Documento apresenta que a sociedade paranaense é amplamente contrária à proposta da União para a concessão de rodovias e será protocolado na ANTT.
Audiência pública da Frente Parlamentar sobre o Pedágio realizada em Francisco Beltrão.Créditos:Dálie Felberg/Alep
A Assembleia Legislativa do Paraná elaborou um manifesto em que pontua as
conclusões das audiências públicas realizadas pela Frente Parlamentar sobre o
Pedágio. O documento, que até o final da sessão plenária desta segunda-feira
(5) foi assinado por 47 deputados, demonstra que a sociedade paranaense é
amplamente contrária à proposta da União para a concessão de rodovias.
O manifesto do legislativo estadual será protocolado
nesta segunda-feira (05) na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A data marca o encerramento da Audiência Pública 01/2021, aberta pelo órgão
federal para coletar críticas e sugestões ao modelo de concessão previsto para
o Paraná.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado
Ademar Traiano (PSDB) relatou que há uma preocupação muito grande dos
paranaenses com o modelo que está sendo proposto e que esse manifesto do Poder
Legislativo é resultado de diversas audiências públicas realizadas pelo estado
com a sociedade civil organizada. “O modelo que hoje se desenha não é o que os
paranaenses estão querendo. Não conseguem aceitar em função de todo um
histórico. Queremos tarifas justas e duplicação de estradas. Falo em nome do
Poder Legislativo, e há um consenso de que não dá para absorver o modelo que
está se tentando implantar no Paraná”, afirmou. “A ferida do modelo atual não
cicatrizou até hoje em função do desenho que se fez à época, de uma forma
totalmente errada, e que beneficiou apenas os donos das concessionárias e não
aos paranaenses. O Paraná é um grande produtor. A preocupação que todos temos
com a nova modelagem é muito grande”, completou.
O primeiro-secretário da Assembleia, deputado Luiz
Cláudio Romanelli (PSB), afirma que o documento alerta que, diante da atual
situação e do modelo proposto, a posição majoritária dos deputados e deputadas
é de não autorizar a cessão das rodovias estaduais para integrar o programa de
concessão. “São 1.163 quilômetros dos 3.327 quilômetros que formam o projeto. O
Paraná busca um modelo que assegure tarifas justas, obras e competitividade.
Uma licitação pelo critério do menor preço e que não limite a competitividade”,
salienta. “Em síntese, o Paraná se posiciona contra o modelo híbrido, quer
garantias para as obras e defende que o leilão seja realizado pelo critério de
menor preço de tarifa”, acrescenta Romanelli.
O deputado Arilson Chiorato (PT), coordenador da
Frente Parlamentar, reforça que o documento foi construído com propostas,
críticas e sugestões coletadas nas 10 audiências públicas, em reuniões técnicas
e em documentos encaminhados por representantes da sociedade civil organizada
paranaense.
“Esta manifestação não se trata apenas de uma
vontade dos parlamentares e sim de expor aquilo que os paranaenses defendem
para o Estado”.
Audiências - O texto foi consolidado após a realização de 10 audiências
públicas regionais e destaca que a concorrência pelo modelo híbrido, cujo
critério de desempate seria o pagamento de uma espécie de outorga, “é o tema
mais rechaçado pelos paranaenses, posto que encarece a tarifa”.
A sociedade também exige uma garantia efetiva para a
execução de obras. A sugestão, neste caso, seria a adoção de um depósito de
caução, a ser calculado com base no volume de investimentos ou da receita
prevista pela concessão.
Os participantes das audiências, que falaram em nome
de diversos extratos da sociedade e da economia do Paraná, entendem que o
“critério do leilão deve ser exclusivamente pelo menor preço de tarifa”. O
documento expõe que a proposta apresentada pelo Ministério da Infraestrutura,
Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e ANTT, limita o desconto a 17,4% e
isso não garante um valor de pedágio vantajoso para os usuários, além de inibir
a competitividade das empresas.
Outro critério questionado nas audiências da Frente
Parlamentar Sobre o Pedágio é o que concede até 40% de aumento automático nas
tarifas após a conclusão de obras de duplicação. O documento da Assembleia
Legislativa sustenta que “não há nenhum fundamento técnico” no percentual
proposto, que é tratado como um “prêmio” às empresas. “O percentual é muito
elevado e algumas duplicações de rodovias previstas na proposta já foram pagas
pelos paranaenses”, pondera o texto.
Transparência - O manifesto também
cobra transparência irrestrita, tanto no processo de concorrência quanto na
execução dos contratos, além de demonstrar que os paranaenses querem que as
obras previstas sejam executadas no início da concessão e concluídas no menor
prazo possível.
Outras questões tratadas no documento se referem à
localização de praças de cobrança, de modo que o sistema não penalize o tráfego
regional, e a ampliação das discussões regionais e locais sobre as obras
inseridas no projeto apresentado pelo Ministério da Infraestrutura.
Delegação - Há ainda o alerta sobre os atuais contratos
de concessão de rodovias que formam o Anel de Integração. O passivo dos atuais
contratos em litígio “deverá compor os ativos a serem licitados. O resultado
deverá ser incorporado ao contrato de exploração do lote”, informa o texto do
documento. De acordo como manifesto, a sociedade paranaense também exige uma
explicação em relação ao prazo de concessão.
Por fim, os deputados estaduais informam que a
posição majoritária do Poder Legislativo paranaense “é de não autorizar a
cessão das rodovias estaduais” incluídas no modelo de concessão elaborado pelo
governo federal. São 1.163 quilômetros dos 3.327 quilômetros que serão
transferidos ao setor privado.
“Se não houver concordância com o critério de
licitação exclusivamente pelo menor preço de tarifa, sem limite de desconto, as
rodovias estaduais não serão delegadas para a exploração pela União”, informa o
manifesto.
Veja a íntegra das proposições:
A Frente Parlamentar sobre o Pedágio da Assembleia
Legislativa do Paraná, por meio de seus integrantes e após debates com a
sociedade civil organizada paranaense, em audiências públicas regionalizadas,
realizadas em dez cidades polos e de diversas reuniões técnicas, apresenta as
seguintes conclusões sobre a proposta técnica, edital e minuta de contrato que
são comuns a todos os lotes:
1) O modelo híbrido proposto, como critério de
desempate de leilão, com a cobrança da maior outorga (ou estratégia
equivalente), pela empresa vencedora do certame, e a criação de novas praças de
pedágio são os temas mais rechaçados pelos paranaenses.
2) Defende-se que no contrato conste cláusula de
garantia de realização das obras por meio de deposito de caução, por percentual
do valor contratual ou da receita da concessionária para investimentos
presentes no CAPEX, ou ainda, por meio de garantia similar.
3) O critério do leilão deve ser exclusivamente pelo
menor preço de tarifa, sem limite de desconto, já que a atual proposta e da
forma pela qual foi apresentada, de percentual máximo de desconto (17,4%), não
garante a proposta mais vantajosa e inibe a competitividade que caracteriza uma
concessão à iniciativa privada.
4) A criação de degrau tarifário de 40%, após a
duplicação de trecho de rodovia, não tem nenhum fundamento técnico, pois está
previsto como incentivo, uma espécie de “prêmio”, se a concessionária cumprir o
contrato que estabelece a obrigação. O percentual é muito elevado e algumas
duplicações de rodovias previstas na proposta já foram pagas pelos paranaenses.
Tal situação deve ser revista tendo em vista que a maioria das rodovias
incluídas no plano proposto são concedidas à iniciativa privada em contratos
ainda não findos, que não foram respeitados e que devem ser avaliados pelos
estudos da ANTT.
5) Transparência irrestrita nos trâmites
licitatórios e na execução contratual com a criação de comitês para
acompanhamento dos contratos com a participação dos usuários e de
representantes dos municípios atingidos pelo processo de exploração da rodovia.
6) As obras devem ocorrer logo no início da
concessão e o tempo para sua conclusão deve ser o menor possível;
7) É fundamental reavaliar a criação de novas praças
e a localização das praças de pedágio já existentes, principalmente aquelas
previstas em áreas urbanas e em áreas que afetem o livre tráfego regional e
entre cidades próximas, interferindo no trabalho, estudo, segurança, saúde dos
usuários e gerando impacto social e econômico regional.
8) É imprescindível a discussão local sobre obras
previstas, não previstas e rodovias que não estão incorporadas ao programa
proposto pela ANTT.
9) O passivo dos atuais contratos do chamado “Anel
de Integração” em litígio deverá compor os ativos a serem licitados. O
resultado deverá ser incorporado ao contrato de exploração do lote.
10) A extensão de prazo de 24 para 30 anos de
contrato é injustificável, ou no mínimo, motivo de questionamentos, não sendo
encontrado respaldo técnico a esse benefício que será concedido às empresas
vencedoras da licitação.
11) Comunicamos que a posição majoritária das
deputadas e deputados estaduais do Poder Legislativo paranaense, é de não
autorizar a cessão das rodovias estaduais (1.163 quilômetros dos 3.327
quilômetros) que constam do sistema estadual rodoviário e que estão previstas
para integrar o Programa de Exploração de Rodovias (PER), proposto pelo Governo
Federal, em síntese: se não houver concordância com o critério de licitação
exclusivamente pelo menor preço de tarifa, sem limite de desconto, as rodovias
estaduais não serão delegadas para a exploração pela União.
Fonte: Alep
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