terça-feira, 25 de maio de 2021

Estudo mostra que Bolsonaro e sua base radical insuflaram ataques à vacina Coronavac

 Um estudo que analisou publicações sobre a Covid-19 desde o início da pandemia mostrou que as mensagens do presidente Jair Bolsonaro e de seus apoiadores nas redes sociais insuflaram uma onda de ataques à vacina Coronavac

(Foto: ABr | Divulgação)


Sputnik Jair Bolsonaro e sua base de apoiadores radicais insuflaram ataques à vacina Coronavac. Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pela agência Sputnik avaliou milhões de postagens nas redes sociais de Bolsonaro e seus seguidores, concluindo que, em um período crítico da pandemia, foi gerada uma campanha de descrédito do imunizante produzido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan

De acordo com os autores do estudo, ligados à Rede de Pesquisa Solidária, a onda de ataques contra a vacina CoronaVac disseminou dúvidas sobre a segurança e a eficácia do imunizante, atrasando o desenvolvimento do acordo para a aquisição da vacina.


O cientista político e professor da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Márcio Coimbra, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que a retórica hostil à China do governo Bolsonaro diz mais respeito a interesses nacionais do que a uma política externa.

"Essa posição do presidente Bolsonaro visa não uma posição internacional do Brasil, mas ela visa um projeto político nacional do presidente Bolsonaro em se aproximar de um determinado grupo político que é o bolsonarismo, estar sedimentado dentro deste grupo tendo a possibilidade de conseguir no mínimo 20% das intenções de voto nas eleições do próximo ano para a presidência, para assim passar ao segundo turno", argumentou.

De acordo com o especialista, a radicalização de um discurso hostil à China era uma forma do presidente Bolsonaro "continuar fiel aos seus seguidores" para manter essa base que pode levá-lo ao segundo turno nas próximas eleições.

Por outro lado, o cientista político observou que o descrédito da China, estimulado pelos apoiadores de Bolsonaro, contribui também para que o país asiático adote uma posição mais hostil contra o Brasil, provocando o atraso no envio de insumos para a produção da vacina, por exemplo.

"Esses apoiadores conseguem ter influência muito forte dentro das políticas e da ideia de poder tanto nacional quanto internacional do presidente Jair Bolsonaro [...] Ao formar essa ideia do presidente Jair Bolsonaro, eles estimulam esse descrédito às vacinas e à China e certamente contribuem para uma tensão entre os dois países", afirmou Coimbra.

Ao comentar se a hostilidade que os seguidores de Jair Bolsonaro promoveram em relação à China pode ser um precedente para dificultar a aquisição de outros imunizantes, o especialista afirmou que o presidente é muito pautado pela parcela mais radical dos seus apoiadores, o que pode virar um obstáculo para outras vacinas sim.

"Em relação às outras vacinas, o descrédito de Bolsonaro e seus apoiadores certamente pode se estender, porque o presidente Jair Bolsonaro é muito pautado pela posição dos seus apoiadores mais radicais, e esses apoiadores mais radicais que compõem hoje 14% dos seus apoiadores, e pode chegar a 20% nas eleições, têm esse discurso radical", disse.

De acordo com ele, o presidente Bolsonaro acena para esse eleitorado com esse discurso "cada vez que ele se sente mais acuado".

"Cada vez mais que a CPI da Covid, por exemplo, avança e deixa o governo mais encurralado em determinados aspectos, o presidente Jair Bolsonaro tende a radicalizar o discurso. E, ao radicalizar o discurso, ele pretende se colocar mais alinhado com esses apoiadores dentro desse círculo de 20%", disse.

"Então isso sim pode virar levar ao descrédito de outras vacinas como a da China e também a de outros países, caso esses apoiadores vejam isso como uma ameaça", completou o cientista político.

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