O
resultado é desinformação, mentira, fake news ou algum outro sinônimo ao gosto
do freguês. No 1º de abril, veja mentiras sobre a Covid
Uma doença nova altamente contagiosa na era das redes sociais
e da informação rápida e muitas vezes imprecisa. O resultado é desinformação,
mentira, fake news ou algum outro sinônimo ao gosto do freguês.
Dos remédios milagrosos –que não funcionam– aos absurdos de que máscara e vacinas fazem mal, abaixo estão algumas das mentiras mais ouvidas na pandemia e como combatê-las.
*
"A Covid-19 pode ser curada ou prevenida com remédios"
Não há nenhum
remédio que cure ou consiga prevenir a Covid, segundo as principais entidades
de saúde do mundo, entre elas a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Há, no momento, somente drogas que
conseguem ter impacto sobre o curso da doença. A grande pesquisa Recovery
demonstrou que o corticoesteroide dexametasona reduz a mortalidade em pacientes
com Covid grave.
O anticorpo monoclonal tocilizumabe foi
outra droga a apresentar resultados positivos. No estudo Recovery, a droga
mostrou efeito em pacientes hospitalizados com hipóxia (baixa oxigenação no
sangue) e quadro de inflamação, diminuindo o tempo de internação, necessidade
de ventilação invasiva e mortalidade. Mas, ao contrário da dexametasona, o
tocilizumabe é caro e possui menor disponibilidade.
As duas drogas têm ação e objetivo
semelhantes: reduzir a inflamação dos pacientes graves, que costumam ter
quadros de tempestade inflamatória, na qual o corpo ataca a si mesmo.
Outros medicamentos ainda estão em estudo.
"O
certo é começar a usar os remédios logo no início dos sintomas, depois não
funcionam"
Nenhum medicamento usado no início dos
sintomas da Covid se mostrou eficaz contra a Covid. Hidroxicloroquina,
azitromicina, ivermectina, nitazoxanida, vitamina D, zinco e por aí vai. Todas
as drogas tidas como parte do "tratamento precoce" –que não existe–
não são eficazes contra a Covid.
O presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) e o próprio Ministério da Saúde, apesar das evidências
contrárias, incentivaram e indicaram o uso dessas drogas contra a Covid.
Algumas delas, de início, em testes in
vitro, mostravam-se interessantes para análise em pesquisas em humanos. Tais
estudos foram realizados e não encontraram efeitos benéficos. Dessa forma,
esses medicamentos não fazem parte das orientações de tratamento das principais
entidades de saúde nacionais e internacionais.
Um caso curioso é o da ivermectina. Até
mesmo a indústria farmacêutica que desenvolveu a droga, a Merck (MSD, no
Brasil) veio a público afirmar que estudos mostram não haver benefício no uso
do vermífugo contra a Covid.
Nesta quarta (31), a OMS afirmou que a
droga não deve ser usada fora de testes clínicos e que se deve combater a
prescrição indiscriminada do remédio sem eficácia, o que pode trazer mais
malefício do que benefício.
Vale destacar que a verificação de efeito
de uma droga se dá por estudos duplo-cegos, randomizados e com grupo controle.
Assim, é possível minimizar vieses que possam interferir no resultado da
pesquisa.
"Os
remédios do 'kit Covid' são usados há anos para outras doenças, mal não vão
fazer"
De fato, os remédios do "kit
Covid" são usados há bastante tempo para outras doenças. Isso, porém, não
quer dizer que possam ser usados sem riscos contra a Covid.
Um exemplo simples é o caso da aspirina e
da dengue. A droga, amplamente conhecida, não é indicada para a doença
transmitida pelo Aedes aegypti pelo maior risco de sangramentos.
Já há documentação de hepatites
medicamentosas derivadas do uso do "kit Covid" –o que levou um
paciente do interior de São Paulo à lista de transplante de fígado. Também há
relatos de mortes, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
Essas drogas estão sendo prescritas –mesmo
sem evidência científica de suporte– em doses e frequências normalmente não
estudadas.
"É
só uma gripezinha"
Embora a maior parte dos casos de Covid-19
se pareça com uma gripe comum, uma pequena parte dos doentes tem um processo
inflamatório grave, espalhado pelo corpo. Hoje, os médicos consideram a
Covid-19 uma doença complexa, que exige tratamentos para diversas partes do corpo
ao mesmo tempo a fim de evitar a morte nos pacientes em estado mais grave.
O vírus se conecta a um receptor
específico, o ECA2, que está presente em células do sistema respiratório,
intestino, rins e vasos sanguíneos. Nessas áreas, o efeito do invasor para
destruir as células é direto e localizado.
A presença do
vírus desencadeia a tempestade de citocinas, proteínas que regulam a resposta
imunológica, e que surgem para ajudar o corpo a se defender do invasor. Mas em
alguns casos essa resposta pode ficar descontrolada e atrair mais células
inflamatórias para a região, o que prejudica ainda mais os órgãos afetados pelo
vírus."Pessoas jovens não sofrem os mesmos efeitos deletérios da Covid-19
que os mais velhos"
Apesar de pessoas mais velhas terem um risco
maior de morrer, os mais jovens também correm risco de morte.
Recentemente, tem sido observado um
aumento substancial de jovens internados em UTI. Há também a questão de
possíveis sequelas da Covid, tema ainda não totalmente compreendido e
estudado."
Todo
mundo tem que pegar a doença para chegar na imunidade de rebanho"
A imunidade de rebanho, ou seja, uma fatia
grande o suficiente da população imunizada a ponto do vírus ter dificuldade
para circular, deve ocorrer somente com vacinação em massa. As experiências no
mundo de deixar que a população se infecte para atingir a imunidade coletiva se
mostraram fracassadas, como no caso da Suécia.
No Brasil, em regiões onde o Sars-CoV-2
teve grande circulação, como em Manaus, também não se viu a propagandeada imunidade
de rebanho ao mesmo tempo em que houve níveis de mortes altíssimos, colapso do
sistema de saúde, e falta de oxigênio e drogas para intubação.
A ideia se mostra , portanto, inviável
pelo tamanho da perda humanitária que acarretaria.
"O
número de mortes divulgado pela imprensa é exagerado"
Os números da Covid divulgados por
iniciativas como a do consórcio de veículos de imprensa são provenientes das
secretarias estaduais de Saúde. Ao invés de exagerados, os dados são
subestimados, considerando que no início da pandemia, em especial, houve
considerável subnotificação das mortes provocadas pela doença.
Algumas reportagens também mostram dados
de mortes do Registro Civil, que, mesmo com algum grau de atraso, reforçam a
gravidade e os números elevadíssimos de óbitos por Covid.
"A
vacina pode causar a Covid-19"
Sintomas muito leves que podem aparecer
após a aplicação de uma vacina não indicam que a pessoa foi infectada com o
vírus nem são sinais de que o imunizante não é seguro. Essas reações mostram
que o sistema imunológico está em estado de alerta e trabalhando para construir
as defesas contra o patógeno e, assim, evitar o surgimento ou o agravamento da
doença.
"A
vacina pode te transformar em jacaré ou inserir um chip de 5G no seu corpo"
Em dezembro, o
presidente Jair Bolsonaro disse que a Pfizer, uma das fabricantes mundiais da
vacina, não se responsabiliza por efeitos colaterais e que "se tomar e
virar jacaré é problema seu". "Se virar um super-homem, se nascer
barba em mulher ou homem falar fino, ela [Pfizer] não tem nada com isso",
afirmou.
É impossível que qualquer medicamento ou
vacina transforme uma espécie animal em outra. Também não é verdade que a
vacina pode dar superpoderes, fazer crescer barba ou alterar o tom da voz de
uma pessoa.
A frase "virar jacaré" virou
meme e até foi criado um site chamado jacaré-tracker para monitorar quantas
pessoas já viraram jacaré após tomar a vacina. O acumulado até agora é zero.
Uma outra teoria conspiratória surgiu
alegando que as vacinas contra Covid-19 produzidas na China iriam implantar um
chip 5G no corpo das pessoas. Dentre os componentes das vacinas estão água,
sais, estabilizantes, adjuvantes, como o hidróxido de alumínio, que ajuda a
aumentar a resposta imunológica, açúcar e até derivados de ovo, mas não há
microchips. Ou seja, sem upgrade gratuito na conexão do celular.
"A
vacina altera nosso DNA"
As vacinas de RNA, inéditas no mundo,
foram aceleradas devido à emergência sanitária. Por utilizarem o material
genético do vírus para induzir resposta imune no organismo, as vacinas que usam
essa tecnologia, como é o caso da Pfizer/BioNTech e da Moderna, conseguiram
sair na frente da corrida por um imunizante contra o coronavírus.
Mas não tardou até que surgissem
desinformações sobre a sua forma de ação e até mesmo vídeos em que supostos
médicos ou especialistas alegam que as vacinas são capazes de modificar o
material genético dos humanos.
Na verdade, pelo próprio mecanismo de
ação, é impossível que as vacinas de RNA alterem nosso DNA celular pois elas
nem sequer têm contato com o núcleo das células, onde está a nossa informação
genética.
O RNA das vacinas vem empacotado em uma
vesícula de lipídeos (gordura) capaz de entrar na membrana celular. Dentro das
células, o RNA mensageiro carrega uma mensagem, no caso o código para a
produção da proteína S do Spike, e ao ser lido ("traduzido"), várias
cópias dessas proteínas virais são produzidas. Essas proteínas virais são
reconhecidas como corpos estranhos (antígenos) e induzem à resposta imune.
A partir daí, a resposta imune é igual à
que seria gerada caso fossem utilizadas vacinas mais tradicionais, como aquelas
que usam fragmentos do vírus ou o vírus morto.
"A
vacina pode causar danos neurológicos ou coágulos"
Durante os testes das vacinas, foram reportados
dois eventos adversos graves nos testes da vacina da Oxford/AstraZeneca, um
deles um caso de mielite transversa, uma doença neurológica grave. Após análise
dos especialistas, não houve comprovação de associação do evento com a vacina.
Em março de 2021, foram reportados casos
de coágulos em pessoas vacinadas com a vacina da Oxford em diversos países
europeus.
O número de casos, no entanto, era muito
pequeno e, após uma análise da agência regulatória europeia, concluiu-se que o
imunizante não está associado a um aumento do risco geral de coágulos nas
pessoas vacinadas, tampouco foi possível comprovar que a vacina tenha provocado
os casos.
No Brasil, a ocorrência de efeitos
adversos graves nos vacinados corresponde a 0,007%, segundo dados do Ministério
da Saúde, considerando ainda as duas vacinas aplicadas, a Coronavac e a da
Oxford/AstraZeneca. Ambas têm se mostrado seguras e os efeitos mais comuns
reportados são dores de cabeça, dores no corpo e fadiga.
"As
vacinas foram desenvolvidas rápido demais e não são seguras"
A gravidade da pandemia do novo
coronavírus fez com que empresas e centros de pesquisa tivessem à disposição
muito mais recursos para desenvolver imunizantes.
Além disso, aumentou a colaboração mundial
entre cientistas em busca de vacinas. O fato de milhares deles estarem
pesquisando o mesmo assunto aumentou a chance de que alguns estudos dessem
certo.
Por fim, agências reguladoras e governos
agilizaram autorizações para os testes clínicos e foi mais fácil achar dezenas
de milhares de voluntários para as pesquisas, ainda mais ao se levar em conta
os elevados números de infectados no mundo.
Esse esforço fez com que as vacinas
pudessem ser criadas muito mais rápido que foram para outras doenças. Apesar
disso, os imunizantes seguiram todas as etapas de testes clínicos, de segurança
e de registro por autoridades sanitárias, no caso daquelas que já foram
autorizadas.
"Máscara
faz mal à saúde"
As máscaras podem ser desconfortáveis
–especialmente no calor–, mas não há estudos que indiquem que elas fazem algum
mal à saúde, desde que feitas e usadas de acordo com as recomendações das
autoridades sanitárias.
As máscaras devem ser feitas com materiais
que filtram as partículas maiores, mas ainda permitam a passagem do ar para não
haver risco de sufocamento. Elas devem ser usadas bem ajustadas, sem espaços
entre a máscara e o rosto.
"Máscara
de pano não funciona contra o coronavírus"
Pesquisas têm mostrado a eficácia de
máscaras de pano para minimizar o risco da transmissão de vírus respiratórios,
incluindo o Sars-CoV-2. Segundo testes feitos em laboratório, máscaras de
tecido feitas com três camadas podem filtrar a mesma quantidade de gotículas
que uma máscara cirúrgica.
Para funcionar, a máscara precisa estar
seca e bem ajustada ao rosto. Especialistas recomendam respiradores do tipo
PFF2 (N95) para situações de maior risco.
"O
lockdown não funciona"
Inúmeros exemplos comprovam que o lockdown
é eficaz para conter a transmissão do vírus.O Sars-CoV-2 é transmitido de uma
pessoa infectada para outra principalmente por gotículas de saliva –algumas
menores que podem permanecer suspensas no ar por horas. Quando o contato entre
as pessoas é reduzido, a circulação do vírus diminui.
Um exemplo de lockdown bem sucedido vem da
cidade de Araraquara (a 273 km de São Paulo), que viu as mortes causadas pela
Covid-19 caírem drasticamente após adotar uma série de medidas restritivas mais
severas.
Fonte: Notícias ao
Minuto
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