Jornalista
disse considerar ‘inadmissível’ votar em Jair Bolsonaro e explica sua
condenação a Lava Jato. "Com dados da época, não consegui ser contra, mas
se hoje você me pergunta se foi um erro, digo que foi". Assista
Por Camila Alvarenga, do Opera
Mundi - Em entrevista a Breno Altman, durante o programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (26/02), o jornalista e
apresentador do 'O É da Coisa', da BandNews FM, Reinaldo Azevedo, afirmou que o impeachment da
então presidente Dilma Rousseff foi um erro e que a interdição eleitoral de
Lula compromete a democracia brasileira.
"Com dados da
época, não consegui ser contra, mas se hoje você me pergunta se foi um erro,
digo que foi", afirmou. Na época, no entanto, o jornalista apoiou o golpe
contra a então presidente. “A posterior é fácil ver o ovo da serpente. Naquela época
a gente tinha como referência o impeachment do Collor, que foi bom pro país”,
disse.
Hoje,
Azevedo avalia o impeachment como sendo consequência do poder e autonomia que
obteve a Polícia Federal com a Operação Lava-Jato, “uma entidade disposta a
governar a sociedade que atuava o tempo todo para desestabilizar o governo”,
contando, ainda, com o apoio do Poder Judiciário e o enfraquecimento político
da então mandatária.
“O PT foi
perseguido porque era o eixo que estava no poder, mas a Lava-Jato na verdade é
uma ação muito mais nefasta, é uma ação contra a política. É o partido da
polícia, que não foi votado por ninguém e segue sua agenda. Isso nos levou a
Bolsonaro, porque levou à destruição do ambiente político. Acho que todos nós,
independentemente de vieses ideológicos, tínhamos que ter repudiado isso como
princípio”, defendeu.
Azevedo
contra 'recall' presidencial
Azevedo
não acredita, entretanto, que o ideal seja eliminar o mecanismo de impeachment
e instaurar um “recall” presidencial, um procedimento no qual os cidadãos podem
encerrar o mandato de um presidente mediante um plebiscito, por exemplo.
“Se
você tem um processo para substituir o presidente, ele ficaria impedido de
tomar decisões impopulares, ainda que eficientes. Você tem uma população sempre
mobilizada de forma apaixonada ao redor do que acha correto na hora, o que é
compreensível, mas há aspectos perigosos. Quando as pessoas acham que algo é
bom, elas não questionam os meios para obtê-lo. Por isso acredito na
representação e no regime parlamentarista, sem a figura do presidente, porque
aí você tem parlamentares eleitos que entendem as necessidades das pessoas, mas
que pensam no conjunto da sociedade para fazer boas escolhas”, argumentou.
Sérgio Moro e o
sistema judiciário
Para o
jornalista, a “simpatia” que o sistema judiciário, incluindo o Supremo Tribunal
Federal, tinha em relação à Operação Lava-Jato foi crucial para a perseguição
ao PT e, finalmente, para a prisão e interdição de Lula.
“Era um
Supremo com ministros majoritariamente indicados pelo PT e até eles eram
favoráveis à operação quando ainda não se conheciam os detalhes”, afirmou.
Segundo ele, a atuação do juiz Sérgio Moro contribuiu para que a Lava-Jato
ganhasse essa simpatia, principalmente quando o então magistrado vazou a
chamada telefônica de Dilma.
“Ele
manipulou aquilo. Não a gravação, mas divulgou uma conversa selecionada, que
estava num conjunto de outras conversas, que acabou distorcendo o sentido do
que foi dito. Ainda que não tenha sido usado como prova, dava a entender que a
nomeação de Lula como ministro tinha o objetivo de livrá-lo de alguma ação da Polícia
Federal. Então acho compreensível a posição de Gilmar Mendes [que colheu
petição impedindo a posse do ex-presidente como chefe da Casa Civil]”,
explicou.
A prisão de Lula,
portanto, para ele, era claramente política. “Fui o primeiro a ler a sentença
do Sérgio Moro contra o Lula e ver que não tinha provas ali. Eu poderia ter
ficado quieto, mas as coisas estavam seguindo um curso muito grave e precisavam
ser corrigidas”.
Anulação
da condenação de Lula
Hoje,
ele avalia que a interdição eleitoral do ex-presidente compromete a democracia
brasileira. Na entrevista, defendeu que a condenação deveria ser anulada e o
processo deveria retornar ao Ministério Público que, então, poderia decidir por
recomeçar ou não as investigações.
“Obviamente
Moro atuou também no caso do sítio de Atibaia, além do triplex do Guarujá. Quem
o condenou foi a juíza Gabriela Hardt, mas ela copiou a sentença totalmente do
Moro, se esquecendo até de trocar as palavras. É um absurdo que o TRF4 tenha
endossado essa condenação. Então é claro que isso compromete a qualidade da
nossa democracia”, defendeu.
O
jornalista também refletiu sobre o papel da imprensa durante a Lava-Jato e como
contribuiu para o fortalecimento de Moro. “Depois do Petrolão, não tivemos mais
jornalismo investigativo, tivemos jornalismo de vazamentos e
declarações”.
“Precisamos
nos dar conta de que não podemos publicar que o Ministério Público apresentou
uma denúncia e depois deu uma entrevista coletiva, ao lado dos delegados,
demonizando a pessoa investigada e destruindo sua reputação, para eventualmente
concluir que não havia nada. Muitos não sobrevivem politicamente a isso”,
ponderou.
‘Acho inadmissível
votar no Bolsonaro’
Para
Azevedo, todo esse cenário possibilitou a ascensão de Jair Bolsonaro, que se
aproveitou das redes sociais para se fazer ouvir, apresentando soluções
erradas, porém de simples compreensão, para problemas complexos. O jornalista é
taxativo em sua opinião sobre o atual presidente: “acho o que ele faz
abominável”.
“Achavam
que por eu ser de direita apoiaria Bolsonaro, mas eu sou um liberal e liberal o
Bolsonaro nunca foi. Aqueles que o apoiam dizendo ser liberais na verdade eram
e se revelaram reacionários. Já deixei muito claro que nunca votei, jamais
votaria e não votarei em Bolsonaro, independente de quem estiver do outro lado.
Acho inadmissível para qualquer um que tenha um compromisso com a democracia
e o futuro do Brasil”, declarou.
Para
ele, é pior alguém que corrompe aquilo que uma pessoa pensa, do que seu adversário
claro. “Com o PT eu consigo conversar, mesmo sem pensar igual. Com ele, não
poderia. Foi irresponsável achar que Bolsonaro conduziria o país a algum lugar
decente”.
Ele, no
entanto, não classificaria o governo como fascista, mas disse usar “sem receios”
a palavra “fascistóide”, pois os valores aos quais Bolsonaro estaria vinculado
se viram originalmente nos governos fascistas europeus.
‘Precisamos
devolver o país ao devido processo legal’
Azevedo
reforçou a importância de “devolver o país ao devido processo legal”, inclusive
permitindo a candidatura de Lula. Ele não acredita, contudo, na possibilidade
de uma aliança entre liberais e a esquerda para derrotar Bolsonaro.
“Antevejo
o PT no segundo turno com Bolsonaro, porque ele tem uma aprovação de 20% que
não vai abaixar, e não vejo no centro-direita uma liderança que possa disputar
a eleição com ele”, argumentou. Essa previsão, segundo ele, vem dos bons
resultados do PT na eleição de 2018. No entanto, ele não acredita que Lula seja
o candidato ideal para fazer frente a Bolsonaro.
“Acho
que Lula deveria ser um grande eleitor, como foi em 2018, preso. Livre, mais
ainda. Generosamente permitindo a renovação, facilitando o trânsito nas esferas
da elite política sem que ele perca voz junto à população. Acho que é hora de
passar adiante essa tarefa, seja com Haddad ou outro qualquer”, disse.
Fazendo
um balanço do cenário atual, tendo em conta o recente passado político e o que
espera para o futuro, Reinaldo Azevedo disse ter “aprendido muito” e que espera
que a esquerda tenha feito o mesmo. Ele reforçou a importância de o país
retomar os rumos democráticos por meio do diálogo e de alianças que permitam
reconstruir tudo aquilo que vem sendo destruído por Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário