despóticas ou autocráticas é nosso dever cívico”.
Eis a íntegra da nota:
DEMOCRACIA ANTES
DE TUDO
Conquanto
prossegue o fluxo republicano de funcionamento das instituições que sustentam o
Estado Democrático de Direito, crescem movimentos preocupantes questionando,
sem fundamento, as pilastras sobre as quais ele se funda, com despropositados
ataques que só conspiram contra a tranquilidade da convivência política e do
respeito ético tão caros ao nosso avanço civilizatório. Não há como deixar de
se posicionar o Ministério Público do Paraná na linha de sua incondicional
defesa de nossas trincheiras libertárias, arduamente conquistadas por tantas
gerações de combatentes do bom combate. Preservar a democracia, repudiando
quaisquer abalos provocados por ondas despóticas ou autocráticas é nosso dever
cívico. Como insistentemente pregamos, nossa evolução, no crescente
processo de eticização da política, vinda de uma história de lutas contra todas
as formas de opressão, encontra eco na tomada de posição de que somos
todos iguais. De novo, fratelli tutti, expressão
cunhada por Francisco de Assis (Admoestações, 6, 1), e agora repetida por outro
Francisco, o Bergoglio, para expressar a beleza de um amor que supera dimensões
de tempo e espaço, geografias e cronologias, bem como para encontrar uma nova
definição de política: “Ao amor, a boa política une a esperança, a confiança
nas reservas de bem que, apesar de tudo, existem no coração do povo. Por isso,
a vida política autêntica, que se funda no direito e em um diálogo leal entre
os sujeitos, renova-se com a convicção de que cada mulher, cada homem e cada
geração carregam em si uma promessa que pode irradiar novas energias
relacionais, intelectuais, culturais e espirituais”. Reflexão que traz à
tona um princípio muito apropriado para o momento, em que mais do que nunca se
faz inadiável a intransigente defesa do pacto social de que deriva nossa
Constituição Cidadã, o da fraternidade, que está no núcleo de suas cláusulas
pétreas. A opção por uma sociedade mais igual, mais generosa, mais justa e
fraterna, e, sobretudo, sempre livre para deliberar sobre seu próprio destino,
deve ser a tônica de nossas práticas políticas a serem protagonizadas por
nossos bons políticos e que, assim, bem nos representam. Uma sociedade livre de
amarras ditatoriais, composta por pessoas não apenas física ou geograficamente
próximas, mas de verdadeiros irmãos e irmãs, identificados pelo signo da
fraternidade universal, como já se escreveu antes, que plante sementes do bem
em cada espaço social para a boa colheita. O Ministério Público tem buscado
contribuir para a denúncia da incúria política, de que deriva a social. Dentro
de um processo preponderantemente integrador e gerador de ordenamentos
jurídicos, políticos e econômicos que congregue a todos, que iguale
fatidicamente homens e mulheres, que rompa as fronteiras que segregam grupos
humanos, enfim, que se dirija permanentemente à comunhão de nossa humanidade e,
dessa forma, ao bem comum. Aí está a beleza da vida. A reação e a firmeza de
posição virá pró democracia, por certo, projetadas das instituições de estado e
não de governo, em consonância com os nossos mais caros valores republicanos e
em conexão com a voz do povo, para colocarem de vez um ponto final em capítulos
que ainda teimam, no esboço de rascunhos de retrocessos, macular um caminhar
para a frente. Fique claro que este posicionamento não incursiona no
desdobramento de adesões ideológicas, sejam de que lado forem, nem tampouco
partem de direções personalistas, mas apenas reage ao preocupante conteúdo de
alguns discursos que se postam na linha de desconstrução da democracia, tão
inapropriados, em especial nesta quadra de nossa história. Que nos perturbe a
advertência, que ganha tamanha atualidade, de Bertoltd Brecht: “que tempos são
estes, em que temos que defender o óbvio?”
Procuradoria-Geral
de Justiça
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