Desde que a CPI da Covid foi anunciada,
no início de abril, canais de apoiadores do bolsonarismo no YouTube têm
promovido uma limpa de vídeos sobre tratamento precoce de sua base de vídeos.
Levantamento da Novelo Data a pedido do Congresso em Foco identificou
que, entre o dia 14 de abril e esta quinta-feira (6/5), 443 vídeos de 34
canais, tratando de tratamento precoce, sumiram do ar.
Alguns
dos canais mais relevantes de apoio ao presidente Jair Bolsonaro promoveram
grandes operações para apagar conteúdo. O comentarista Alexandre Garcia,
por exemplo, escondeu 109 vídeos neste período; a ex-apresentadora de TV Leda Nagle, que hoje comanda um
canal com entrevistas, também retirou do ar 23 vídeos nas últimas semanas.
Garcia, que também é colunista na CNN, tinha neste domingo 1,89 milhão de
inscritos e chegou a sumir com 502 vídeos em uma semana, ou 43% da sua base de
videos; Leda Nagle tinha 1,06 milhão.
Veja a lista completa de vídeos que saíram do ar:
A maioria dos
vídeos apagados tem ligação ao "tratamento precoce" contra covid-19,
o coquetel de medicamentos composto por cloroquina, hidroxicloroquina e
ivermectina defendido por Bolsonaro que é ineficaz contra o tratamento da
doença. "Exija a HIDROXICLOROQUINA do seu médico" e
"HIDROXICLOROQUINA está funcionando sim!" ambos sumiram do canal de
Alexandre Garcia em 18 de abril.
O
levantamento aponta inclusive um vídeo do jornal Gazeta do Povo, do Paraná –
que deletou o vídeo "Amanda Klein tenta deixar prefeitos em saia justa mas
leva resposta a altura" em 30 de abril. A lista consta com vídeos de
outros temas: "CPI já tem conclusões antes de começar", do canal Notícias
Política BR (com 571 mil inscritos) também foi retirado do ar. "Na
Noruega, a vacina da Pfizer e mortes de
idosos", do youtuber Gustavo Gayer, também saiu do ar.
Gayer,
com 353 mil inscritos, anunciou neste sábado (8) que o seu canal será deletado, e acusou o YouTube de derrubar sua conta.
"Aos poucos, essa plataforma que você me assiste agora vai começar a
excluir, deletar e banir todos os os conservadores e aqueles que falam em nome
da direita", disse, "e até o meio do ano que vem, não deverá haver
nenhum aqui". O produtor de canal gaúcho, que se define como apoiador do
presidente, disse que o YouTube - ligado à Google – lhe deu uma
suspensão de advertência de sete dias, e que por isso seu conteúdo irá migrar
para outras plataformas.
Não é
possível apontar se os vídeos foram efetivamente apagados ou meramente
ocultados no site. Não se sabe também se a onda de apagamento de vídeos partiu
de uma iniciativa dos produtores de conteúdo conservadores ou do próprio
YouTube – que, procurado pela reportagem, não se manifestou até o momento. A
ação da plataforma é uma das possibilidades apontadas pelo sócio-fundador da
Novelo Data, Guilherme Felitti. "A maneira como eu interpreto YouTube
resolveu ser menos omisso no papel de regulamentar a própria plataforma, de
executar suas próprias regras", disse. "O YouTube tem regras contra
este tipo de conteúdo, já tinha regras deste tipo antes daquela mudança que
fizeram no mês passado – só nunca executaram."
O
número de vídeos apagados, pondera Felitti, pode ser maior – uma vez que, mesmo
sem citar temas como tratamento precoce no título, tais assuntos podem ser
abordados durante o vídeo. Caso o apagamento esteja mesmo ocorrendo por ação do
YouTube, a ação seria ineficaz. "O problema de desinformação do Youtube
precisa ser resolvido quando você deleta vídeos no atacado", explica,
"e o Youtube faz isso no varejo – pinçam alguns vídeos só para falar que
estão fazendo."
CPI vai atrás de influenciadores
A CPI
da Covid já partiu no encalço de influenciadores digitais próximos ao governo.
Dois requerimentos já aprovados buscam saber se a Presidência da República, por
meio da Secretaria de Comunicação (Secom), fez pagamentos para
defesa de teses caras ao governo.
Ambos
os requerimentos foi aprovado em 29 de abril, e é de autoria do senador Alessandro
Vieira (Cidadania-SE). Outro deles foi encaminhado ao
Ministério da Saúde.
Felitti
considera "curioso" o timing dos apagamentos de vídeos – justamente
quando uma investigação ameaça ir atrás de possíveis fontes de financiamento de
propaganda. "É muito curioso ter limpezas gigantescas de canais
negacionistas durante a instauração da pandemia e dos depoimentos", diz.
No
entanto, o analista não dá isso como certo. "Estamos vendo o mesmo
acontecer com a Leda e o Alexandre Garcia – que é dar uma suspensão de
advertência por conta de algum vídeo que feriu as regras de sua comunidade. Se
ele tirar algum vídeo do seu canal três vezes em 90 dias, você perde o canal.
Então é possível que o YouTube marcou certo número de vídeos problemáticos e
permitiu que seus próprios criadores apagassem o conteúdo antes de uma nova
suspensão. Confrontados entre esta possibilidade de deixar o vídeo e perder o
canal, ou deletar o vídeo e manter o canal, parece que se escolheu pela segunda
opção."
Fonte:
Congresso em Foco
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