O
ministro da Economia, Paulo Guedes, revelou na quarta-feira (10) suas
reticências quanto à prorrogação do auxílio emergencial. Para a economista
Maria Beatriz Albuquerque, ouvida pela Sputnik Brasil, há muitos jeitos de
controlar gastos públicos, mas não há como fugir da política de redistribuição
de renda
Sputnik - Em resposta ao ministro da Economia, Paulo Guedes,
que expôs reticências quanto à prorrogação do auxílio emergencial, a
economista Maria Beatriz Albuquerque disse que mas não há como fugir da
política de redistribuição de renda.
Desde que foi
alçado ao posto de "superministro" da Economia, Paulo Guedes, o posto
Ipiranga do presidente da República, fez uma série de promessas aos
investidores, banqueiros e empresários brasileiros e estrangeiros. Entre elas,
a redução da dívida pública do país.
No ano
passado, quando o Brasil foi atingido pela COVID-19, ele reconheceu a
inevitabilidade das consequências de uma pandemia mundial para o país. O
resultado foi que a Dívida Pública Federal fechou 2020 em R$ 5,01 trilhões,
17,9% maior do que no ano passado.
Na quarta-feira,
em meio ao debate sobre a prorrogação do auxílio emergencial, Paulo Guedes
disse que os gastos com o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus não
podem ser empurrados para as gerações futuras. Ele defendeu que as discussões
sobre a retomada do auxílio emergencial sejam acompanhadas da responsabilidade
fiscal, com a busca de uma fonte de recursos para financiar a recriação do
benefício.
Para a
economista da UERJ, a professora Maria Beatriz Albuquerque, ouvida com
exclusividade por esta reportagem, não há jeito de fugir do auxílio
emergencial. "Todos os países estão fazendo enquanto a pandemia durar. E o
Brasil tem tentado fugir disso, ou quando o faz, faz de maneira
desorganizada".
A volta do auxílio emergencial
Ela criticou a
política de redistribuição de renda do governo Bolsonaro no ano passado, porém,
reconheceu a importância da medida.
"O
último auxílio muita gente não precisava, e recebeu. Houve fraude, todos esses
problemas. Mas ele incentivou, muito mais do que qualquer outra medida, a
retomada da economia. Quando ele acabou, o varejo, principalmente dos
supermercados, caiu muitíssimo", afirmou.
"A
pandemia tem um impacto claro sobre os mais pobres. Então o mundo inteiro está
fazendo isso, e o Brasil não tem como fugir disso. Agora, você pode cortar
gastos supérfluos. Temos um monte de gastos supérfluos que podem ser enxugados
no orçamento", sentenciou.
Ainda abordando a
questão dos gastos públicos, a economista disse que:
"Agora,
gastos de saúde, e gastos com questões sociais no momento da pandemia, são
insustentáveis. E dizer que as gerações futuras não podem pagar, ora, toda
dívida pública será paga pelas gerações atuais e futuras".
Em
seguida, ela emendou seu argumento com uma pergunta retórica. "O que estão
fazendo os outros países? Eles estão renegociando a dívida. A Europa está
fazendo isso. Outros países estão fazendo igual. E os EUA acabam de lançar um
grande programa de incentivo à economia e de combate às causas da
pandemia".
O orçamento de Paulo Guedes
Até
onde se sabe, o auxílio pode ser prorrogado por um tempo entre três e quatro
meses. Conforme o ministro Paulo Guedes disse ontem (10), o dinheiro para
bancar uma nova rodada virá do próprio Orçamento deste ano, em vez de ser
financiado pelo aumento da dívida pública.
Confrontada
com esta declaração, a economista entende que "o ministro Guedes, desde a
primeira vez, tentou fugir da ideia que estamos vivendo uma crise".
Segundo
ela, "claro que temos uma situação fiscal complicadíssima e é muito difícil
que os parlamentares abram mão das emendas parlamentares, que os governos abram
mão dos cargos comissionados, ou dos gastos em coisas supérfluas, como
determinaram as compras presidenciais, que demonstram que há gastos que podem
ser evitados. Quer dizer, há muitos jeitos de controlar gastos públicos",
sentenciou.
CPMF para bancar o
auxílio?
Paulo
Guedes sempre se revelou contrário à ideia da volta de uma possível CPMF. Maria
Beatriz partilha deste sentimento, e fez ressalvas quanto à possível volta deste
imposto.
"É
imprescindível que se continue fazendo política ativa durante a pandemia. O
grande problema é dizer que não vai aumentar impostos, e ao mesmo tempo dizer
que vai fazer auxílio. Botar a CPMF, ela tem impacto sobre os investidores
também, porque aumenta o custo dos investimentos, então não é um imposto
neutro. Vai impactar as decisões de investimento", afirmou.
Questionada
sobre uma possível segunda solução, ela disse que "o melhor é procurar
fontes de financiamento que tenham menos impactos redistributivos negativos e
que também não desestimulem os investimentos", afirmou.
Ela
entende que não é uma tarefa simples, "mas essa coisa de dizer que as
gerações futuras não podem pagar, todos nós vamos pagar. Isso é correr do
problema".
A
economista ainda apontou outra variante desta equação. "Outro fato mais
importante ainda é que já estamos na metade de fevereiro e não há orçamento.
Sem orçamento, como fazer as despesas dos próximos meses? Então a gente tem um
problema do déficit de gastos, e a pandemia está longe de estar controlada. Os
problemas do ano passado continuam existindo", alertou.
O auxílio e a
Covid-19
Maria
Beatriz criticou o modo como o ministro da economia vem abordando a questão da
prorrogação do auxílio emergencial. "Tem que ter seriedade para enfrentar
os problemas não com discursos vazios, mas com eficácia e preservando a
situação social e econômica, e principalmente de saúde".
"O
Brasil é um dos países mais atrasados em disponibilidade de vacinas. Isso é o
principal freio para o andamento da nossa economia. Não adianta dizer que vai
gerar emprego, que vai vir investimento, que basta dar autonomia ao Banco
Central, isso são alguns indicativos quando você está bem, e não é o nosso
caso", ela disse.
"Falta
fazer muita coisa para se ter uma retomada da economia. Esse negócio de
retomada em V é uma intenção, uma vontade, uma esperança, mas nada disso está
ocorrendo de fato", concluiu.
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