segunda-feira, 19 de abril de 2021

Canais de extrema-direita burlam punições do YouTube e continuam ganhando dinheiro com promoção do ódio

 Um levantamento feito pela agência de análise de dados Novelo mostrou que notórios espalhadores de mentiras não apenas continuam no ar, mas também são remunerados pelo Google. No último ano, o YouTube apagou 47 vídeos de canais de extrema direita no Brasil, afetando 27 canais. Só um canal saiu do ar – e 21 continuam monetizados. Reportagem do Intercept Brasil

Extrema-direita tenta driblar regras do Youtube (Foto: Reprodução)

Paulo Victor Ribeiro, Intercept Brasil - HÁ ALGUMAS SEMANAS, o YouTube publicou um texto sobre seus esforços mundiais pela educação sobre as vacinas de covid-19. Assinada pelo diretor de parcerias em saúde da plataforma do Google, Garth Graham, a nota diz que está comprometida a “ajudar a fazer a ciência das vacinas de covid-19 ser mais fácil de entender e mais acessível”. Seria um grande avanço na guerra contra a desinformação, caso o Google não fechasse os olhos para a produção incessante de conteúdos que vão contra o seu posicionamento.

Embora a rede social tenha anunciado uma política contra desinformação relacionada à pandemia, um levantamento feito pela agência de análise de dados Novelo a pedido do Intercept mostrou que notórios espalhadores de mentiras não apenas continuam no ar, mas também são remunerados pelo Google. No total, no último ano, o YouTube apagou 47 vídeos de canais de extrema direita no Brasil, afetando 27 canais. Desses, só um canal saiu do ar – e 21 continuam monetizados.


O levantamento escancara a estratégia: para não perder a audiência e o faturamento, eles criam canais alternativos e apagam ou escondem vídeos polêmicos – depois de já terem conseguido audiência, claro. Assim, driblam com facilidade as penalidades que o Google criou para tentar diminuir a desinformação.

No período analisado, o único canal derrubado definitivamente foi o da ativista de extrema direita Sara Giromini, mais conhecida como Sara Winter, que perdeu seus quase 300 mil inscritos (mas já está de volta à plataforma em um canal de menor alcance). O levantamento compreende os 100 maiores canais de extrema direita no YouTube do Brasil em número de assinantes.

Com exceção de alguns poucos atacando personalidades públicas como Felipe Neto, a maioria dos conteúdos suprimidos envolvia a pandemia. Eram mentiras sobre vacinas, isolamento social, uso de máscaras, realização de testes de covid-19 e tratamento precoce, além de teorias da conspiração e acusações contra a China.

Na berlinda, mas ganhando dinheiro

Há mais de um ano, o YouTube adaptou seus requisitos de monetização, sistema que permite anúncios pagos aos criadores, para vídeos que falem sobre a covid-19 e outros temas sensíveis. A empresa definiu que os canais deveriam usar fontes confiáveis, como a Organização Mundial da Saúde, e não poderiam usar a pandemia para oferecer ou promover produtos e serviços.

Vídeos problemáticos poderiam ser sumariamente removidos pelo Google, e canais que tiverem três strikes, como são chamados os avisos de violação das regras, poderem ser definitivamente removidos da plataforma.

Mas, na prática, não é assim que acontece. Juntos, os 21 canais que tiveram vídeos deletados pelo YouTube e continuam com seu conteúdo monetizado entregam vídeos para mais de 13,9 milhões de inscritos. As arrecadações acompanham a casa dos milhões. Em uma estimativa feita pela plataforma Social Blade, os pagamentos mensais do Google aos canais podem ultrapassar 300 mil dólares – mais de R$ 1,7 milhões.

Além disso, pelo menos três canais de extrema direita que tiveram três ou mais conteúdos deletados pela plataforma seguem no ar – Alessandro Loiola, José Marcio Opinião e Os Pingos Nos Is, programa da rádio Jovem Pan.

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