Jurista
disse que eleição de 2018 foi ilegítima pois Lula foi impedido de participar
por algo que agora é considerado ilegal
Opera Mundi - Nesta segunda-feira (08/03), em uma edição
extraordinária do programa 20 MINUTOS, após a decisão do ministro do Supremo Tribunal
Federal Edson Fachin que anulou as sentenças da 13a Vara Federal de Curitiba contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e restituiu os direitos eleitorais do
petista, o jornalista Breno Altman entrevistou o jurista e professor de Direito
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) Pedro Serrano.
ara Serrano, o que
realmente se conquistou com o fato foi considerar, por primeira vez, que o
julgamento, a prisão e a interdição do ex-presidente foram atos políticos.
Assista à entrevista na íntegra:
“Fachin reconheceu que Lula foi preso ilegalmente,
confirmando que a prisão era política, não jurídica. Portanto a eleição de 2018
não foi legítima porque um dos candidatos foi impedido de participar por algo
que agora é considerado ilegal. Então, nesse ponto, eu comemoro que um ser
humano está sendo liberado de algo feito contra ele. Mas protesto porque
ninguém vai repor um ano do Lula na cadeia, ninguém vai repor as eleições de
2018, ninguém vai repor as vidas perdidas pelo governo escolhido por essa gente”,
disse.
O jurista, no
entanto, apontou para o fato de que podem estar montando uma armadilha contra
Lula, pois a decisão do ministro não é definitiva. "Pode comemorar, mas
com cautela”, disse. A Procuradoria Geral da República inclusive já avisou que irá
recorrer.
O
recurso não terá data para ser julgado. Serrano explicou que o STF poderia
esperar até as vésperas da inscrição de candidatos para as eleições de 2022
para julgar o recurso e acatá-lo, desfazendo a decisão de Fachin, o que
voltaria a tornar Lula inelegível.
“É
muito estranho o Fachin vir com essa decisão, principalmente quando nós
juristas levamos anos dizendo isso e quando estava muito próximo o julgamento
do habeas corpus do
ex-presidente, em que a segunda turma do STF ia debater a nulidade dos
processos por parcialidade do juiz Sergio Moro. O que, aí sim, teria caráter
definitivo e cujo impacto seria muito maior”, defendeu.
Se Moro for
considerado parcial no julgamento de Lula, todas as provas do processo seriam
anuladas pois foi o juiz quem as coletou. Com a decisão de Edson Fachin, que o
considera apenas incompetente, as provas ainda podem ser aproveitadas. Por
isso, Serrando acredita ser importante lutar para que se leve adiante o debate
do habeas corpus.
'É
necessário reestabelecer a dignidade do sistema jurídico'
Serrano
disse que espera que a Segunda Turma não suspenda o julgamento do habeas corpus até que seja julgado o
recurso da Procuradoria Geral, com o intuito de promover a liberdade plena de
Lula.
“No
plano público, devemos estimular para que haja esse julgamento. É necessário
reestabelecer a dignidade do nosso sistema jurídico, virou uma palhaçada:
poucos dias antes de se julgar o habeas
corpus da parcialidade decide-se considerar o juiz do caso
incompetente? Espero que questionem a sinceridade da decisão do Fachin, que
sempre apoiou a Lava Jato”, ponderou.
O jurista acredita
que o ministro atuou para proteger Sergio Moro e os demais procuradores da
operação, que poderiam ser punidos por suas ações, uma vez concluído que todo o
processo foi político e, portanto, ilícito.
“É uma
obra salvacionista da Lava Jato. Existem importantes setores da sociedade
brasileira que participaram dessa operação e que agora estão procurando uma
justificativa para o que fizeram”, ressaltou.
'Tem
muita gente querendo se isentar dessa narrativa'
Para
Serrano, está ficando cada vez mais difícil sustentar a legitimidade da Lava
Jato, que se mostrou uma operação de perseguição política. Por isso, “tem muita
gente querendo se isentar dessa narrativa”.
O
principal é Sergio Moro que, segundo Serrano, não atuou como juiz. “Um juiz é
um garantidor de direitos. Moro foi um agente político, militante da extrema
direita. Ele nunca usou a lei e a Constituição para fazer justiça. Ele as
utilizou para fazer o que queria. E ainda foi recompensado tornando-se Ministro
da Justiça”, afirmou.
O
jurista ainda defendeu as gravações divulgadas na Vaza Jato, obtidas por
hackers, como informações que poderiam ser utilizadas como provas contra os
protagonistas da operação. Para ele não são provas ilícitas graças ao conceito
de direito de defesa de terceiros.
“Um dos hackers
disse que o fez por achar que estavam perseguindo Lula. Isso levanta o direito
de defesa de terceiros. Ou seja, uma conduta que em princípio é crime, deixa de
ser crime. Se eu, em teoria, posso até matar alguém em legítima defesa de
terceiros, quanto mais hackear”, ponderou. Para ele, o argumento ganha força a
partir do momento atual, quando se considera a prisão do ex-presidente como
política.
O
segundo argumento dado por Serrano foi, na verdade, um questionamento. Ele se
perguntou se agente públicos deveriam ter o mesmo direito de preservação da
intimidade que o resto dos cidadãos, pois, neste caso específico, as conversas
vazadas foram feitas "por telefones públicos, por agentes públicos, sobre
processos públicos para perseguir pessoas".
“Não
falo dos celulares pessoais nem nada, falo dos telefones profissionais. Não
acho que nesse caso eles deviam ter o mesmo direito de proteção à intimidade
quanto eu ou você”, concluiu.
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