sábado, 22 de maio de 2021

Lula: ‘Só posso voltar a ser candidato se for para fazer mais do que já fiz’

 Em plenária com mais de 600 apoiadores, Lula agradeceu a luta por sua liberdade, fala sobre ser candidato em 2022 e do “sonho de reconstruir o país”

REUTERS/Amanda Perobelli (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

Por Paulo Donizetti de Souza, da Rede Brasil Atual

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou nesta sexta-feira (21) estar animado com os resultados das últimas pesquisas que o colocam como candidato favorito a vencer a eleição presidencial de 2022. Mas ainda não crava se, na hora h, será ele o nome que encabeçará uma chapa para derrotar o atual ocupante da Presidência, Jair Bolsonaro. “Estou com muita vontade e muita disposição para derrubar esses fascistas”, afirmou, mas… “Ainda não sei se sou candidato”, ponderou, alegando que ainda precisa levar em conta fatores como sua idade. Embora tenha emendado em seguida estar cuidando com afinco da alimentação e da saúde – “estou percorrendo nove quilômetros por dia, fazendo musculação”.

Além dos cuidados consigo mesmo, Lula evita sacramentar seu nome como candidato a presidente em 2022 porque, embora não tenha afirmado na live em que participou ontem, está tomando também outros cuidados. Inclusive com a articulação de uma unidade com outras forças políticas em nome do objetivo maior, que é derrotar o bolsonarismo. Nas últimas semanas, tem cumprido agenda agitada com lideranças e personalidades do mundo político, inclusive personagens que contribuíram com o ambiente de golpe que levou à explosão do antipetismo, com a sua prisão e exclusão das urnas em 2018 e com a eleição do atual presidente.


Reuniu-se com diferentes lideranças que vão do ex-candidato do Psol a presidente, Guilherme Boulos, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já declarou que se Lula for o nome a ser apoiado num eventual segundo turno, votará nele. Assim como já o declarou o tucano Aloysio Nunes, feroz opositor do PT e um dos líderes do impeachment de Dilma Rousseff.

Lula afirmou que desenvolveu a capacidade de não sentir raiva de ninguém, porque faz mal. “Não é legal ter raiva.” O ex-presidente considera que, seja qual for a definição do xadrez eleitoral em 2022, é preciso diálogo agora. O principal é reunir forças para o enfrentamento dos estragos que vêm sendo causados ao país. Porque só assim será possível construir o ambiente de resistência a esses estragos neste exato momento, e para sua posterior superação. E citou conversa telefônica mantida na manhã dessa sexta com o ator José de Abreu, em que mencionaram um pensamento de autoria desconhecida. “O primeiro a pedir perdão é o mais corajoso. O primeiro a perdoar é o mais forte. E o primeiro a esquecer é o mais feliz.”

A disposição de Lula de retomar a atividade política foi comemorada por seus apoiadores. O ex-presidente foi um dos mais de 600 participantes de uma plenária virtual organizada pelo Comitê Lula Livre, nesta sexta-feira (21), na qual falou por “apenas” 26 minutos. Provavelmente, brincou ele, porque chegou sua vez de falar justamente na hora de tomar o sorvete de tapioca de Belém do Pará que recebera de presente. Por diversas vezes, Lula reiterou que suas ações daqui para frente serão guiadas pelo “sonho de reconstruir este país”.

Universidade popular

Dezenas de oradores que participaram do movimento pela libertação de Lula, independentemente de ele falar como candidato ou não, trocaram palavras de celebração de uma “vitória histórica”, que foi a recuperação de seus direitos políticos. “Bom dia, boa tarde, boa noite, presidente Lula”, disse a atriz Guta Stresser, que falou ao lado do ator Herson Capri em nome dos setores da classe artística que atuaram na resistência por Lula Livre. Guta fazia menção aos bordões diários dos 580 dias na Vigília Lula Livre, em Curitiba. A Bebel, de A Grande Família, disse que mais que a liberdade, é preciso celebrar a “inocência, e também a elegibilidade” do ex-presidente. “É uma alegria vê-lo de volta, fazendo política, percorrendo o país. Seja bem-vindo, pois a democracia quer você de volta”, disse Herson Capri.

Um dos principais responsáveis pelos 580 dias de resistência da Vigília Lula Livre, o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Roberto Baggio classificou-a como uma universidade popular de formação política. “Foi um momento especial, de aprendizado, generosidade e paciência. E o legado disso foi uma luta vitoriosa”, disse Baggio, feliz, mas ponderado. “Temos ainda pela frente um grande trabalho de ação popular, e isso é para 2021, para 2022 e também para os desafios que virão depois.”

A dirigente da CUT Rosane Silva, “anfitriã” da live ao lado de Igor Felippe, do MST, observou que todos os passos vitoriosos das ações do Comitê Lula Livre foram obra de “mãos, pernas, cabeças e corações de homens e mulheres”. E dedicou especial crédito da perseverança da vigília de Curitiba ao MST, à CUT, ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e ao PT. Sem deixar de saudar a solidariedade de outros partidos, como PCdoB, Psol e PCO.

Momento de reconstruir

“Não foi qualquer coisa conseguir com que um juiz fosse condenado por sua parcialidade e incompetência”, disse a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB). “Agora precisamos prosseguir, com capacidade de diálogo, na construção de uma frente ampla e de um projeto nacional e popular”, afirmou Luciana, com a concordância do presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros. “O tamanho do engajamento da sociedade nessa luta pela liberdade de Lula revela o tamanho de sua importância para as liberdades democráticas“, observou Juliano. “E agora é momento de reconstruir, pois não haverá reparação de tantas injustiças que vêm sendo cometidas sem derrotarmos Bolsonaro. Vamos continuar lutando pela unidade porque ainda há muita luta coletiva pela frente.”

A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná, afirmou que ao Lula passar 580 dias preso, suportando toda sorte de humilhações, Lula estimulou toda a movimentação ao seu redor a acreditar na verdade e fazê-la acontecer. “Há muito a comemorar, mas é também tempo de vigilância. Não podemos permitir nova ofensiva de lawfare (uso da Justiça com objetivos de perseguição política). Inclusive porque faz parte do resgate da verdade mostrar que essa gente que destruiu a soberania brasileira.”

A plenária virtual do Comitê Lula Livre nesta sexta-feira marcou uma “passagem de fase” e o ingresso em uma nova etapa de mobilizações dos movimentos populares. As avaliações feitas por João Pedro Stédile, o jurista Pedro Serrano, lideranças religiosas, sindicais e sociais estão em nova reportagem a ser publicada neste domingo. Assim como a preparação para as manifestações que marcarão o retorno dos movimentos populares às ruas no próximo sábado (29).

Fonte: Brasil 247

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