sexta-feira, 9 de julho de 2021

Bolsonaro ataca Argentina na cúpula do Mercosul

 Na reunião em que o Brasil assumiu a presidência pró-tempore do Mercosul, Jair Bolsonaro fez ataques à Argentina, enfraquecendo ainda mais o bloco

(Foto: divulgação)

Sputnik - O Brasil assumiu nesta quinta-feira (8) a presidência do Mercosul com Bolsonaro fazendo duras críticas à Argentina.

O Brasil está exigindo "flexibilidade em negociações", o que na visão de especialistas é "política neoliberal".

A presidência do bloco estava a cargo da Argentina, e em discurso durante a transferência do comando, o presidente, Jair Bolsonaro, criticou a gestão argentina realizada pelo presidente Alberto Fernández.

"O semestre que encerramos deixou de corresponder às expectativas e necessidade de modernização do Mercosul. Deveríamos ter apresentado resultados concretos nos dois temas que mais mobilizam nossos esforços recentes: a revisão da tarifa externa comum e a flexibilidade para negociações comerciais com parceiros externos", disse o presidente citado pela mídia.

Em resposta, Fernández disse nesta quinta-feira (8), que a posição da Argentina é manter as negociações em bloco, em contraposição ao que vem pregando o Brasil.

"Nossa posição é clara, cremos que o caminho é de cumprir o tratado. Negociar juntos com terceiros países ou blocos e respeitar a figura do consenso, com base na tomada de decisões em nosso processo de integração", disse Fernández.

O discurso do Brasil de flexibilização do bloco faz coro com o discurso do Uruguai, o qual anunciou na quarta-feira (6) que vai iniciar negociações com países de fora do bloco. Já o posicionamento argentino recebe apoio do Paraguai, segundo a mídia.

Tanto o presidente, Jair Bolsonaro, quanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, têm dado declarações demonstrando insatisfação por parte do governo brasileiro em permanecer no Mercosul.

No começo do mês de junho, Guedes chegou a afirmar que "ficar fechado [no Mercosul] foi muito prejudicial para o Brasil nos últimos 30 anos. O país está negociando menos com nossos parceiros hoje. Então foi uma armadilha", conforme noticiado.

Entretanto, para Marcio Malta, professor do curso de Relações Internacionais da Inest/Uff ouvido pela Sputnik Brasil, a política que o governo quer adotar para sair do bloco é uma "política neoliberal tacanha", pois apesar de querer apresentar um discurso econômico moderno, "nada mais é do que uma liberalização do comércio, uma vez que não se preocupa com os interesses estratégicos nacionais e tem como objetivo abrir a economia para interesses forasteiros".

Segundo Malta, essa flexibilização apontada por Guedes e Bolsonaro seria uma abertura da economia para produtos estrangeiros, bem parecida com a ocorrida na década de 1990, a qual foi bem desastrosa.

Porém, ao que parece, a estratégia liberal do governo de distanciamento do bloco vem avançando. No dia 30 de junho, o texto-base do acordo Brasil-Chile de livre comércio foi aprovado, o que foi visto como uma inovação para a política vigente do Mercosul, pois o bloco não prevê acordos bilaterais entre um dos seus países-membros e outro Estado à parte.

Apesar de ter sido aprovado, o texto não recebeu total apoio na Câmara por parte dos partidos, e se configurou uma clara divisão entre partidos da direita, que apoiaram sua aprovação, e da esquerda, que foram contra.

Para André Leite Araújo, doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Bolonha, Itália, ouvido pela Sputnik Brasil, existe uma preocupação em torno desses pactos porque historicamente acordos de livre comércio abrem um grande debate relativo ao real benefício que eles podem trazer para as economias nacionais.

Além da não participação do Mercosul, o acordo Chile-Brasil foi além, e não tratará apenas de questões tarifárias. O pacto também vai abarcar novas medidas para comércio eletrônico, transferências de dados pessoais, meio ambiente, igualdade de gênero e roaming internacional entre os dois países.

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