Um levantamento feito pela agência de análise de dados Novelo mostrou que notórios espalhadores de mentiras não apenas continuam no ar, mas também são remunerados pelo Google. No último ano, o YouTube apagou 47 vídeos de canais de extrema direita no Brasil, afetando 27 canais. Só um canal saiu do ar – e 21 continuam monetizados. Reportagem do Intercept Brasil
Paulo Victor Ribeiro, Intercept Brasil - HÁ ALGUMAS SEMANAS, o YouTube publicou um texto sobre seus esforços mundiais pela educação sobre as vacinas de covid-19. Assinada pelo diretor de parcerias em saúde da plataforma do Google, Garth Graham, a nota diz que está comprometida a “ajudar a fazer a ciência das vacinas de covid-19 ser mais fácil de entender e mais acessível”. Seria um grande avanço na guerra contra a desinformação, caso o Google não fechasse os olhos para a produção incessante de conteúdos que vão contra o seu posicionamento.
Embora a rede social tenha anunciado uma política contra desinformação relacionada à pandemia, um levantamento feito pela agência de análise de dados Novelo a pedido do Intercept mostrou que notórios espalhadores de mentiras não apenas continuam no ar, mas também são remunerados pelo Google. No total, no último ano, o YouTube apagou 47 vídeos de canais de extrema direita no Brasil, afetando 27 canais. Desses, só um canal saiu do ar – e 21 continuam monetizados.
O levantamento escancara a estratégia: para não perder a audiência e o faturamento, eles criam canais alternativos e apagam ou escondem vídeos polêmicos – depois de já terem conseguido audiência, claro. Assim, driblam com facilidade as penalidades que o Google criou para tentar diminuir a desinformação.
No período analisado, o único canal derrubado definitivamente foi o da ativista de extrema direita Sara Giromini, mais conhecida como Sara Winter, que perdeu seus quase 300 mil inscritos (mas já está de volta à plataforma em um canal de menor alcance). O levantamento compreende os 100 maiores canais de extrema direita no YouTube do Brasil em número de assinantes.
Com exceção de alguns poucos atacando personalidades públicas como Felipe Neto, a maioria dos conteúdos suprimidos envolvia a pandemia. Eram mentiras sobre vacinas, isolamento social, uso de máscaras, realização de testes de covid-19 e tratamento precoce, além de teorias da conspiração e acusações contra a China.
Na berlinda, mas ganhando dinheiro
Há mais de um ano, o YouTube adaptou seus requisitos de monetização, sistema que permite anúncios pagos aos criadores, para vídeos que falem sobre a covid-19 e outros temas sensíveis. A empresa definiu que os canais deveriam usar fontes confiáveis, como a Organização Mundial da Saúde, e não poderiam usar a pandemia para oferecer ou promover produtos e serviços.
Vídeos problemáticos poderiam ser sumariamente removidos pelo Google, e canais que tiverem três strikes, como são chamados os avisos de violação das regras, poderem ser definitivamente removidos da plataforma.
Mas, na prática, não é assim que acontece. Juntos, os 21 canais que tiveram vídeos deletados pelo YouTube e continuam com seu conteúdo monetizado entregam vídeos para mais de 13,9 milhões de inscritos. As arrecadações acompanham a casa dos milhões. Em uma estimativa feita pela plataforma Social Blade, os pagamentos mensais do Google aos canais podem ultrapassar 300 mil dólares – mais de R$ 1,7 milhões.
Além disso, pelo menos três canais de extrema direita que tiveram três ou mais conteúdos deletados pela plataforma seguem no ar – Alessandro Loiola, José Marcio Opinião e Os Pingos Nos Is, programa da rádio Jovem Pan.
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