Decisão da multinacional General Mills fará o
município de Nova Prata perder R$ 2 milhões da arrecadação anual
No próximo 1º de
maio, 300 trabalhadores do município de Nova Prata, na Serra Gaúcha, não
terão o que festejar. Todos serão demitidos na véspera do Dia Internacional dos
Trabalhadores, porque a principal empregadora do município, a Yoki, fechará
definitivamente suas portas.
A
decisão não passou por qualquer discussão com os empregados, os sindicatos ou a
prefeitura, afirmam fontes ouvidas pela Brasil
de Fato na região. Foi tomada milhares de quilômetros
distante do Brasil, em Minneapolis, cidade sede da multinacional General Mills,
que controla o grupo Yoki desde 2012.
“Da
noite pro dia você tem 300 desempregados. São 300 famílias. Traz um baque
social e a cidade toda sente muito porque vem a questão econômica”, resume José
Modelski, diretor da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na
Indústria da Alimentação (Contac-CUT). “A Yoki tem um faturamento que
representa 10% da arrecadação municipal”, acentua o sindicalista.
“É um impacto local e regional”
Anderson
Bolzan, secretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico de Nova Prata, tem
uma cifra mais precisa: “Em 2019, representou 14,84% do valor adicionado. Não é
possível precisar o retorno em números absolutos, mas é algo aproximado a R$ 2
milhões/ano para o município”, informa.
O
diretor da Contac-CUT adverte que as consequências vão além da cidade. “É um
impacto importante em nível local e regional, com reflexos na cadeia produtiva,
englobando fornecedores, prestadores de serviço e pequenos agricultores”, diz.
Uma decisão irreversível
Modelski
conta que, na hora do anúncio, a Yoki não apresentou argumentos relacionados à
Nova Prata ou aos trabalhadores. Apenas informou que o assunto estava resolvido
e não havia possibilidade de alterar a ordem vinda da sede norte-americana,
tomada há mais tempo e não executada apenas devido à pandemia.
“A
decisão já havia sido tomada pelos acionistas nos Estados Unidos. Apesar de
argumentarmos e tentarmos reverter, não houve a possibilidade”, lamenta Bolzan.
Para
se instalar em Nova Prata, além de vantagens fiscais, a Yoki recebeu dois
terrenos doados pelo município. Um deles com 70 mil metros quadrados e outro
com 44 mil. As despesas de escrituração e registro de imóveis correram por
conta do erário público.
“A
empresa está colocando à venda suas instalações, mas a expectativa que a gente
tem é que dificilmente outra indústria irá se instalar no local, gerando um
número de empregos comparável à Yoki”, considera Modelski.
Transferência para Minas
Gerais
A
produção de pipocas realizada em Nova Prata será deslocada para a unidade de
Pouso Alegre, em Minas Gerais. A transferência foi decidida como fator de
“redução de custos e adequação da logística”.
Seria,
diz Modelski, para continuar a produção “em unidade mais moderna, utilizando
menos mão de obra e com o fornecimento de matéria-prima já planejado pela
empresa”.
A
General Mills chegou ao Brasil em 1997 vendendo o sorvete Häagen-Dazs.
Expandiu-se para a produção de pipocas, temperos, caldos em pó, sucos,
chás, refrigerantes e laticínios.
Em
2012, comprou o grupo Yoki Alimentos, tornando-se dona das marcas Yoki, Mais
Vita e Kitano. Quatro anos depois, adquiriu a empresa e a marca Carolina para
produzir iogurte, leite fermentado e bebidas lácteas.
A
indústria da alimentação, ao contrário de outros ramos da economia, não
registrou perdas consideráveis durante a pandemia. “Os frigoríficos continuam
empregando e alguns trabalhadores da Yoki serão contratados pelo setor”,
exemplifica o diretor da Contac-CUT. No Brasil, o setor de alimentação emprega
cinco milhões de trabalhadores, dos quais 500 mil no Rio Grande do Sul.
Outro lado
O Brasil de Fato entrou
em contato com a unidade da Yoki em Nova Prata, mas ainda não obteve retorno. A
resposta da empresa será incluída nesta reportagem assim que for enviada.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko
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