Investigações
contra os filhos do ex-presidente Lula não foram resultado de crimes, mas do
desejo que os procuradores tinham de atingir o líder do PT
Conjur - Novas mensagens entre procuradores da
República de Curitiba mostram que o consórcio de Curitiba mirava os filhos de
ministros que atuavam como advogados como estratégia para emparedar magistrados
responsáveis por julgar recursos da "lava jato".
Os diálogos,
apreendidos na chamada "operação spoofing", foram enviados pela
defesa do ex-presidente Lula ao ministro Ricardo Lewandowski nesta
segunda-feira (22/2).
Em
conversa de agosto de 2016, os procuradores se mostravam descontentes com as
provas colhidas contra Lula no caso do tríplex do Guarujá. O petista seria
condenado pelo então juiz Sergio Moro cerca de um ano depois.
A ConJur manteve
abreviações e eventuais erros de digitação e ortografia presentes nas
mensagens.
"O
STJ está se fechando com a história de que vamos buscar os filhos dos ministros
que advogam [...] Não vamos pegar Lula se nos limitarmos ao sítio e ao triplex.
Precisamos buscar novas linhas, os filhos podem ser o caminho. A JBS é um elo
importante. Cresceu um absurdo no gov lula", afirmou um procurador não
identificado. Nas conversas hackeadas, o nome do responsável por criar o chat é
suprimido.
O
integrante do MPF prossegue dizendo que o maior risco envolvendo a tentativa de
investigar filhos de ministros do STJ é o de a atuação ser considerada nula
pelo Supremo Tribunal Federal. Ainda sim, afirma, "penso que está na hora
de fazermos um planejamento p q já já todos estarão fartos da LJ ["lava
jato"]".
Deltan Dallagnol,
então coordenador da "força-tarefa" em Curitiba, diz que não concorda
com a possibilidade de nulidade no STF. "Só há chance de nulidade se
perdermos opinião púbica. Se perdermos esta, perdemos o caso. Mas se tivermos
ela, salvamos o caso. Mantendo a opinião pública, é claro que é convenientes
manter o STF por uma série de improtantes razões."
Carolina
Rezende, da PGR, que integrava a equipe do então procurador-geral da República
Rodrigo Janot, entra na conversa. "Deltan, p termos certeza a teremos a
opinião pública sempre conosco, precisamos assumir posição na briga política do
país. Sem isso, tenderemos a desagradar cada vez mais. Pq sem lado, num momento
como oq vivemos, todos desconfiam."
Dallagnol
volta a discordar. "Acho que não Carol. Se batermos em todos, com alguma
estratégia, creio que mantemos. Aumentamos o número de inimigos fortes, mas
isso vai acontecer de qq modo", afirmou.
Carolina já está
se tornando figura carimbada nos novos diálogos. Conforme mostrou a ConJur em
12 de fevereiro, foi ela quem disse que a prioridade da "lava jato"
deveria ser a de "atingir Lula na cabeça".
Rio de Janeiro
A
técnica de intimidar magistrados não se restringia às cortes superiores. Em
conversa de 5 de julho de 2016 os procuradores disseram que conseguiram
emparedar o então relator da "lava jato" no Tribunal Regional Federal
da 2ª Região. O desembargador foi substituído por outro "super favorável”
aos integrantes do MPF. Na ocasião, os lavajatistas queriam que o Rio
compartilhasse quebras de sigilo com Curitiba.
"Athié
se declarou suspeito na Saqueador! Conseguimos emparedar o sujeito!”"
disse Lauro Coelho. Roberson Pozzobon comemorou: “Tooooop total! E a decisão
dele? Conseguem reverte-la com essa causa?".
Desencadeada
em 30 de junho de 2016, a operação "saqueador" investigou lavagem de
dinheiro no valor de R$ 370 milhões. Na ocasião foram presos Carlinhos
Cachoeira, Cláudio Abreu, Adir Assar e Marcelo José Abudd. Athié, citado na
conversa, é o desembargador federal Antonio Ivan Athié.
"A
'lava jato' apostava que a nulidade dos seus atos não seria reconhecida,
inclusive pelo STF, como de rigor, em virtude da manipulação da 'opinião
pública', pela técnica do 'emparedamento'. Aliás, a técnica do 'emparedamento —
ou da tentativa de constrangimento ilegal — foi admitida nas conversas da
'lava jato' que foram analisadas não apenas em relação aos Tribunais
Superiores, mas também em relação a outros tribunais", afirmou a defesa de
Lula na peça enviada a Lewandowski.
A defesa de Lula é feita por Cristiano
Zanin, Valeska Martins, Maria de Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo.
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