Reportagem
do jornal francês destaca que as razões do retrocesso estão ligadas linha
ultraliberal da política econômica , a aliança de Jair Bolsonaro às ricas
famílias do agronegócio do Nordeste , além de uma espécie de punição à Região,
"que vota tradicionalmente entre 80% e 90% para a esquerda
brasileira".
RFI - O jornal Le Monde desta segunda-feira (22) traz uma reportagem
especial de seu correspondente no Brasil, Bruno Meyerfeld, que visitou o
interior do estado do Pernambuco. Moradores ouvidos pelo diário afirmam que,
com os cortes das ajudas sociais pelo governo de Bolsonaro, a miséria voltou a
se instalar no Sertão nordestino.
A matéria do Le
Monde destaca que nessa região do nordeste onde vivem 25
milhões de brasileiros, acreditou-se durante muito tempo era possível sair da
pobreza. Mas a atual crise econômica da qual o Brasil é palco cria desilusões e
castiga a terra de onde é natural o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
O
repórter Bruno Meyerfeld visitou a casa de moradores da comunidade de
Quixabeira Helena, fundada por descendentes de escravos, onde "todos vivem
abaixo da linha da pobreza e a grande maioria é analfabeta". Nos últimos
tempos, a situação piorou, afirma o jornal.
Em entrevista ao Le Monde, uma moradora do local, Jasinta
Helena Gomes da Silva, de 73 anos, conta que há oito meses não recebe sua
aposentadoria. Ela divide a casa com a a filha, de 31 anos, e dois netos. Com
os cortes no Bolsa Família e outras ajudas sociais, viver durante a epidemia de
Covid-19 ficou ainda mais complicado: falta até mesmo comida para as
crianças.
Le Monde salienta que a história de
Jasinta não é exceção: "todo o Sertão nordestino sofre com essa angústia",
acentuada pela crise sanitária e a política do presidente brasileiro, Jair
Bolsonaro. Para o diário, o cenário é diferente dos anos em que Lula governou o
país.
"Bombardeio"
de programas sociais
Entre
2003 e 2011, o líder petista encarnou uma grande batalha contra a miséria,
"bombardeando o Sertão com programas sociais", como o Bolsa Família,
Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Luz Para Todos, entre outros. A reportagem
reitera que, naqueles tempos de crescimento econômico do Brasil, o PT abriu linhas
de crédito, construiu um milhão de cisternas, financiou bolsas de estudos de
jovens, subvencionou o preço dos medicamentos na farmácias e garantiu a
aposentadoria de agricultores. "Em dez anos, a pobreza caiu pela
metade", destaca Le Monde.
No entanto, com a
crise econômica em 2014, durante o segundo mandato de Dilma Rousseff, a região
recomeçou a ser castigada. Quando Temer assumiu, depois que a ex-presidente foi
destituída, os investimentos caíram vertiginosamente. "Mas a eleição de
Bolsonaro foi pior do que tudo: o governo esqueceu totalmente essa
região", explica a Le Monde Cicero
Felix dos Santos, coordenador do Instituto Regional da Pequena Agropecuária
Apropriada (Irpaa).
A
matéria diz que as razões deste retrocesso são múltiplas, começando pela linha
ultraliberal, hostil aos programas sociais do ministro da Economia Paulo
Guedes. Mas, além disso, Bolsonaro prefere se aliar às ricas famílias do
agronegócio do nordeste, influentes em Brasília e contra os pequenos
agricultores. A reportagem cogita também uma última possibilidade: "punir
uma região que vota tradicionalmente entre 80% e 90% para a esquerda
brasileira".
Bolsonaro
x Lula
No
entanto, Le Monde publica que,
nos últimos tempos, Bolsonaro tenta correr atrás do prejuízo para conquistar o
eleitorado da região, multiplicando viagens ao nordeste, inaugurando trechos da
transposição do Rio São Francisco, prometendo água potável à população, posando
para câmeras com chapéu de vaqueiro.
A reportagem
afirma que o presidente até conseguiu ganhar alguns pontos de popularidade na
região devido à ajuda emergencial que concedeu durante a crise sanitária, mas,
ao ouvir moradores da região, o correspondente do Monde no
Brasil conclui que o "sertão deve continuar fiel a Lula", caso seja
candidato em 2022.
Para
muitos habitantes locais, como Maria Ribeiro, ouvida pelo jornalista,
"Bolsonaro quer a morte dos nordestinos". Outros, como Miguel, se
dizem extremamente decepcionados com os políticos. "Nunca mais votarei.
Salvo se Lula for candidato", promete.
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