A
principal derrota para o presidente Jair Bolsonaro foi a confirmação do senador
Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da comissão parlamentar de inquérito
O Palácio
do Planalto perdeu a primeira batalha para a CPI da Covid, instalada na
terça-feira, 27, no Senado, após várias tentativas de aliados do governo de
adiar os trabalhos. A principal derrota para o presidente Jair Bolsonaro foi a
confirmação do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da comissão
parlamentar de inquérito. Renan foi designado pelo presidente da CPI, Omar Aziz
(PSD-AM), e, ao assumir o posto, fez um duro discurso com recados ao Planalto,
dizendo que não se curvará a "intimidações".
Em sua estreia na
relatoria, Renan apresentou uma lista com 11 sugestões de requerimentos - oito
dois quais com foco na gestão de Bolsonaro. Além disso, há outros 169 pedidos
protocolados por integrantes da CPI para investigações. O primeiro convocado
para falar à CPI, na próxima terça-feira, será o ex-ministro da Saúde Henrique
Mandetta, um dos principais críticos à condução da pandemia de coronavírus por
Bolsonaro. Médico, Mandetta foi demitido em abril do ano passado, após defender
o isolamento social e se recusar a indicar o tratamento precoce com
medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina.
"Não foi o acaso ou o flagelo divino
que nos trouxe a este quadro. Há responsáveis, há culpados, por ação, omissão,
desídia ou incompetência e eles serão responsabilizados", disse o senador.
"Os crimes contra a humanidade não prescrevem jamais (...). O país tem o
direito de saber quem contribuiu para as milhares de mortes. E eles devem ser
punidos imediatamente e emblematicamente".
O governo fez de tudo para tirar Renan da
relatoria, um cargo estratégico, responsável por dar o tom dos trabalhos e até
recomendar o indiciamento de autoridades. Não conseguiu. Logo cedo, o Tribunal
Regional Federal da 1ª Região suspendeu uma decisão do juiz Charles de Morais,
da 2ª Vara Federal Cível do Distrito Federal, que barrava a indicação do
senador para o cargo de relator. A liminar havia sido expedida em ação
protocolada pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP), mas foi derrubada.
Bolsonaro vê a CPI que vai investigar
erros e omissões do governo federal na pandemia como palanque político para
desgastá-lo, a um ano e meio da eleição de 2022. Renan é aliado do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já se prepara para a campanha ao
Planalto após o Supremo Tribunal Federal anular as condenações que lhe foram
impostas pela Lava Jato.
Pazuello
Uma das maiores preocupações do Planalto
na CPI, hoje, é com o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que
também será convocado. Ao deixar o cargo, em março, Pazuello denunciou um
esquema de corrupção no ministério e atribuiu sua queda a um complô formado por
políticos descontentes com a falta de "pixulé" e também por
integrantes da pasta que queriam empurrar uma "pseudo nota técnica"
em defesa de um remédio.
Manobra
Depois de um início tumultuado de sessão,
com a tropa de choque de Bolsonaro tentando adiar a instalação da CPI, Aziz foi
eleito por 8 votos a 3 e imediatamente confirmou a indicação de Renan. Autor do
requerimento original de criação da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi escolhido
pelos pares como vice-presidente. Até mesmo o senador Ciro Nogueira (PI),
presidente do Progressistas e apoiador de Bolsonaro, votou em Aziz ao perceber
a derrota. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que se diz independente, mas
atua alinhado com o Planalto, concorreu à presidência da CPI, mas teve apenas
três votos.
Coube ao senador Flávio Bolsonaro
(Republicanos-RJ), filho do presidente, o protesto mais enfático contra Renan.
Flávio também viu "ingratidão" e "irresponsabilidade" na
atitude do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de abrir a CPI,
embora a ordem para a instalação tenha partido do STF.
Flávio afirmou,
ainda, que haverá novos "questionamentos judiciais" sobre a escolha
do relator por ser ele pai do governador de Alagoas, Renan Filho. A CPI também
promete investigar o destino do dinheiro repassado pelo governo federal a
Estados e municípios para o combate à pandemia. Em minoria na comissão, os
aliados de Bolsonaro querem mostrar que a verba foi desviada.
As informações são do jornal O Estado de
S. Paulo.
Fonte:
Noticias ao Minuto
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