segunda-feira, 5 de abril de 2021

Golpe é não ter impeachment, diz coronel ex-assessor do general Santos Cruz

 Em entrevista ao jornalista Luis Costa Pinto, o coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza, que foi assessor especial do general Santos Cruz na Secretaria de Governo da Presidência, afirmou que o "não impeachment de Bolsonaro diante de razões tão mais evidentes para o início de um processo de responsabilização política... é um cheiro de golpe". Também disse que em 1964 os militares deram um "golpe". "Já passou da hora de fazermos uma autocrítica"

Coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza (Foto: Reprodução)


247 - O coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza, que foi assessor especial do general Santos Cruz na Secretaria de Governo da Presidência, bateu duro no governo Jair Bolsonaro ao criticar o espaço concedido a militares na gestão. "A geração de Bolsonaro resolveu politizar a instituição (o Exército)", disse ele em entrevista ao jornalista Luis Costa Pinto. Também afirmou que o "não impeachment de Bolsonaro diante de razões tão mais evidentes para o início de um processo de responsabilização política... é um cheiro de golpe". 

De acordo com o coronel o agora ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e o ex-comandante do Exército Edson Leal Pujol, demitidos do governo, "proporcionaram um aumento da velocidade da politização do Exército".

O militar disse, ainda, que "Bolsonaro não é mais alvo de mera oposição política, e sim de uma oposição ética, de natureza humanitária". 


O coronel destacou que o governo Temer deu início à aceleração da politização das Forças Armadas. "Tinha começado no governo Temer e se acentuou quando generais da ativa passaram a exercer cargos políticos no governo", disse. 

Na entrevista, Jorge de Souza também criticou encontros entre Michel Temer, o general Eduardo Villas Bôas e o general Sérgio Etchegoyen, que depois foi ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do emedebista.

"Encontros entre Sérgio Etchegoyen, Villas Bôas e Temer sem conhecimento de Dilma para tratar de temas políticos é inadmissível", afirmou o coronel da reserva.

Sistema de inteligência

O coronel ainda teceu críticas sobre a militarização do sistema de inteligência. "A direção do sistema de inteligência brasileiro, o órgão central é a Abin. A ela estão vinculados todos os demais órgãos de inteligência brasileiros. Mas quando militares passam a integrar o órgão central do sistema de inteligência nacional, que é civil, é mais uma caracterização da militarização do estado, da política", disse. 

Segundo o coronel, o sistema de inteligência brasileiro "está de acordo com os ditames democráticos. Não se pode confundir o sistema inteligência do Exército com aquilo que foi o sistema de inteligência na ditadura". 

"O DOI-CODI... ao mesmo tempo em que eles coletavam informação, usavam os dados para repressão. O sistema de inteligência atual não funciona assim. Ele simplesmente assessora o comandante em suas tomadas de decisões. Fiquem tranquilos quando ao uso do sistema de inteligência pelo Exército, mas não fiquem tranquilos com a militarização do sistema de inteligência nacional", acrescentou. 

Ministério da Saúde 

Em sua análise, o coronel criticou o general Eduardo Pazuello e lembrou que o ex-ministro da Saúde chegou a reconhecer, enquanto estava no cargo, a falta de conhecimento sobre o Sistema Único de Saúde (SUS)

"Não é que o general Pazuelo estivesse errado quando disse que 'um manda e o outro obedece'. Ele estava errado porque ali ele estava executando a política nacional de saúde. E perigoso que militares passem a exercer cargos políticos porque não têm satisfações a dar ao eleitor" disse Jorge de Souza. 

"Inapto. Autodeclarando que não sabia nem o que era o SUS... essa mancha ficará nas Forças Armadas, corroendo nossa imagem", complementou.

'Em 1964 houve um golpe'

O coronel refutou os argumentos de vários militares de que em 1964 aconteceu o início uma contrarrevolução no Brasil. 

"Foi golpe. Fico triste que meus companheiros continuem firmando essa visão de contrarrevolução, mas a culpa não é deles. Sempre é do general, da liderança", disse. "Já passou da hora de fazermos uma autocrítica".

Novo ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto publicou na terça-feira (30) seu primeiro comunicado desde que assumiu o cargo, a "Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964",  nela, defendeu a "celebração" do golpe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário