sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Flávia Oliveira: “horror a pobre, pré-requisito do governo Bolsonaro”

 “O pastor presbiteriano, autodeclarado professor, Milton Ribeiro, disparou um trio de declarações de ruborizar Justo Veríssimo, o personagem de Chico Anysio que melhor encarnou o desprezo dos homens públicos pelos brasileiros de baixa renda”, escreve a jornalista Flávia Oliveira

Flávia Oliveira e Milton Ribeiro (Foto: Reprodução/Instagram | Isac Nóbrega/PR)

247 - "No governo Jair Bolsonaro, aporofobia não é surpresa, mas pré-requisito. Ministro da Economia, Paulo Guedes já depreciou empregadas domésticas, filhos de porteiro, brasileiros em situação de fome. A mais recente demonstração de horror a pobres partiu do titular da Educação, Milton Ribeiro, há um ano no cargo. Numa entrevista à TV Brasil, o pastor presbiteriano, autodeclarado professor, disparou um trio de declarações de ruborizar Justo Veríssimo, o personagem de Chico Anysio que melhor encarnou o desprezo dos homens públicos pelos brasileiros de baixa renda. Combinou indiferença, preconceito e desinformação, a santíssima trindade do constrangimento. Merece resposta”, escreve a jornalista Flávia Oliveira em sua coluna no jornal Globo. 

A jornalista cita recente episódio preconceituoso envolvendo o pastor, que defendeu que uma minoria ingresse nas universidades. “O ministro parece desconhecer que, no Brasil, universidade já é para poucos. Em 2019, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, apenas um em cada quatro jovens de 18 a 24 anos, idade desejável, frequentava o ensino superior. Comparado aos membros da OCDE, clube que o governo de Milton Ribeiro sonha adentrar, o Brasil tem menos habitantes que concluíram a universidade. Em Portugal, Turquia e Colômbia, a proporção de adultos de 25 a 34 anos com carreira universitária supera a do Brasil”, destaca. 

Em sua visão, “em vez de advogar pelo acesso a quem já é privilegiado, Milton Ribeiro poderia se ocupar do desânimo que, no pós-pandemia, tem levado milhares de jovens a desistir do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O total de inscritos para a prova deste ano foi o menor desde 2009, quando foi inaugurado o atual modelo de avaliação. Pesquisa do Conselho Nacional da Juventude, entre março e abril passados, com 68 mil brasileiros de 15 a 29 anos, revelou que oito em dez não fizeram o Enem 2020; 43% pensaram em abandonar os estudos durante a pandemia, principalmente por falta de dinheiro e dificuldades com o ensino remoto; 6% já largaram a escola. A indiferença oficial certamente atrapalha”. 

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