"Sem
dúvida, podemos ter extrapolado muitas vezes. Eram (ou são) os nossos ‘nudes’,
uma área em que os pensamentos são externados livremente e sem censura entre
amigos", disse o procurador Orlando Martello (à direita) sobre as
mensagens que mostram o conluio de procuradores com Sérgio Moro
Conjur - O procurador regional Orlando Martello,
ex-integrante da autointitulada "força-tarefa da lava jato", enviou
um e-mail aos seus colegas de Ministério Público Federal desabafando sobre a
divulgação dos diálogos hackeados apreendidos na operação "spoofing". A informação é de Aguirre Talento, do jornal O
Globo.
No texto, ele diz
que o Telegram, local em que ocorreram as conversas, era uma "área livre,
uma área de descarrego em que expressamos emoção, indignação, protesto,
brincadeiras… muitas vezes infantis" e que, por isso, os procuradores
podem "ter extrapolado muitas vezes". Essa é a primeira vez que um
integrante da "lava jato" comenta o teor das mensagens admitindo a
autenticidade dos diálogos.
"Sinceramente,
não me recordo da grande maioria das mensagens… e digo isso com sinceridade
mesmo! Foram tantas mensagens, muitas em finais de semana, em dias festivos, de
madrugada [...] Mas não estou aqui para negar as mensagens, mas para dar
satisfação", afirma o e-mail.
Segundo o
procurador, os grupos de Telegram se assemelhavam a um "ambiente de
botequim". "Eram (ou são) os nossos 'nudes', uma área em que os
pensamentos são externados livremente e sem censura, entre amigos, alguns de
mais de décadas. Expostos a terceiros, causa vergonha."
"Quanto
a eventuais comentários que alguém possa se sentir ofendido ou entender
inapropriado, favor relevar, pois dito em ambiente que se assemelha ao de um
botequim, onde se fala em um monte de bobeiras", prossegue.
O
procurador disse, por fim, que ainda que as mensagens possam sugerir uma
atuação "inapropriada" por parte do MPF, a "lava jato"
sempre se pautou pela lealdade processual e tomou decisões baseadas na
razão.
"O que sempre
prevaleceu, e isso deve-se ao esforço coletivo, foi a razão e não a emoção. Do
ponto de vista jurídico, tudo o que era relevante foi para os processos, sem
qualquer omissão, fraude, seguindo a lealdade processual”. E lá (nos autos),
penso, que nossas atuações devem ser analisadas e contestadas; jamais nos pensamentos,
o que são externados livremente e sem censura entre amigos em uma rede informal
de comunicação."
Diálogos
Martello
é figura carimbada nos diálogos revelados pelo The Intercept e, mais
recentemente, levados pela defesa do ex-presidente Lula aos autos da Reclamação
43.007, que tramita no Supremo Tribunal Federal.
Em uma das
mensagens ele sugere, por exemplo, que áudios de Lula sejam vazados para a
imprensa se a escalada contra a "lava jato" continuasse a ganhar
força.
"Se
a escalada continuar, a solução é soltar os áudios, cf sugerido por CF
[provavelmente Carlos Fernando dos Santos Lima]. Aí jogamos problema no colo
deles, com algumas maldades (pq lula usa cel de terceiros!; proximidade de lula
e JW [Jaques Wagner, então ministro da Casa Civil], bem como JW responsável
pela nomeação do novo ministro; convocação de deputados; movimentos sociais,
etc."
Martello
incentivou que autoridades norte-americanos fizessem entrevistas com delatores
diretamente nos Estados Unidos, driblando as restrições brasileiras que colocam
o Ministério da Justiça como autoridade central de colaboração entre os dois
países.
Ele
também integra o grupo de oito procuradores que tentou barrar o acesso de Lula
às mensagens apreendidas na "spoofing". No pedido, ao contrário do
e-mail enviado aos colegas, os integrantes do MPF negaram a autenticidade dos
diálogos ao mesmo tempo em que afirmaram que estão tendo suas vidas
expostas.
A
solicitação dos procuradores, entre eles Deltan Dallagnol, foi negada pelo
Supremo.
Fonte: Brasil 247
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